quarta-feira, 23 de julho de 2014

Israel ataca a defesa do Hamas


Trinta e dois militares israelenses já morreram em seis dias de invasão terrestre

Moradores correm em busca de refúgio na Faixa de Gaza. / Hatem Ali (AFP) / HATEM ALI (AFP)
dureza da recente batalha entre os milicianos do Hamas e o Exército israelense era bem visível na quarta-feira nas aldeias de Gaza próximas à fronteira com Israel. Os tanques se retiraram para leste após a ofensiva noturna e dezenas de moradores da aldeia de Zanna aproveitaram para fugir na direção oposta, rumo à cidade de Khan Yunis. Camponeses como Ibrahim Abu Samtan levavam comida e objetos de suas granjas. Alguns moradores eram seguidos por suas cabras. Um homem com cara de pânico se afastava da aldeia com uma ovelha nos braços. De repente, esse êxodo rural foi reforçado por um grupo de jovens, desarmados e à paisana. Um deles levava um walkie-talkie, e outro, uma bateria elétrica. Deixavam para trás as casas arruinadas da aldeia e um reboque blindado com inscrições em hebraico, muito danificado, abandonado pelos israelenses em sua retirada noturna. Os tanques atiravam a uns 700 metros.
O Exército israelense registrou duas baixas na zona durante as horas anteriores. Do lado palestino falava-se em sete milicianos caídos. Israel avançou sobre as localidades orientais de Khan Younis à procura de armas palestinas e lançadores de foguetes. Os moradores negam ter visto lançamentos de foguetes contra o território israelense, mas a presença de milicianos na área é óbvia. As Forças Armadas de Israel disseram ter sido atacadas com granadas antitanque atiradas de uma mesquita em Khan Younis. Um sargento morreu.
Também morreram três paraquedistas enquanto procuravam as entradas dos túneis que o Hamas usa para se infiltrar atrás das linhas inimigas e atingir os soldados israelenses pela retaguarda. Em seis dias de invasão terrestre, Israel perdeu 32 soldados, uma quantidade enorme em relação à invasão de 2008, quando houve 10 baixas em três semanas. Quatro foram vítimas de fogo amigo. O número de palestinos mortos desde o início da atual operação israelense contra Gaza, em 8 de julho, passava de 655 na quarta-feira. Mais de 75% eram civis, segundo estimativas da ONU. Dentre os palestinos mortos em Gaza, 20% são crianças.
O coveiro do cemitério em Khan, Younis Mahmoud Naga, acredita que os tanques israelenses se retiraram de Zanna porque tinham cumprido a sua missão. A cidade vizinha de Khuzaa, no entanto, continuava ocupada pelo Exército no final da tarde. De acordo com um morador chamado Mohamed Najar, 4.000 pessoas tentaram uma fuga em massa do povoado, mas foram “impedidas pelos tiros dos tanques”.
O ministro da Defesa de Israel, Moshe Yaalon, anunciou nesta quarta-feira uma possível nova fase na escalada bélica de Gaza. À tarde, o Hamas continuava disparando foguetes contra Israel. Nem os milhares de bombas israelenses nem as arriscadas operações terrestres conseguiram parar o lançamento de foguetes ou a sangria entre as fileiras israelenses. Entre as 32 baixas de Israel há um número expressivo de oficiais e sub-oficiais. Mais de 40 soldados estão hospitalizados com ferimentos de gravidade variada.
Diante desse panorama sangrento, um analista do jornal israelenseHaaretz considerava nesta quarta-feira as dificuldades políticas de uma saída aceitável para o Governo de Israel. A descoberta e destruição de 30 túneis do Hamas não parece uma conquista capaz de justificar o alto custo humano do ataque quando, além disso, o Hamas demonstra o dia todo sua capacidade de continuar disparando foguetes contra Israel. Os principais líderes islâmicos estão ilesos. Na quarta-feira à tarde ouviram-se em Gaza disparos de foguetes de considerável potência. Sirenes antiaéreas soaram em oito localidades próximas a Tel Aviv,  cujo aeroporto houve um grande número de cancelamentos de voos internacionais desde a terça-feira.
A superioridade militar sobre o Hamas é tão avassaladora como nas operações militares em 2008 e 2012, mas os milicianos islâmicos conseguiram aprimorar seus sistemas de defesa e proteção. Até agora, Israel não foi capaz de matar nenhum dos principais líderes dos grupos armados mais poderosos de Gaza, o Hamas e a Jihad Islâmica Palestina.
Durante as tensões dos dias que antecederam a operação em Gaza, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, disse que continuaria com a estratégia de “contenção” do Hamas, apesar das pressões dos ministros da extrema direita, como Avigdor Lieberman, titular da pasta de Relações Exteriores. A estratégia não vingou. Esses setores agora exigem que ele amplie a invasão de Gaza até recuperar o controle militar da Faixa. Não é preciso bancar o profeta para prever o número catastrófico de mortos palestinos e israelenses que custaria esta conquista.

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