Quanto mais obscura a eleição, mais indispensável é a interpretação dos indícios e sinais iniciais. Acontece no Vaticano de Bergoglio e no Zhongnanhai de Xi Jinping - o recinto oficial de Pequim onde se reúnem os cardeais do império vermelho que governam a China e que aspiram a transformá-la na superpotência do século 21.
Lluís Bassets
Lluís Bassets
Chefes de Estado do Brics (Brasil, Índia, China e África do Sul) durante o encontro na África do Sul. Da esquerda para a direita: premiê da Índia, Manmohan Singh, presidente da China, Xi Jinping, presidente da África do Sul, Jacob Zuma, presidente do Brasil, Dilma Rousseff e presidente da Rússia, Vladimir Putin
O novo presidente da República Popular, elevado à magistratura máxima em 14 de março pelo Congresso Nacional do Povo, o parlamento comunista "sui generis", em uma votação meramente cerimonial na qual recebeu 2.952 votos a favor, 1 contra e 3 abstenções, não demorou nem oito dias para viajar a Moscou. A capital russa também foi a do bloco comunista, e nela se formaram diversos quadros do comunismo chinês na época pré-revolucionária e nos primeiros anos da República Popular.
Com a atual viagem ao maior de seus numerosos vizinhos terrestres, com o qual compartilha 4.000 quilômetros de fronteira, Xi Jinping quer consolidar uma tradição inaugural. De suas palavras em Moscou, assim como das de Vladimir Putin, se deduz o caráter estratégico e privilegiado da relação que pretendem as duas potências, em um retorno à estreita associação de mais de 60 anos atrás.
O primeiro líder chinês a empreender esse caminho foi Hu Jintao há uma década, com sua viagem também inaugural a Moscou em junho de 2003, em seu caso um pouco mais tarde, exatamente três meses depois de sua designação presidencial, e em um giro que o levou também ao Cazaquistão e à Mongólia, e imediatamente depois à cúpula do G8 em Evian (Suíça), onde pôde se encontrar com uma dúzia de chefes de Estado e de governo, entre outros o presidente George W. Bush.
Xi, por sua vez, depois de passar por Moscou foi em giro até a África, onde o maoísmo já tinha seus pesqueiros revolucionários, com estações na Tanzânia, África do Sul e República do Congo, e sua participação em Durban da cúpula dos cinco países emergentes do grupo Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul).
Xi Jinping é um príncipe da aristocracia fundadora da República Popular, uma casta comunista que saiu reforçada da última sucessão na cúpula do partido e do Estado. À diferença de Hu Jintao, Xi tomou de uma vez as rédeas do poder ideológico, estatal e inclusive militar, sem compartilhá-lo em um tempo de transição com a geração precedente, como vinha ocorrendo em trocas anteriores.
Alguns especialistas em política chinesa, como François Godement, do Conselho Europeu sobre Relações Exteriores, captaram uma recuperação da liderança pessoal e uma centralidade do partido muito de acordo com uma inspiração maoísta. Em boa correspondência, sua política internacional deverá ser mais dura e nacionalista, embora enfeitada por um uso renovado do "soft power", ou poder brando, não unicamente econômico, senão em forma de presença cultural, de políticas de bolsas e de intercâmbios com a África, ou de um estilo presidencial mais cálido e inclusive glamouroso, no qual se inclui pela primeira vez um papel para a primeira-dama, Peng Liyuan, nas turnês oficiais.
Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
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