quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Por uma nova escola

Em visita ao Brasil, filósofo e educador colombiano Bernardo Toro critica modelo de educação adotado na América Latina. Para ele, não se pode falar em ensino público enquanto houver dualidade no sistema escolar.

Célio Yano

Por uma nova escola

Aluno assiste a aula em escola. Para o filósofo Bernardo Toro, motivação e uso de métodos adequados são essenciais para o sucesso da aprendizagem
O modelo de escola adotado na América Latina não funciona, e a chave para a sua melhoria está em repensar o próprio conceito de educação. A opinião é do filósofo e educador colombiano Bernardo Toro, professor aposentado da Universidade Javeriana, de Bogotá, e membro dos conselhos da Confederação Colombiana de ONGs e do Centro Colombiano de Responsabilidade Empresarial.
Toro esteve no Brasil na semana passada para participar do Salamundo 2013, evento internacional de educação realizado em Curitiba. “Muitas pessoas definem a escola como um lugar onde se dá aulas, e o educador como o profissional destinado a dar aulas”, disse. “Dar aulas é apenas uma estratégia; o objetivo da escola e do professor tem que ser que os alunos aprendam.”
“A educação existe por um único motivo: porque saber não é natural do ser humano”, afirmou. “Sendo a educação um instrumento artificial, podemos mudá-la em nosso proveito.”
Bernardo Toro

Toro fala em evento sobre educação em Curitiba. Colombiano acredita que, a rigor, não se pode falar em educação pública no Brasil ou em qualquer outro país latino-americano
Em 1997, o pesquisador definiu sete capacidades que considerava necessárias desenvolver em crianças e jovens para que tivessem participação produtiva no século 21: leitura e escrita; cálculo e solução de problemas; análise, síntese e interpretação de dados, fatos e situações; compreensão e atuação em seu entorno social; recepção crítica dos meios de comunicação; localização, acesso e melhor uso da informação acumulada; e planejamento, trabalho e decisão em grupo.
Mais de uma década e meia depois, Toro insiste que a lista, que chamou de Códigos da Modernidade, ainda é válida. “Acrescentei apenas um código a mais: é preciso aprender a ajudar e a pedir ajuda”, disse, em entrevista à CH On-line. Segundo o colombiano, nenhum sistema de ensino público segue integralmente o modelo que ele propõe.
Educação pública?
Para o filósofo, a rigor, não se pode falar em educação pública no Brasil ou em qualquer outro país latino-americano. “Imagine que uma parte da população de Curitiba receba água potável e outra parcela tenha acesso a uma água de menor qualidade”, comparou. “Nesse caso, a água seria um bem público?”
“O que há é uma educação estatal e uma privada, mas não uma educação pública”, disse, em entrevista após a palestra. O filósofo é defensor da ideia de que se filhos de ocupantes de cargos de poder, como prefeitos, governadores e parlamentares, estudassem em escolas públicas, seus pais trabalhariam de maneira mais contundente em prol da melhoria do sistema educacional.
“Vocês e eu já tivemos nosso tempo, de modo que é uma infração ética roubarmos o tempo dos estudantes”
Em sua exposição, Toro defendeu ainda o ensino em tempo integral, alegando que em países desenvolvidos os alunos passam muito mais horas expostos ao aprendizado. “Mas o tempo de aula não é dos professores, deve ser integralmente dedicado ao aluno”, ressaltou à plateia formada em grande parte por educadores. “Vocês e eu já tivemos nosso tempo, de modo que é uma infração ética roubarmos o tempo dos estudantes.”
Para ele, o bom professor é aquele que tem expectativas positivas de seus alunos e que não os culpa pelo fracasso. “Uma criança que é reprovada não pode assumir uma responsabilidade que não é dela”, afirmou. “Qualquer pessoa, em qualquer idade – inclusive na minha –, pode aprender qualquer coisa que quiser se tiver motivação e usar o método adequado.”
“Dar aulas é muito fácil – difícil é fazer as pessoas aprenderem”, disse o educador. Citando o poeta brasileiro Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), deu a entender que o Brasil deve assumir a posição de líder para promover uma mudança em escala internacional: “O presente é tão grande, não nos afastemos / Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas”, declamou. Na opinião de Toro, se o Brasil mudar, toda a América Latina muda junto.
Célio Yano
Ciência Hoje On-line/ PR

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