quinta-feira, 31 de julho de 2014

Criança Palestina enfrenta a besta sionista nazista de Israel


As crianças do Iraque sofrem a pior parte da guerra

ban in iraq As crianças do Iraque sofrem a pior parte da guerra
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, visitou em janeiro o acampamento de Kawrgosik, perto de Erbil, na região do Curdistão iraquiano, onde mais de 200 mil refugiados da Síria são alojados pelo governo local. Foto: UN Photo/Eskinder Debebe.

Nações Unidas, 30/7/2014 – A ambulância se deteve na cidade iraquiana de Kirkuk e as pessoas correram a ajudar. Desceram seis meninos, que tinham entre alguns meses e 11 anos, todos feridos supostamente por um ataque aéreo na vizinha localidade de Tuz Khurmatu.
“A situação no Iraque é grave”, disse à IPS a australiana Tirana Hassan, pesquisadora de emergências da organização Human Rights Watch, recordando uma cena que presenciou durante recente viagem à região. “As famílias, incluídas as que têm crianças, estão presas em meio a uma guerra cada vez mais violenta, e estão pagando o preço”, acrescentou.
O número de vítimas civis disparou quase dois meses após a eclosão da violência entre os combatentes islâmicos e as forças armadas iraquianas. Cerca de 1.500 pessoas morreram em junho, a maior quantidade em um mês desde 2008, segundo a Missão de Assistência das Nações Unidas para o Iraque (Unami). “Em todas as áreas afetadas pelo conflito as baixas de crianças devido aos ataques indiscriminados ou sistemáticos por parte de Grupos armados e pelos bombardeios do governo nas áreas povoadas aumentaram”, segundo a Unami.
Os ativistas denunciam que os ataques aéreos do governo contra os combatentes do Estado Islâmico do Iraque e o Levante (ISIS) causaram vítimas infantis. “Documentamos vários casos de bombas de barril utilizadas em Faluja que mataram crianças e mulheres”, informou Hassan. “O uso indiscriminado das armas em áreas onde residem crianças e suas famílias é uma violação do direito internacional”, acrescentou.
O Iraque se converteu em um dos lugares mais perigosos do mundo para as meninas e os meninos.
A Unami também documentou “violações sistemáticas e flagrantes” dos direitos humanos das crianças por parte do ISIS, incluídos assassinatos, violações e demais tipos de violência sexual e física, além do recrutamento forçado. A violência e as mortes dos últimos meses são a continuação do sofrimento que atingiu crianças no Iraque ao longo da última década.
O conflito em curso custou a vida de mais de 7.800 civis em 2013, o maior número desde 2008, quando a Organização das Nações Unidas (ONU) começou  contagem sistemática das vítimas civis no Iraque. Dessas vítimas em 2013, 248 eram meninas e meninos, mortos pela ação do ISIS e da extremista rede islâmica Al Qaeda, segundo a ONU. O governo iraquiano sustenta que o número seria maior, de 335 menores mortos e 1.300 feridos.
No começo de junho, pelo menos 1,2 milhão de iraquianos fugiram de suas casas em razão da violência. Em sua maioria buscaram refúgio em moradias temporárias, acampamentos de refugiados internos ou em casas de família, informou a ONU. “Um grande número de crianças refugiadas estão em extrema necessidade de ajuda”, afirmou à IPS Alec Wargo, funcionário do Escritório do Representante Especial do secretário-geral da ONU para a questão das crianças e os conflitos armados.
Segundo Wargo, há denúncias de crianças recrutadas pelos rebeldes e que foram mortas ou feridas nos combates. A ONU e o governo iraquiano tentam lidar com a situação, disse Wargo. Embora não existam informes oficiais sobre a situação das crianças nas zonas sob controle do ISIS, esta “não é bem vista”, acrescentou. A ONU expressou sua séria preocupação pela atenção inadequada que recebem as crianças em razão do impacto sofrido pelas hostilidades nas zonas controladas pelo governo.
A ONU calcula que a violência contra as crianças no Iraque seria maior do que a denunciada, especialmente nos casos de seqüestro, devido às dificuldades na recopilação da informação e à resistência das famílias em informar a policia. Mesmo sem estatísticas oficiais, a Unami recebeu denúncias de crianças recrutadas para combates por ambas as partes do conflito, incluídas s forçs do governo. Os menores são usados como informantes, mas também para ataques suicidas com bombas, vigilância em postos de controle e na luta, segundo a Unami.
“Embora o governo do Iraque não tenha o controle em algumas partes do país, ainda tem a responsabilidade primordial de respeitar e proteger os direitos das crianças e de evitar seu recrutamento e uso militar ilegais”, afirmou Richard Clarke, diretor da Child Soldiers International, uma organização britânica que trabalha para evitar o recrutamento infantil para fins bélicos.
Segundo Clarke, “o governo deve tomar todas as medidas legais, políticas e práticas necessárias para cessar e evitar o recrutamento de crianças pela força sob seu controle, e deve buscar ajuda de organizações internacionais para conseguir isso”. Envolverde/IPS

