Em 2002 oito
cafeicultores de Muniz Freire resolveram mudar a maneira e a forma de trabalhar.
A ação individual foi substituída pela ação coletiva ao financiarem e montarem
um despolpador com a capacidade de processar 30 balaios de café por hora. De
uma produção de 400 sacas de café pilado, eles chegaram nesta safra a 1.200
sacas.
O centro da mudança
foi a necessidade de evitar a saída deles do meio rural rumo a cidade, caminho
já trilhado por milhares de produtores. A baixa produtividade e o trabalho
individual foram os pontos atacados inicialmente. Hoje a colheita é em mutirão,
sendo realizada em rodízio: a cada dia numa propriedade. Eles trocam serviços.
No início a colheita era feita apenas pelo grupo, mas o aumento da produção, hoje
é reforçada com mão de obra extra na colheita. Apenas um associado não
participa do grupo da colheita, por ter grande numero de braços na sua família.
O café colhido hoje
estará seco quando o rodízio da colheita voltar. O esquema possibilita ao produtor
ter uma área de estufa de secagem menor do que teria se fizesse a colheita de
uma só vez. Como o objetivo é ter café de qualidade, normalmente eles fazem a
colheita seletiva, pegando o máximo possível de café cereja. Neste ano a
lavoura sofreu com a seca de janeiro e fevereiro, o que mudou a colheita. Ela
está sendo feita numa única apanha, mas a cada dia numa propriedade.
Com o tempo outras
mudanças foram acontecendo, melhor trato com a lavoura, novos plantios com
variedades que dão resposta em produtividade e uma maior integração dos
associados. Com o aumento da produção, o descascador de 2002 foi trocado por um
maior, 100 balaios por hora, em 2009. A mudança diminuiu o tempo de trabalho, era
normal eles irem até 23 horas, hoje ficam até às 21. Tempo precioso e reparador
para o descanso para quem dia seguinte vai acordar às 5 horas fazer de novo o ciclo
da colheita.
No ano de 2005 surgiu
a Munizcafé, uma associação que hoje tem 140 sócios e uma capacidade de
produção na faixa de 40 mil sacas piladas. O pessoal da associação do Ipe bateu
ponto na formação e no crescimento da Munizcafé. Está associação faz compras em
conjunto dos insumos usados na lavoura. Numa pequena compra individual a saca de
adubo tem um valor determinado, mas quando ela se avoluma, ele cai.
O grupo do Ipe foi o embrião
da Munizcafé, segundo o produtor Roberto Paulucio, que registra o apoio da
Prefeitura, que montou uma sala de classificação e prova de café, “o degustador
Rogerio Oliveira muito nos ajudou. Agora sabemos o que produzimos. O técnico do
Incaper, Paulo Lugon, foi outra peça importante. O Poder Público cumpre o seu
papel, de estar ao lado de quem produz, gera renda, trabalho e faz crescer a
todos.
Ao comentar com um
amigo o que relatei neste texto, dele tive um questionamento, “este Espirito
Santo real que você me falou, sai pouco na imprensa capixaba.” Concordei. Sabendo
que me faria um desafio, antecipei: cumpro o dever ético e profissional,
registrar o trabalho da comunidade do Ipe, nas pessoas de João e José Pin,
Sebastião, Roberto, Helio, Edson, Edvaldo e Eduardo, que são da família
Paulucio. Todos mostram que sabem o que querem e trabalham para isto, com
alegria e competencia. Este Espírito Santo real existe: deve ser divulgado e
conhecido. Vale a pena aplaudir e homenagear o que o povo da comunidade do Ipê,
Muniz Freire,vem fazendo. Faço a minha obrigação.
Parabéns Mansur por cumprir essa sua missão de trazer para o público fatos que a mídia não mostra. Temos uma área rural dinâmica, produtiva e exemplar, mas a imprensa só vê e dá ênfase aos gabinetes.
ResponderExcluir