A vantagem de se viver em Capalbio Scalo, uma cidadezinha à beira-mar na Toscana, são os empregos sazonais, como a limpeza de praias. Foi o último emprego de Alessio, 35, com ar de estudante tardio. Esse jovem italiano de fato foi estudante. Mas há muito tempo… Depois de tirar --"tranquilamente", ele diz, em sete anos em vez de cinco-- o diploma do colegial com especialização em ciências, ele tentou a universidade. Uma faculdade de artes que ele logo abandonou.
Claire Gatinois E Salvatore Aloise
Claire Gatinois E Salvatore Aloise

Em Roma, manifestantes participam de protestos contra o desemprego e a instabilidade econômica da Itália, em 2012
Alessio é prova disso. Desempregado e 'scoraggiato' ("desencorajado"), ele parou de procurar trabalho e saiu das estatísticas. Ele faz parte daquilo que os especialistas chamam de NEET (neither employed, nor in education or training, ou seja, nem trabalhando, nem estudando, nem fazendo estágio). Portanto, no limbo.
A situação desses scoraggiati é mais preocupante ainda do que na Espanha, onde os NEET representam 6,4% dos jovens na faixa dos 15 aos 24 anos e 23,8% dos jovens entre 15 e 34 anos. O índice de desemprego dos jovens espanhóis, superior a 56%, é um dos mais alarmantes da Europa.
"Uma das razões é que, até a reforma do mercado de trabalho de 2012, os jovens na Itália dificilmente tinham acesso ao seguro-desemprego", afirma Stefano Scarpetta, da OCDE. Desde então, eles duvidam que o Estado possa ajudá-los.
A estrutura do sistema de ensino, acadêmico demais e pouco valorizado pelo mundo empresarial, também é culpada, diz acreditar Tito Boeri, professor de economia na Universidade Bocconi de Milão. Na Itália não existe um equivalente ao ensino médio profissionalizante, nem um sistema de estágios em empresas.
Problema estrutural
Por fim, a rigidez do mercado penaliza os recém-chegados. Conseguir um contrato de duração indeterminada é uma causa perdida para os jovens. O governo de Enrico Letta tentou facilitar as contratações, sobretudo para os contratos temporários, mas ainda há muito a ser feito.
Sentado no terraço de um café de Capalbio Scalo, Filippo concorda. Aos 34 anos, ele também aguarda para viver sua vida. Ele mora com seu pai, sustentado pela magra aposentadoria deste. Na falta de opção melhor, faz bicos. "Como músico", diz, "consigo pagar uma cerveja, mas não viver sozinho."
Os sinais tão esperados da recuperação do crescimento poderiam atenuar esse flagelo, mas não o erradicarão. "O problema dos NEET é estrutural na Itália", aponta Ludovic Subran, da Euler-Hermes. "Em 2007, antes da crise, os NEET já representavam 20,1% dos jovens de 15 a 34 anos," ele lembra, "contra 13,9% em média na zona do euro".
Para eles, abordar esse problema é algo urgente. Esses jovens relegados, há tempos demais sem trabalho, colocarão em risco o futuro do país. "Essa situação deixa estigmas", diz Subran. "Os trabalhadores expostos a um ou vários períodos de desemprego no início de sua vida ativa têm salários de 10% a 20% mais baixos que a média aos 40 anos."
Mas o mais preocupante é a tensão social latente suscitada pelo desespero desses jovens ociosos, tentados pela ilegalidade e pela violência. Para não sucumbir, Alessio e Filippo encontraram uma saída. Ambos prestam assistência voluntária a pessoas idosas. "Pelo menos não acordo ao meio-dia, como fiz durante cinco anos, sem saber o que fazer com o resto do meu dia", confessa Filippo.
Tradutor: UOL
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