Pentágono pesquisa o controle social

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Em paralelo à espionagem da NSA, militares norte-americanos estimulam e financiam investigações sobre lógica da mobilização social, e como detê-la
Por Nafeez Ahmed, no The Guardian | Tradução: Pedro Lucas Dulci
Um programa de pesquisa do Departamento de Defesa dos EUA – o Pentágono – está financiando universidades para mapear a dinâmica, riscos e pontos críticos de agitação civil em grande escala por todo o mundo, sob a supervisão de várias agências militares norte-americanas. O programa de milhões de dólares é projetado para desenvolver “estratégias relevantes de batalha” a curto e médio prazo para oficiais superiores e responsáveis pelas decisões de uma “comunidade política de defesa”, bem como para informar as políticas implementadas por “comandos de combatente”.
Lançada em 2008 – o ano da crise bancária global – a “Iniciativa de Pesquisa Minerva” do Pentágono faz parcerias com as universidades para “melhorar a compreensão básica do Departamento de Defesa a respeito das forças sociais, culturais, comportamentais e políticas que configuram regiões do mundo de importância estratégica para o EUA”.
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Entre os projetos premiados para o período 2014-2017 encontra-se um estudo liderado pela Universidade de Cornell e gerido pelo Serviço de Investigação Científica da Força Aérea dos EUA, que tem por objetivo desenvolver um modelo empírico “da dinâmica de mobilização do movimento social e contágios”. O projeto vai determinar “a massa crítica (o ponto de inflexão)” de contágio social, estudando seus “rastros digitais” nos casos da “Revolução Egípcia de 2011, das eleições de Duma na Rússia em 2011, da crise nigeriana de subsídio aos combustíveis de 2012 e 2013 e dos protestos no Parque Gazi na Turquia”.
Postagens no Twitter e conversas serão examinadas “para identificar identificar indivíduos mobilizados por contágio social e quando eles começaram se movimentar”.
Outro projeto premiado este ano na Universidade de Washington “pretende descobrir as condições em que se originam os movimentos sociais que visam a mudança política e econômica em grande escala”, juntamente com as suas “características e consequências”. O projeto, gerido pelo Serviço de Pesquisas do Exército dos EUA, concentra-se em “movimentos em grande escala, envolvendo mais de 1.000 participantes em atividade permanente”, e irá abranger 58 países no total.
No ano passado, a Iniciativa Minerva do Pentágono financiou um projeto para determinar “quem não se torna um terrorista, e por quê?” que, no entanto, confunde ativistas pacíficos com os “partidários da violência política”, diferenciando-os de terroristas apenas na medida em que não embarcam na “militância armada” por si mesma. O projeto aventa estudar explicitamente os ativistas não violentos:
“Em cada contexto, encontramos muitas pessoas que compartilham o mesmo pano de fundo demográfico, familiar, cultural e/ou nível socioeconômico daqueles que decidiram se engajar em terrorismo, mas se abstiveram de assumir a militância armada, mesmo que fossem simpáticos aos objetivos finais de grupos armados. O campo de estudos sobre o terrorismo não tem, até recentemente, lançado olhar para este grupo de controle. Esse projeto não é sobre os terroristas, mas acerca dos apoiadores da violência política”.
Os 14 estudos de caso do projeto “envolvem extensas entrevistas com dez ou mais ativistas e militantes de partidos ou de ONGs que, apesar de simpáticos a causas radicais, escolheram um caminho de não-violência”.
Entrei em contato com a investigadora principal do projeto, Profª. Maria Rasmussen da Pós-graduação da Escola Naval dos EUA, perguntando por que os ativistas não violentos que trabalham para ONGs devem ser equiparados aos partidários da violência política – e quais “os partidos e ONGs” estavam sendo investigados –, mas não recebi resposta.
Da mesma forma, a equipe do programa Minerva se recusou a responder uma série de perguntas semelhantes que lhes fiz, inclusive indagando como “causas radicais” promovidas por ONGs pacíficas podem constituir uma potencial ameaça para a segurança nacional e do interesse do Pentágono.
Entre as minhas questões, eu perguntei:
O Departamento de Defesa dos EUA, vê os movimentos de protesto e ativismo social em diferentes partes do mundo como uma ameaça à segurança nacional dos EUA, e em caso afirmativo, por quê? Será que o Departamento de Defesa dos EUA considera movimentos sociais, com o objetivo de mudança política e econômica em grande escala, como uma questão de segurança nacional, em caso afirmativo, por que? Ativismo, protesto, “movimentos políticos” e, claro, as ONGs, são um elemento vital de uma sociedade civil saudável e democracia – então por que é que o Pentágono está financiando pesquisas para investigar essas questões?
O diretor do programa de Minerva, Dr. Erin Fitzgerald, disse: “Eu aprecio as suas preocupações e estou contente que você estendeu a mão para nos dar a oportunidade de esclarecer”, antes de prometer uma resposta mais detalhada. Em vez disso, recebi a seguinte declaração insossa da assessoria de imprensa do Pentágono:
O Departamento de Defesa leva a sério o seu papel na segurança dos Estados Unidos, seus cidadãos, aliados e parceiros dos EUA. Embora nem todos os desafios de segurança causem conflito, e nem todos os conflitos envolvam os militares dos EUA, o Minerva ajuda a financiar investigação de base das ciências sociais que ajude a ampliar a compreensão do Departamento de Defesa sobre o que causa instabilidade e insegurança em todo o mundo. Através de uma melhor compreensão destes conflitos e suas causas de antemão, o Departamento de Defesa pode se preparar melhor para o dinâmico ambiente de segurança do futuro.
Em 2013, o Minerva financiou um projeto da Universidade de Maryland, em colaboração com o Departamento de Energia do Laboratório Nacional do Noroeste Pacífico dos EUA, para avaliar o risco de distúrbios civis, devido às mudanças climáticas. Nos três anos do projeto, 1,9 milhões de dólares são empregados no desenvolvimento de modelos para prever o que poderia acontecer às sociedades sob uma gama de potenciais cenários de mudanças climáticas.
