terça-feira, 2 de abril de 2013

Hollande e o desafio de controlar o desemprego na França



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Há muito tempo a França vem experimentando um problema crônico com o desemprego, mas a atual taxa de desocupados do país é especialmente sombria. O governo lançou vários programas para estimular a criação de postos de trabalho, mas eles não estão surtindo efeito rápido o suficiente para convencer o país de que as coisas vão melhorar.

Stefan Simons
Policiais franceses se abrigam atrás de pneus incendiados durante manifestação contra o corte de empregos na Goodyear, nos arredores de Paris. A empresa confirmou em janeiro o fechamento da fábrica, acabando com 1.173 postos de trabalho na regiãoP

Policiais franceses se abrigam atrás de pneus incendiados durante manifestação contra o corte de empregos na Goodyear, nos arredores de Paris. A empresa confirmou em janeiro o fechamento da fábrica, acabando com 1.173 postos de trabalho na região
Dez meses após a eleição do presidente François Hollande pela França, o número de pessoas registradas como desempregadas no país está se aproximando do recorde nacional alcançado em 1997, pouco abaixo do total de 3,2 milhões de pessoas. Quase 2 milhões de cidadãos franceses estão procurando trabalho há mais de um ano e, todos os meses, um contingente adicional de 80 mil pessoas perde seu direito a solicitar seguro-desemprego --muitas vezes, essas pessoas caem na pobreza.

Atualmente, a taxa de desemprego na França é 10,8% superior à registrada no ano passado, um duro golpe para Hollande, que prometeu durante a campanha eleitoral conter a crise do mercado de trabalho francês. Em vez disso, a taxa de desemprego vem aumentando constantemente --fato que traz à memória uma declaração feita em 1993 pelo antecessor de Hollande e companheiro socialista, François Mitterrand: "Nós já tentamos de tudo contra o desemprego".

Antecipando-se a novos e catastróficos relatórios sobre o mercado de trabalho francês, o primeiro-ministro Jean-Marc Ayrault disse à Assembleia Nacional que "nunca se faz o suficiente para combater o desemprego" e pediu que todos realizem "uma mobilização geral" para criar postos de trabalho nos setores público e privado.

  O governo francês adotou uma série de medidas para combater o desemprego entre os jovens, tais como a concessão de subsídios generosos a empresas que contratarem funcionários entre 16 e 25 anos durante, pelo menos, um ano. O plano era criar 100 mil "vagas para o futuro", em 2013. Mas, até agora, apenas 15 mil pessoas se beneficiaram com o programa.

Prognóstico de longo sombrio

Hollande também esperava que o mercado de trabalho recebesse um impulso com a adoção dos "contratos para as gerações", que concedem subsídios a pequenas empresas que contratam trabalhadores mais jovens e, ao mesmo tempo, se comprometem em manter um empregado com mais de 57 anos em sua folha de pagamento.
O esquema é utilizado para permitir que os idosos consigam manter seus empregos e sejam capazes de passar adiante suas habilidades e conhecimentos para os jovens talentos. O governo francês espera fechar meio milhão desses contratos ao longo dos próximos cinco anos. O governo também espera que a contratação de 2.000 funcionários adicionais pela Agência Nacional para o Emprego ajude na mediação desses contratos.

Em contraste com a época em que Mitterrand estava à frente do governo da França, os socialistas de hoje não estão enfrentando o final de uma crise. Em vez disso, eles estão se preparando para uma estagnação de longo prazo. Um especialista da OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico) em Paris disse, no início deste ano, que "estamos diante de uma piora parcial do mercado de trabalho acompanhada por picos históricos (de desemprego)".

  O retorno para uma fase mais positiva, porém, ainda não está à vista. A França vai começar a criar mais postos de trabalho somente quando sua economia começar a crescer a uma taxa superior a 1%, segundo a OCDE. Mas o Instituto Nacional de Estatísticas e Estudos Econômicos do país projeta que a economia francesa vai sofrer uma estagnação durante o primeiro trimestre de 2013. Da mesma maneira, as expectativas relacionadas ao crescimento da poupança interna, dos investimentos e do poder aquisitivo são sombrias. Relatos sobre demissões, aquisições e declarações de falência têm sido uma ocorrência quase que diária na França.

Metas irrealistas

A fim de atingir uma meta de crescimento de 0,8% em 2013, a economia francesa teria que se expandir cerca de 2% durante os dois últimos terços do ano --um percentual que, segundo os economistas, é inatingível. O próprio ministro do Trabalho da França, Michel Sapin, advertiu que a taxa de desemprego "ficará alta durante vários meses antes que as nossas políticas surtam efeito".

  Enquanto o governo culpa a crise do euro pelas desgraças econômicas generalizadas, a oposição conservadora acusa o presidente Hollande de minar a confiança na economia com um "choque fiscal" draconiano, aliado a um aumento inicial de gastos públicos que foi seguido por uma parada repentina.

E não são apenas os executivos de empresas que estão criticando as medidas do governo. Um levantamento realizado no fim de semana passado pelo instituto de pesquisa CSA descobriu que 68% dos franceses são pessimistas em relação à situação do país. "À luz desta situação", disseram os analistas do CSA, "há o surgimento de críticas espontâneas ao governo, cujas medidas parecem estar aumentando os temores dos franceses em relação ao futuro".

O clima negativo também atingiu o presidente Hollande, cujo índice de aprovação alcançou um novo recorde de baixa. Ele pretende aumentar o apelo de seu governo com uma aparição na emissora France2 nesta quinta-feira (28). No programa, intitulado de "conversa com o presidente da República", Hollande quer convencer o país que ele ainda é capaz de recuperar a economia. Mas, à luz de uma taxa de desemprego quase recorde, esse será um enorme desafio.
Tradutor: Cláudia Gonçalves

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