O programa Mais Médicos foi uma resposta ao movimento social dos últimos meses. Há nele propostas que merecem apoio e outras inadmissíveis. A forma atabalhoada de encaminhamento gerou acirramento e cizânia. O movimento médico rejeitou o projeto em bloco e ainda se retirou dos espaços institucionais de negociação. Entretanto, escolas médicas, especialistas e profissionais continuaram criticando e fazendo sugestões de mudanças. Espera-se que governo, parlamentares, universidades, tenham capacidade de negociação para além de seus interesses particulares.
GASTÃO WAGNER DE SOUSA CAMPOS
GASTÃO WAGNER DE SOUSA CAMPOS

Merece ainda apoio a ampliação de 10 mil vagas para residência. Particularmente para médicos de saúde da família e comunidade (generalistas, especializados em atenção primária) e outros especialistas em falta no SUS: anestesistas, psiquiatras, oncologistas, pediatras, entre outros.
Entretanto, não tem cabimento a proposta de mais 10 mil vagas/ano para graduação médica. De fato, necessitamos de mais médicos e mais vagas nas faculdades de medicina, porém entre 3 mil e 4 mil/ano. E, nesse caso, priorizar esse crescimento por meio de faculdades públicas. Não há porque estimular a abertura de escolas privadas.
Resta a intenção governamental de "importar" médicos estrangeiros no caso de os brasileiros não preencherem a cota necessária. Caso se adotasse a proposta de realizar-se o primeiro ano de residência, em todas as especialidades, na atenção primária, seriam 7 mil médicos a mais na rede básica. Sendo adotado um modelo decente de contratação, com certeza se inscreveriam mais candidatos que os 4 mil inscritos no Mais Médicos. Nesse caso, a necessidade imediata de estrangeiros seria reduzida. Falta também aperfeiçoar e desburocratizar o sistema de revalidação de diplomas. Em situações extremas o governo poderá valer-se de programas emergenciais, sempre como ultimo recurso.
O Brasil escolheu o direito universal à saúde. Trata-se de um princípio ético que se transformou em lei, a qual responsabilizou o Estado e a sociedade pela transformação desse valor abstrato em realidade. Indicou-se ainda um modelo organizacional para dar concretude a essa aspiração: o SUS.
Falta, todavia, enfrentar o entrave do subfinanciamento. Calcula-se que seria necessário dobrar os gastos com o SUS - de 3,6% do PIB, chegar-se a mais de 7%. Eliminando o incentivo fiscal e os repasses do orçamento público ao setor privado, cálculos indicam que seriam injetados mais de R$ 20 bilhões no SUS ao ano.
O Brasil precisa de Mais SUS.
GASTÃO WAGNER DE SOUSA CAMPOS, MÉDICO SANITARISTA, É PROFESSOR DO DEPARTAMENTO DE MEDICINA PREVENTIVA, SOCIAL DA UNICAMP

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