Desde o início, o programa Minerva foi projetado para oferecer até 75 milhões de dólares em cinco anos para pesquisa em ciências sociais e comportamentais. Só este ano, o Congresso dos EUA atribuiu um orçamento total de 17,8 milhões de dólares ao Minerva.
Uma comunicação por e-mails pessoais internos do Minerva, referenciado em uma dissertação de mestrado 2012, revela que o programa é voltado para a produção de resultados rápidos, que são diretamente aplicáveis ​​às operações de campo. A dissertação foi parte de um projeto financiado pela Minerva sobre “o discurso muçulmano anti-radical radicais” da Universidade Estadual do Arizona.
O e-mail interno do Prof. Steve Corman, o investigador principal do projeto, descreve uma reunião organizada pelo Programa de Modelagem do Comportamento Humano e Social do Pentágono (HSCB, em inglês), em que altos funcionários do Pentágono disseram que sua prioridade era “desenvolver capacidades que se tornam rapidamente disponíveis ” na forma de “modelos e ferramentas que podem ser integrados com as operações”.
Embora o supervisor do Escritório de Pesquisa Naval, Dr. Harold Hawkins, tenha assegurado aos pesquisadores da universidade desde o início que o projeto era apenas “um esforço de pesquisa básica, por isso não deve se preocupar em fazer coisas aplicáveis”, a reunião de fato mostrou que Pentágono está à procura de “fomentar resultados” em “aplicações”, disse Corman no email. Ele aconselhou os seus investigadores a “pensar sobre a formatação dos resultados, relatórios, etc, para que eles [Departamento de Defesa] possam ver claramente a sua aplicação para as ferramentas que poderão ser utilizadas em campo”.
Muitos estudiosos independentes criticam o que veem como os esforços do governo dos EUA para militarizar as ciências sociais e colocá-las a serviço da guerra. Em maio de 2008, a Associação Americana de Antropologia (AAA) escreveu para o governo norte-americano notificando que o Pentágono não tem “o tipo de infra-estrutura para a avaliação antropológica [e de outras ciências sociais] de investigação” de uma forma que envolve a “revisão rigorosa, equilibrada e objetiva dos seus pares”, conclamando, assim, para esse tipo de pesquisa venha ser gerida por agências civis como a Fundação Nacional de Ciência (NSF).
No mês seguinte, o Departamento de Defesa assinou um memorando de entendimento (MoU) com a NSF para que esse coopere na gestão da Minerva. Em resposta, o AAA alertou que, apesar das propostas de pesquisa passar a ser agora avaliadas por painéis de revisão por mérito da NSF, “funcionários do Pentágono ainda teriam o poder de decisão para escolher quem fica nos painéis”:
…ainda existem preocupações, na disciplina, de que pesquisa que só serão financiadas quando apoiarem a agenda do Pentágono. Outros críticos do programa, incluindo a Rede de Interesses de Antropólogos, levantaram preocupações de que o programa iria desencorajar a pesquisa em outras áreas importantes, prejudicando o papel da universidade como um lugar para a discussão independente e crítica dos militares.
Segundo o professor David Price, um antropólogo cultural na Universidade de St Martin, em Washington DC e autor de Weaponizing Anthropology: Social Science in Service of the Militarized State [Antropologia Armada: Ciências Sociais a Serviço do Estado militarizado], “quando você olha para as partes específicas de muitos desses projetos, elas parecem normais, ciências sociais, análise textual, pesquisa histórica, e assim por diante. Mas quando você soma estas partes, todas eles compartilharam temas de legibilidade, com todas as distorções oriundas da simplificação excessiva.
O professor Price já havia exposto como o programa de Sistemas de Terreno Humano (HTS) do Pentágono – projetado para incorporar os cientistas sociais em operações militares de campo – rotineiramente conduz cenários de treinamento em regiões “dentro dos Estados Unidos”.
Citando uma crítica resumida do programa enviada para os diretores do HTS por um ex-empregado, Price informou que os cenários de treinamento HTS “adaptaram COIN [contra-insurgência] do Afeganistão e Iraque” para situações domésticas “nos EUA, onde a população local foi vista a partir da perspectiva militar, enquanto ameaça ao equilíbrio estabelecido de poder e a influência, bem como desafiando a lei e a ordem”.
Em um jogo de guerra, disse Price, estavam envolvidos ativistas ambientais protestando contra a poluição de uma usina a carvão perto de Missouri, alguns dos quais eram membros da conhecida ONG ambientalista Sierra Club. Os participantes foram incumbidos de “identificar aqueles que eram ‘solucionadores de problemas’ e aqueles que eram ‘causadores problema’, bem como o resto da população. Esta seria o alvo das operações de informação, voltadas a mover o centro de gravidade dos cidadãos em direção ao conjunto de pontos de vista e valores que era o ‘estágio final desejado’ da estratégia dos militares”.
Tais jogos de guerra estão de acordo com uma série de documentos de planejamento do Pentágono que sugerem que a vigilância em massa da Agência de Segurança Nacional (NSA) é parcialmente motivada para se preparar para o impacto desestabilizador da vinda choques ambientais, energéticos e econômicos.
James Petras, Professor de Sociologia na Universidade de Binghamton, em Nova York, concorda com as preocupações de Price. Os cientistas sociais financiados pela Minerva e vinculados à operações de contra-insurreição do Pentágono, estão envolvidos no “estudo das emoções alimentadas ou reprimidas por movimentos ideologicamente conduzidos”, disse ele, incluindo como “neutralizar movimentos de base”.
Minerva é um excelente exemplo da natureza profundamente tacanha e auto-destrutiva da ideologia militar. Pior ainda, a falta de vontade dos funcionários do Departamento de Defesa para responder às perguntas mais básicas é sintoma de um fato simples. Em sua missão inabalável de defender um sistema global cada vez mais impopular e servir os interesses de uma pequena minoria, as agências de segurança não têm escrúpulos em pintar o resto nós todos como potenciais terroristas.
Dr. Nafeez Ahmed é um jornalista de segurança internacional e acadêmico. Ele é o autor do A User’s Guide to the Crisis of Civilization: And How to Save It [Guia do Usuário para a Crise de Civilização: e como salvá-la], e o próximo thriller de ficção científica, Zero Point [Ponto Zero]. Siga-o no Facebook e no Twitter @ nafeezahmed.

