sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Refugiados sírios no Líbano vivem momentos de desespero


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No apertado cômodo que serve de casa para Rabih e sua família, tudo cheira a provisório: desde os móveis improvisados até a nudez das paredes, exceto pelos desenhos das crianças. Refugiado há alguns meses nos arredores de Halba, uma região montanhosa do norte do Líbano, esse sírio por muito tempo acreditou que seu exílio seria somente temporário.

Laure Stephan
Mulheres andam com os filhos ao longo de uma rua na cidade síria de Ras al-Ain, perto da fronteira com a Turquia. A região tem sido palco de confrontos entre jihadistas e combatentes curdos
Mas na terça-feira (30), o nativo de Tall Kalakh, aldeia fronteiriça retomada pelo regime de Bashar al-Assad no final de junho, foi categórico: o afastamento vai durar. "A província de Homs parece perdida. Os rebeldes continuam sendo derrotados", constata em um tom amargurado esse motorista. Na terceira maior cidade da Síria, o bastião insurgente de Khaldiyé foi retomado pelo exército sírio e pelo Hezbollah na segunda-feira, e somente o centro antigo da cidade ainda escapa das tropas legalistas.
"É claro, estão acompanhando com frenesi o avanço do Exército Sírio Livre (ESL) no norte e no sul da Síria. Mas, para nós, moradores da zona fronteiriça com o Líbano que o regime protege com unhas e dentes, tudo parece perdido. Quem nos trará de volta nossas terras? A rebelião parece desorientada, e não podemos contar com a oposição externa", se queixa Rabih. Um de seus irmãos foi dado como desaparecido na Síria, e o outro é combatente na rebelião.
Tall Kalakh deu muito que falar na imprensa: dentre as primeiras cidades a se mobilizarem contra Bashar al-Assad, ela foi palco de uma emboscada armada no final de 2012 por legalistas para islamitas libaneses que foram se juntar à rebelião. Ela também foi local de um massacre no final de março, cuja responsabilidade seria do regime, segundo os rebeldes, e vice-versa.
"A Síria sem Bashar não parece que acontecerá tão cedo"
Mas sua reviravolta passou quase despercebida, ofuscada pela batalha de Qusair, da qual o Hezbollah e as tropas sírias saíram vencedoras no dia 5 de junho. A mídia oficial afirmou que a cidade, dominada pelos insurgentes, se alinhou ao regime por decisão de autoridades locais que queriam evitar combates destruidores. Em uma rendição emblemática, rebeldes foram filmados entrando para as fileiras do exército.
Na região de Halba, os refugiados dão um relato diferente. Protegido do calor do verão, sob a sombra de um pomar, Ramez, rico comerciante de Tall Kalakh que participou do financiamento da rebelião, conta como foi sua fuga em julho ao final de dois anos de clandestinidade.
Ele acredita que o estranho "cessar-fogo" que prevaleceu durante vários meses entre a insurreição de Tall Kalakh e o exército e as milícias pró-regime dos vilarejos vizinhos foi rompido "quando o governo entendeu, após a queda de Qussair, que ele podia ampliar sua vantagem". "Que ninguém se engane: Tall Kalakh foi sitiada, apesar da trégua."
Ramez também está desmoralizado: "Diante das vitórias do regime na província de Homs, a Síria sem Bashar não parece que vai acontecer tão cedo." Desde o final de junho, muitos habitantes deixaram Tall Kalakh, de acordo com vários testemunhos. "Não há combates, os rebeldes desertaram a cidade para ir a outros vilarejos mais ao norte. Mas todo mundo tem medo das prisões para punir a cidade", afirma Fatima, tia de Rabih, em meio a gritos de crianças incontroláveis e entediadas. Entorpecida pelo calor, a senhora acaba de chegar de Tall Kalakh.
"Todos aqueles que têm os meios estão deixando essa cidade marcada pelas destruições, regida pelo mercado negro e pelas milícias", diz essa síria com sua voz rouca de fumante. "É como em Qussair; quem ia querer morar lá, em um campo de ruínas?"
Refugiados enfrentam a indigência
Essas partidas contribuem para alimentar a preocupação dos refugiados de Halba, sunitas, quanto à possível transformação comunitária da província de Homs em prol de uma minoria alauíta, origem do presidente sírio.
No Líbano, eles também se perguntam como enfrentar a precariedade, para não dizer indigência: em uma pequena "cesta básica", Rabih mostra os sacos de grão-de-bico e de arroz, a garrafa de óleo, artigos usados a conta-gotas. Seu vizinho, Jaafar, cuja barba mal disfarça a magreza, vende muito barato parte dos cupons alimentares distribuídos pelas Nações Unidas para pagar o aluguel de sua loja térrea.
No pomar onde Ramez se abriga, dois mendigos se aproximam, pedindo esmolas com insistência. "É esse o destino reservado aos refugiados sírios", ele lamenta. "E isso só pode piorar". Embora duvide de um retorno breve, ele tampouco acredita em uma verdadeira normalização em Tall Kalakh, de tanto medo que as pessoas sentem, segundo ele: "Ele não está somente do lado dos partidários da rebelião. Foi graças a um chefe de milícia, um homem rico de quem eu era amigo bem antes da revolta, que pude deixar Tall Kalakh. Embora pertença ao lado dos vencedores na região, ele vive com o temor de delações e vinganças."

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