quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Múmias de crianças incas mostram evidência de rituais de sacrifício


O cabelo de uma menina inca de 13 anos, conhecida como "a Donzela", revela sinais de coca e álcool que lhe foram dados nos meses que antecederam seu sacrifício ritual. A múmia congelada da menina foi encontrada enterrada em posição sentada perto do cume de um vulcão, na atual Argentina.

NYT
O cabelo de três múmias incas apresenta evidência de que uma delas fez uso de grandes quantidades de coca e álcool no ano que antecedeu sua morte, com as quais ela pode ter sido alimentada como parte do ritual que levou à sua morte.
As crianças, que foram encontradas em 1999 perto do cume do vulcão Llullaillaco na Argentina, provavelmente morreram cerca de 500 anos atrás em um ritual de sacrifício conhecido como capacocha. No estudo, publicado na "Proceedings of the National Academy of Sciences", pesquisadores liderados pelo arqueólogo Timothy Taylor, da Universidade de Bradford, Reino Unido, usaram espectrometria de massas para analisar as variações dos níveis de resíduos químicos nos cabelos das crianças nos meses que antecederam suas mortes.

Os pesquisadores procuraram por subprodutos da metabolização de coca e álcool –ambos importantes na cultura e rituais andinos– e descobriram que todas as três crianças ingeriram ambas as substâncias no ano que antecedeu suas mortes. Mas a mais velha –uma menina de 13 anos conhecida como A Donzela– tomou muito mais de ambas as substâncias do que as crianças mais novas. O padrão de consumo sugere que uma série de rituais a preparando para seu destino teve inicio cerca de um ano antes dela partir para morrer no topo do Llullaillaco, com 6.739 metros de altitude.

Os níveis de metabólitos em seu cabelo, por exemplo, aumentaram cerca de um ano antes de sua morte e então dispararam para níveis muito altos cerca de um mês e meio antes de sua morte –seu cabelo registrou o nível mais elevado de coca já encontrado em restos mortais arqueológicos andinos, diz John Verano, um antropólogo biológico da Universidade de Tulane, em Nova Orleans.

"Nos estágios finais de sua vida, nós vemos um uso de álcool muito além da exposição a qual ela estava acostumada, e o uso simultâneo de álcool e coca, que muito provavelmente era um meio de sedá-la", diz Andrew Wilson, um cientista forense e arqueólogo da Universidade de Bradford, e um coautor do artigo.
Onze tumbas pré-inca são encontradas em complexo esportivo no Peru. Múmia foi descoberta em Tupac Amaru, em Lima, no Peru. De acordo com o Ministério da Cultura, 11 tumbas pré-inca foram achadas em um complexo esportivo onde a seleção de futebol do país treina. Os ossos pertencem à cultura Lima (200-700 d.C.) e à cultura Yschma (1100-1400 d.C.)
 Os resultados são consistentes com um estudo anterior, no qual Taylor, Wilson e seus colegas mostraram que a dieta da Donzela provavelmente mudou para incluir mais alimentos de maior status –como carne e milho– cerca de um ano antes de sua morte, sugerindo que ser escolhida para sacrifício lhe concedia uma posição social elevada. Em comparação, as duas crianças mais novas encontradas com ela tinham cabelo menos bem cuidado e foram enterradas com artefatos que sugeriam que não atingiram o mesmo status elevado que ela.

Somadas, essas descobertas indicam que a Donzela pode ter sido uma aclla, uma menina treinada em tecelagem e preparo de chicha –uma cerveja de milho– que poderia se tornar uma sacerdotisa ou esposa de um homem politicamente importante. As acllas também podiam ser destinadas para sacrifício, o que parece ter sido o destino da Donzela. Ela pode ter sido escolhida para sacrifício por volta da época de sua puberdade e então conduzida por uma série de rituais durante a jornada de meses de Cuzco, a capital inca, até seu local de descanso final.

Outros pesquisadores disseram que apesar de ser conhecido que essas e outras vítimas de capacocha mascavam folhas de coca, o estudo de Taylor e Wilson combinam técnicas forenses com conhecimento arqueológico para desenvolvimento de um quadro completo das atividades das crianças antes de serem sacrificadas.

Ao analisar uma série de segmentos de cabelo em vez de conduzir análises a granel dele, os autores puderam "determinar o consumo mês a mês dessas substâncias até o momento da morte", diz Verano.

Ele acrescenta que as descobertas também refletem a importância de ter acesso científico aos restos mortais ancestrais, um assunto que é controverso com alguns povos indígenas.

"É muito importante permitir o estudo científico desses restos mortais, porque as técnicas mudam a cada ano, e este tipo de estudo nem mesmo poderia ter sido feito dois anos atrás", diz Verano.

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