Texto de antropólogo judeu viraliza na internet - “Não em meu nome”

Texto do antropólogo judeu Marcelo Gruman intitulado “Não em meu nome” viraliza na internet e condena a tentativa de aniquilamento do povo palestino

criança gaza antropólogo judeu
Crianças feridas em Gaza (AFP)
Um texto escrito pelo antropólogo judeu Marcelo Gruman se tornou viral na internet. Nele, Gruman fala de suas relações com o judaísmo e de como a sacralização do genocídio judaico estaria abrindo espaço para que Israel aniquile o povo palestino. No texto, ele clama aos judeus para que não aceitem mais a matança em seu nome. Leia abaixo:

Não em meu nome, por Marcelo Gruman

Na minha adolescência, tive a oportunidade de visitar Israel por duas vezes, ambas na primeira metade da década de 1990. Era estudante de uma escola judaica da zona sul da cidade do Rio de Janeiro. As viagens foram organizadas por instituições sionistas, e tinham por intuito apresentar à juventude diaspórica a realidade daquele Estado formado após o holocausto judaico da Segunda Guerra Mundial, e para o qual todo e qualquer judeu tem o direito de “retornar” caso assim o deseje. Voltar à terra ancestral. Para as organizações sionistas, ainda que não disposto a deixar a diáspora, todo e qualquer judeu ao redor do mundo deve conhecer a “terra prometida”, prestar-lhe solidariedade material ou simbólica, assim como todo muçulmano deve fazer, pelo menos uma vez na vida, a peregrinação a Meca. Para muitos jovens judeus, a visita a Israel é um rito de passagem, assim como para outros o destino é a Disneylândia.
A equivalência de Israel e Disneylândia tem um motivo. A grande maioria dos jovens não religiosos e sem interesse por questões políticas realizam a viagem apenas para se divertir. O roteiro é basicamente o mesmo: visita ao Muro das Lamentações, com direito a fotos em posição hipócrita de reza (já viram ateu rezando?), ao Museu da Diáspora, ao Museu do Holocausto, às Colinas do Golan, ao Deserto do Neguev e a experiência de tomar um chá com os beduínos, ir ao Mar Morto e boiar na água sem fazer esforço por conta da altíssima concentração de sal, a “vivência” de alguns dias num dos kibutzim ainda existentes em Israel e uma semana num acampamento militar, onde se tem a oportunidade de atirar com uma arma de verdade. Além, é claro, da interação com jovens de outros países hospedados no mesmo local. Para variar, brasileiros e argentinos, esquecendo sua identidade étnica comum, atualizavam a rivalidade futebolística e travavam uma guerra particular pelas meninas. Neste quesito, os argentinos davam de goleada, e os brasileiros ficavam a ver navios.
Minha memória afetiva das duas viagens não é das mais significativas. Aparte ter conhecido parentes por parte de mãe, a “terra prometida” me frustrou quando o assunto é a construção de minha identidade judaica. Achei os israelenses meio grosseiros (dizem que o “sabra”, o israelense “da gema”, é duro por natureza), a comida é medíocre (o melhor falafel que comi até hoje foi em Paris…), é tudo muito árido, a sociedade é militarizada, o serviço militar é compulsório, não existe “excesso de contingente”. A memória construída apenas sobre o sofrimento começava a me incomodar.
Nossos guias, jovens talvez dez anos mais velhos do que nós, andavam armados, o motorista do ônibus andava armado. Um dos nossos passeios foi em Hebron, cidade da Cisjordânia, em que a estrada era rodeada por telas para contenção das pedras atiradas pelos palestinos. Em momento algum os guias se referiram àquele território como “ocupado”, e hoje me envergonho de ter feito parte, ainda que por poucas horas, deste “finca pé” em território ilegalmente ocupado. Para piorar, na segunda viagem quebrei a perna jogando basquete e tive de engessá-la, o que, por outro lado, me liberou da experiência desagradável de ter de apertar o gatilho de uma arma, exatamente naquela semana íamos acampar com o exército israelense.
Sei lá, não me senti tocado por esta realidade, minha fantasia era outra. Não encontrei minhas raízes no solo desértico do Negev, tampouco na neve das colinas do Golan. Apesar disso, trouxe na bagagem uma bandeira de Israel, que coloquei no meu quarto. Muitas vezes meu pai, judeu ateu, não sionista, me perguntou o porquê daquela bandeira estar ali, e eu não sabia responder. Hoje eu sei por que ela NÃO DEVERIA estar ali, porque minha identidade judaica passa pela Europa, pelos vilarejos judaicos descritos nos contos de Scholem Aleichem, pelo humor judaico característico daquela parte do mundo, pela comida judaica daquela parte do mundo, pela música klezmer que os judeus criaram naquela parte do mundo, pelas estórias que meus avós judeus da Polônia contavam ao redor da mesa da sala nos incontáveis lanches nas tardes de domingo.
Sou um judeu da diáspora, com muito orgulho. Na verdade, questiono mesmo este conceito de “diáspora”. Como bem coloca o antropólogo norte-americano James Clifford, as culturas diaspóricas não necessitam de uma representação exclusiva e permanente de um “lar original”. Privilegia-se a multilocalidade dos laços sociais. Diz ele:
As conexões transnacionais que ligam as diásporas não precisam estar articuladas primariamente através de um lar ancestral real ou simbólico (…). Descentradas, as conexões laterais [transnacionais] podem ser tão importantes quanto aquelas formadas ao redor de uma teleologia da origem/retorno. E a história compartilhada de um deslocamento contínuo, do sofrimento, adaptação e resistência pode ser tão importante quanto a projeção de uma origem específica.
Há muita confusão quando se trata de definir o que é judaísmo, ou melhor, o que é a identidade judaica. A partir da criação do Estado de Israel, a identidade judaica em qualquer parte do mundo passou a associar-se, geográfica e simbolicamente, àquele território. A diversidade cultural interna ao judaísmo foi reduzida a um espaço físico que é possível percorrer em algumas horas. A submissão a um lugar físico é a subestimação da capacidade humana de produzir cultura; o mesmo ocorre, analogamente, aos que defendem a relação inexorável de negros fora do continente africano com este continente, como se a cultura passasse literalmente pelo sangue. O que, diga-se de passagem, só serve aos racialistas e, por tabela, racistas de plantão. Prefiro a lateralidade de que nos fala Clifford.
Ser judeu não é o mesmo que ser israelense, e nem todo israelense é judeu, a despeito da cidadania de segunda classe exercida por árabes-israelenses ou por judeus de pele negra discriminados por seus pares originários da Europa Central, de pele e olhos claros. Daí que o exercício da identidade judaica não implica, necessariamente, o exercício de defesa de toda e qualquer posição do Estado de Israel, seja em que campo for.
Muito desta falsa equivalência é culpa dos próprios judeus da “diáspora”, que se alinham imediatamente aos ditames das políticas interna e externa israelense, acríticos, crentes de que tudo que parta do Knesset (o parlamento israelense) é “bom para os judeus”, amém. Muitos judeus diaspóricos se interessam mais pelo que acontece no Oriente Médio do que no seu cotidiano. Veja-se, por exemplo, o número ínfimo de cartas de leitores judeus em jornais de grande circulação, como O Globo, quando o assunto tratado é a corrupção ou violência endêmica em nosso país, em comparação às indefectíveis cartas de leitores judeus em defesa das ações militaristas israelenses nos territórios ocupados. Seria o complexo de gueto falando mais alto?
Não preciso de Israel para ser judeu e não acredito que a existência no presente e no futuro de nós, judeus, dependa da existência de um Estado judeu, argumento utilizado por muitos que defendem a defesa militar israelense por quaisquer meios, que justificam o fim. Não aceito a justificativa de que o holocausto judaico na Segunda Guerra Mundial é o exemplo claro de que apenas um lar nacional única e exclusivamente judaico seja capaz de proteger a etnia da extinção.
A dor vivida pelos judeus, na visão etnocêntrica, reproduzida nas gerações futuras através de narrativas e monumentos, é incomensurável e acima de qualquer dor que outro grupo étnico possa ter sofrido, e justifica qualquer ação que sirva para protegê-los de uma nova tragédia. Certa vez, ouvi de um sobrevivente de campo de concentração que não há comparação entre o genocídio judaico e os genocídios praticados atualmente nos países africanos, por exemplo, em Ruanda, onde tutsis e hutus se digladiaram sob as vistas grossas das ex-potências coloniais. Como este senhor ousa qualificar o sofrimento alheio? Será pelo número mágico? Seis milhões? O genial Woody Allen coloca bem a questão, num diálogo de Desconstruindo Harry (tradução livre):
- Você se importa com o Holocausto ou acha que ele não existiu?
- Não, só eu sei que perdemos seis milhões, mas o mais apavorante é saber que recordes são feitos para serem quebrados.
O holocausto judaico não é inexplicável, e não é explicável pela maldade latente dos alemães. Sem dúvida, o componente antissemita estava presente, mas, conforme demonstrado por diversos pensadores contemporâneos, dentre os quais insuspeitos judeus (seriam judeus antissemitas Hannah Arendt, Raul Hilberg e Zygmunt Bauman?), uma série de características do massacre está relacionada à Modernidade, à burocratização do Estado e à “industrialização da morte”, sofrida também por dirigentes políticos, doentes mentais, ciganos, eslavos, “subversivos” de um modo geral. Práticas sociais genocidas, conforme descritas pelo sociólogo argentino Daniel Feierstein (outro judeu antissemita?), estão presentes tanto na Segunda Guerra Mundial quanto durante o Processo de Reorganização Nacional imposto pela ditadura argentina a partir de 1976. Genocídio é genocídio, e ponto final.
A sacralização do genocídio judaico permite ações que vemos atualmente na televisão, o esmagamento da população palestina em Gaza, transformada em campo de concentração, isolada do resto do mundo. Destruição da infraestrutura, de milhares de casas, a morte de centenas de civis, famílias destroçadas, crianças torturadas em interrogatórios ilegais conforme descrito por advogados israelenses. Não, não são a exceção, não são o efeito colateral de uma guerra suja. São vítimas, sim, de práticas sociais genocidas, que visam, no final do processo, ao aniquilamento físico do grupo.
Recuso-me a acumpliciar-me com esta agressão. O exército israelense não me representa, o governo ultranacionalista não me representa. Os assentados ilegalmente são meus inimigos.
Eu, judeu brasileiro, digo: ACABEM COM A OCUPAÇÃO!!!


Resumo mensal de notícias sobre o tabagismo e o alcoolismo

Neste mês de julho destacamos a atitude jornalística da maior emissora de TV do país, que em seu jornal do meio dia noticiou o problema do alcoolismo no Brasil, que nos últimos seis anos foi causa do afastamento de quase 100 mil empregados dos postos de trabalho, gerando um problema para a Previdência Social em termos financeiros. A notícia poderia ser mais completa, pois não contabiliza a influência da bebida alcoólica nos acidentes de trânsito, e o rombo na Previdência, assim, é muito maior, nos termos da campanha da Amata de 2014 propaganda de cerveja sem álcool na TV, é legal!
E parabéns aos diretores da emissora, que certamente devem assistir aos seus noticiários, e à empresa Ambev que passaram a dar preferência na veiculação da propaganda, inclusive nas publicidades dos campos dos estádios de futebol, da cerveja "0,0%" de álcool.
Que continuem dando o atual exemplo, e deixem definitivamente de veicular a propaganda de bebida alcoólica na TV!
Resta, contudo, ao Congresso Nacional, normatizar a matéria, a fim de evitar que outras emissoras e outras cervejarias continuem efetuando uma concorrência publicitária desleal, e fomentando a doença, a morte e os devastadores prejuízos sociais, trabalhistas e previdenciários do alcoolismo.
Relativamente ao tabagismo, no próximo dia 29 de agosto - Dia Nacional de Combate ao Fumo, os meios de comunicação certamente devem dar um grande destaque ao relatório que será apresentado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária - Anvisa, avaliando as 121 substâncias que já deveriam estar proibidas desde 16 de setembro de 2013.
Feito isso, esperamos que o Supremo Tribunal Federal inclua imediatamente em votação a ADI nº 4874, e mantenha a competência há décadas da Anvisa, e a vigência da Resolução da Agência nº 14/2012, que exclui os aditivos saborizantes ou ameliorantes do cigarro, deixando de fomentar a intoxicação e viciação das atuais e futuras gerações no tabagismo.
Dignas de nota também neste mês as notícias relativas ao polêmico cigarro eletrônico.
Boa leitura!
Silvio Tonietto 
Diretor-Geral
Pare de Fumar!
Palestra "Preparação para Deixar de Fumar"
www.paredefumaragora.com.br

Mais de 34 mil views no youtube
"30 minutos que valem uma vida"

INSS inicia depósito acima do mínimo a partir desta sexta (1º)

31/07/2014 11:24

Depósitos da folha de julho seguem até o dia 7 de agosto
Da Redação (Brasília) – O Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) inicia os depósitos da folha de julho para quem recebe acima do mínimo a partir desta sexta-feira (1º). Na data será liberado o pagamento para os segurados que possuem cartão com final 1 e 6, desconsiderando-se o dígito. Os segurados que recebem até o piso previdenciário- um salário mínimo – e possuem cartão final 6 também podem sacar o benefício amanhã.
A folha de julho vai pagar mais de 31 milhões de benefícios em todo o país transferindo mais e R$ 29 bilhões para economias dos municípios brasileiros.
Cronograma – Os segurados do INSS podem acompanhar o calendário de pagamentos de 2014 pelo site da Previdência Social. Basta acessar o ícone “Tabela de Pagamento de Benefícios de 2014” e seguir as datas de depósito. Cartazes com o cronograma também foram distribuídos à rede bancária e às Agências de Previdência Social.
Dúvidas sobre as datas do pagamento também podem ser esclarecidas com os operadores da Central 135. A ligação é gratuita a partir de telefones fixos ou públicos e tem custo de chamada local, quando feita de celular.

Informações para a Imprensa
Ligia Borges
(61) 2021-5779
Ascom/MPS

Desenvolvimento técnico e sucessão familiar: O Caso do Sítio Balzan


Por Marcelo de Rezende
postado há 1 dia atrás

A sucessão familiar não é um problema exclusivo do meio rural e, muito menos, da atividade leiteira. Como familiar, define-se a empresa em que um ou mais membros de uma família exercem a maior parte do controle administrativo por serem proprietários da maioria do capital investido. Porém, para que a empresa seja de fato considerada familiar, ela tem de ter sobrevivido ao menos por um período de sucessão, caracterizando assim a ideologia do negócio. O negócio de origem familiar pode abranger desde o pequeno comércio da esquina até empresas gigantescas e, certamente, a grande maioria das empresas brasileiras enquadra-se nesta definição, devendo, em algum momento, enfrentara questão da sucessão para a continuidade do negócio. A maior parte das fazendas leiteiras que conhecemos pode ser enquadrada como familiar, pois muitas possuem algum membro da família envolvido na gestão do negócio que começou com os pais ou avós, sejam elas pequenas propriedades, com produções diminutas, ou grandes, com produções diárias de milhares de litros.

Em muitos países europeus, a sucessão familiar no campo recebe grande atenção dos governantes, que lançam mão de uma série de artifícios, inclusive financeiros, para que os filhos permaneçam no campo garantindo a continuidade da atividade rural desenvolvida pelos pais. No Brasil, diagnósticos realizados em vários Estados importantes na produção de leite, como Minas Gerais, Goiás e Rio Grande do Sul, indicaram não haver perspectiva de sucessão familiar que garanta a continuidade da atividade em, no mínimo, metade das propriedades leiteiras analisadas. A continuidade do negócio familiar depende, basicamente, de haver pelo menos um membro da família com interesse e preparo para assumir o controle do negócio quando os responsáveis já não podem mais fazê-lo, o que ocorre, normalmente, devido à idade avançada. O desinteresse dos filhos pela atividade dos pais os leva a deixar a vida no campo para viver na cidade, resultando no envelhecimento da mão de obra rural, como detectado em um levantamento feito pelo IPARDES (Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social) no Estado do Paraná em 2009, indicando que 51% dos produtores de leite possuíam mais de 50 anos de idade. Com os filhos direcionando suas vidas para outras atividades na cidade, principalmente no caso das propriedades de produções elevadas, onde o melhor nível de renda permite que os pais ofereçam boa formação escolar aos seus filhos, a transferência do negócio, normalmente, deixa de ser um processo sucessório e passa a ser apenas hereditário. Nestes casos, o herdeiro passa a ser o dono da terra, porém, em muitos casos, ele não vive mais na propriedade e nem possui interesse em voltar a viver, dificultando a continuidade da atividade.

No caso das propriedades leiteiras de pequeno porte, a falta de renda da atividade é o principal fator que define o processo sucessório. Normalmente, a rentabilidade da fazenda já é insuficiente para o sustento dos pais que estão à frente do negócio, impossibilitando o sustento de uma ou mais famílias de filhos sucessores. Em tal situação de desesperança em relação ao futuro da atividade, os próprios pais acabam por incentivar os filhos a abandonarem a propriedade, mesmo sabendo que, em muitos casos, eles não estão preparados para vida na cidade. Essa perspectiva sombria também tem sido o principal fator motivador do desinteresse dos filhos pela continuidade da vida na fazenda. Estes, apesar de normalmente ajudarem nas atividades da propriedade, poucas vezes são remunerados, seja pela escassez de recursos financeiros ou pela falta de visão gerencial dos pais, que não consideram esse trabalho merecedor de um pagamento fixo. Assim, tal situação não desperta o interesse natural dos jovens pela continuidade da vida no meio rural.

Em um cenário de falta de renda, a continuidade do negócio pelos membros das famílias, cada vez menores em número de filhos, é um grande obstáculo a ser superado quando se pensa na manutenção da estrutura de produção rural em várias regiões. Apesar de poucas, as metodologias voltadas para o desenvolvimento técnico e financeiro das propriedades existem. Alguns programas merecem destaque, em especial aqueles que utilizam a metodologia do Balde Cheio, projeto desenvolvido pela Embrapa Pecuária Sudeste, que tem ajudado muitas propriedades a evoluir, superar as dificuldades relacionadas à geração de renda e solucionar a questão da sucessão familiar. Por seu arrojo, que beira o atrevimento, os técnicos que utilizam essa metodologia são capacitados a tocar pontos nevrálgicos da atividade, aptos a reverter situações de dificuldades nas mais variadas condições, agindo com eficiência tanto em pequenas e micro propriedades como em rebanhos de centenas de animais, nas diversas regiões do país. Nesse cenário de desenvolvimento e geração de renda, muitas propriedades têm conseguido manter e, em muitos casos, trazer de volta os filhos que haviam deixado o trabalho na propriedade em busca de melhores oportunidades na cidade, atuando com eficácia na resolução do problema da sucessão familiar nessas fazendas. Esse foi o caso do Sítio Balzan, que usaremos para demonstrar os impactos que a geração de renda, oriunda da aplicação correta de técnicas e conceitos produtivos, pode ter sobre a sucessão familiar na propriedade leiteira.

O Sítio Balzan está localizado no município de São Lourenço D´Oeste, na região Oeste de Santa Catarina. No início de 2005, a propriedade teve o primeiro contato com o agrônomo Primo Quinaglia Neto, que desde 2009 está na Cooperideal, mas na época era membro da equipe de campo da Confepar, empresa compradora do leite da propriedade e que também disponibilizava aos seus fornecedores um trabalho técnico que utilizava a metodologia do Balde Cheio.

As primeiras visitas ao Sítio Balzan, com área útil de 13 hectares (sendo 16,9 de área total), serviram inicialmente para diagnóstico, poiso técnico Primo necessitava entender bem a realidade daquela família, suas dificuldades, seu estado de ânimo e sua cultura em relação à produção de leite, para somente depois pensar em alguma alternativa técnica para a situação. Na propriedade, viviam seis pessoas na época: o proprietário Antônio Balzan e sua esposa Salete; D. Raimunda e Lurdes, respectivamente, mãe e irmã de Balzan; além dos filhos Tiago e Taís, com 19 e 6 anos, respectivamente. Além desses, havia outro filho, Marcelo, que vivia fora e estava terminando de cursar o colégio agrícola da região e logo se formaria e tentaria a vida no Estado do Mato Grosso, trabalhando com suínos. Segundo o proprietário Antônio Balzan, a situação não era fácil e a família estava prestes a vender a propriedade. Segundo ele, a aposentadoria de D. Raimunda é que ajudava a equilibrar o orçamento da família e a manter Marcelo no colégio agrícola.

A análise do valor obtido com o fluxo de caixa da propriedade ao final do primeiro ano de trabalho demonstra a situação delicada em que a propriedade se encontrava. Apenas R$914,16 foi a sobra após um ano de trabalho (de maio de 2005 a abril de 2006) em uma propriedade onde seis pessoas dependiam da renda gerada pelo leite. Muito mais difícil do que implementar ações técnicas foi, naquele momento, resgatar o ânimo para iniciar um novo ciclo na propriedade.

Devagar, a família foi retomando as forças e Balzan, que como o patriarca teria a responsabilidade de comandar a mudança nos rumos da propriedade, ia aos poucos se convencendo da necessidade e da eficácia das ações propostas. Assim, a roda responsável por mover aquela pequena propriedade, que por muito tempo esteve emperrada, vagarosamente começava a girar.

Em novembro de 2006, levado pelo técnico Primo, Tiago foi conhecer uma propriedade assistida no município de Rio Bom, no interior do Paraná, a 500 km de sua cidade. O produtor Adilson Brizola, atendido na época com a mesma metodologia de trabalho utilizada no Sítio Balzan, produzia 500 litros de leite em uma propriedade de 15 hectares de área total, realidade que impactou Tiago, que voltou para casa renovado e cheio de esperança, cumprindo bem sua tarefa de contagiar o pai com o que havia visto na viagem.

A partir daí a coisa deslanchou. A confiança no trabalho aumentou e as orientações passaram a ser executadas com mais rapidez e segurança. Assim, ações técnicas foram sendo realizadas, como a implantação de sistemas intensivos de pastejo para o período do verão, sobressemeadura de culturas de inverno, plantio de cana-de-açúcar e de milho para silagem, irrigação de pastagens, construção de uma nova sala de ordenha, tudo feito gradualmente, de acordo com as condições financeiras do negócio. A produção foi aumentando e a renda também. Nesse meio tempo, as condições de renda da propriedade haviam melhorado a ponto do técnico Primosugerir à família que o filho Marcelo retornasse, fator que contribuiu muito para a propriedade chegar ao ponto em que chegou.

Vacas em pastejo

Em 2008, Marcelo estava definitivamente de volta ao sítio, reestabelecendo a presença de todos os membros da família Balzan no negócio. Era tempo de crescer! Dos 150 litros/dia produzidos em 2005, a propriedade atingiu pico de 1.025 litros/dia em 2013. A sobra financeira (fluxo de caixa) no ano 2013 foi de R$130.734,23 (R$10.894,00/mês), valor equivalente a R$18.676,33 disponíveis anualmente por cada membro da família (R$1.556,00/mês), contra apenas R$152,36 no primeiro ano (R$12,69/mês). Uma nova casa para a família foi construída em 2010, e outra em 2012 para o filho mais velho, Tiago, que se casou e vive com a esposa na propriedade. O outro filho, Marcelo, também está planejando construir sua casa, tudo dentro de uma área total de 16,9 hectares. A propriedade que para a família parecia minúscula no início do trabalho, hoje é capaz de manter duas e, em breve, três famílias.

Índices econômicos e zootécnicosdoSítio Balzan(2005– 2013)


Vacas recebendo suplementação no cocho

O que determina se uma propriedade é grande ou pequena não é o tamanho de sua área, mas sim o nível de conhecimento disponível para a sua exploração. Quanto menor o nível de conhecimento, maiores serão as necessidades de fatores produtivos, principalmente capital e terra. Certamente, a família Balzan, como tantas outras famílias produtoras de leite, acreditava que sua área era insuficiente e que não haveria recursos financeiros capazes de reverter sua situação inicial. Com a evolução técnica da propriedade, o nível de conhecimento de todos os envolvidos cresceu a ponto da situação se inverter completamente. Apesar de ainda poder crescer mais de 50% em relação à produção e renda obtidas até agora, o Sítio Balzan, quase abandonado em 2005, além de ser fator gerador de qualidade de vida, de bem estar e de união da família, também passou a garantir sua própria sustentabilidade, através de trabalho técnico sério e do comprometimento de todos com o trabalho proposto. Os bens materiais demonstram o quanto a atividade leiteira lhes foi generosa, respondendo sempre positivamente a cada ação acertada, ao trabalho e à dedicação da família. O futuro da propriedade está garantido, os sucessores estarão prontos para, no momento certo, atenderem ao chamado do pai e tomarem as rédeas do negócio. Porém, mais importante que tudo isso, é o fato da família permanecer unida, trabalhando todos juntos. E como costuma dizer Balzan: “isso não há preço que pague”.


 

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