O único som que podia ser ouvido em um dia útil recente na usina de mistura de concreto de Abu Eida, no norte de Gaza, era o canto dos pássaros. As bombas, misturadores e outros veículos pesados estavam ociosos há dias.
Fares Akram
Fares Akram
Palestinos constróem túnel para contrabando entre Gaza e o Egito, na quarta-feira (24); 50 mil prejudicados
O piso da usina estava vazio. Em uma sala de oração dentro do setor administrativo com ar condicionado, cinco homens tiravam um cochilo vespertino. O trabalho aqui está virtualmente parado desde a derrubada pelos militares egípcios do presidente Mohamed Morsi, no início deste mês, disseram funcionários.
Além da tomada do Cairo, os militares egípcios intensificaram sua campanha contra os militantes islâmicos que operam contra suas forças na acidentada Península do Sinai, que faz fronteira com Gaza. A repressão resultou na destruição ou fechamento de cerca de 80% dos túneis que cruzam a fronteira Gaza-Egito, há muito usada para contrabando de armas e fugitivos, mas também para materiais de construção, combustível barato e outros bens restringidos por Israel.
Por ora, Abu Eida não possui cimento ou brita para operar sua usina, uma das maiores em Gaza, o território costeiro palestino. Manar al-Batsh, um contador da usina, disse que 40 funcionários estão ociosos em casa.
"Se a crise durar até o fim deste mês, nós não poderemos manter esses trabalhadores em nossa folha de pagamento", ele acrescentou.
Para o Hamas, o grupo militante islâmico palestino que dirige Gaza e tem suas raízes na Irmandade Muçulmana, o partido de Morsi no Egito, a turbulência no país vizinho significa a perda de um importante amigo e uma crise econômica iminente se as restrições aos túneis continuarem.
O Hamas, que se recusa a reconhecer Israel e é considerado uma organização terrorista por grande parte do Ocidente, enfrenta crescente isolamento físico e político.
As novas restrições na travessia de fronteira de Rafah, o principal acesso de Gaza ao Egito e ao mundo exterior, limitam a viagem a detentores de passaporte estrangeiro e aos pacientes com encaminhamento médico oficial do Ministério da Saúde dirigido pelo Hamas. Membros do Hamas não podem sair de Gaza e, dada a situação da segurança no Sinai, missões de ajuda e solidariedade não conseguem entrar no território.
Materialmente, o Hamas depende dos impostos que cobra do comércio clandestino. Especialistas estimam o orçamento anual do grupo em US$ 900 milhões. O Hamas emprega quase 50 mil funcionários públicos em Gaza, com dois terços do orçamento gastos em salários.
Omar Shaban, um economista de Gaza e diretor do PalThink, um instituto de pesquisa independente, disse que os impostos cobrados do comércio dos túneis representa cerca de um terço do orçamento. Receita adicional vem dos impostos sobre as empresas locais, muitas também dependentes dos bens baratos dos túneis que agora estão escassos. Combustível do Egito é vendido aqui pela metade do preço do combustível importado de Israel.
O Hamas já está sofrendo com a queda acentuada do financiamento pelo Irã nos últimos meses, por não ter apoiado o presidente da Síria, Bashar Assad, outro ex-benfeitor, em sua luta contra as forças rebeldes.
Yasser Othman, o representante do Egito para a Autoridade Palestina na Cisjordânia, disse para um jornal palestino nesta semana que as medidas extraordinárias de segurança ao longo da fronteira com Gaza não são direcionadas contra o território palestino, mas sim visam "proteger a segurança nacional do Egito". Ele disse que as medidas terminarão assim que "a situação excepcional terminar".
Mas no Egito, há uma campanha em curso na mídia contra o Hamas, já que os críticos de Morsi associam o grupo à violência ao longo da fronteira no Sinai. Oficiais militares egípcios disseram à mídia estatal que muitos combatentes e atiradores do Hamas estão entrando no Egito para combater os manifestantes anti-Morsi. Colunistas de jornal acusaram o Hamas de interferir nos assuntos do Egito, e apresentadores de TV liberais chamaram abertamente o Hamas de "braço militante da Irmandade Muçulmana", incitando o sentimento anti-Morsi e anti-Hamas.
Além da tomada do Cairo, os militares egípcios intensificaram sua campanha contra os militantes islâmicos que operam contra suas forças na acidentada Península do Sinai, que faz fronteira com Gaza. A repressão resultou na destruição ou fechamento de cerca de 80% dos túneis que cruzam a fronteira Gaza-Egito, há muito usada para contrabando de armas e fugitivos, mas também para materiais de construção, combustível barato e outros bens restringidos por Israel.
Por ora, Abu Eida não possui cimento ou brita para operar sua usina, uma das maiores em Gaza, o território costeiro palestino. Manar al-Batsh, um contador da usina, disse que 40 funcionários estão ociosos em casa.
"Se a crise durar até o fim deste mês, nós não poderemos manter esses trabalhadores em nossa folha de pagamento", ele acrescentou.
Para o Hamas, o grupo militante islâmico palestino que dirige Gaza e tem suas raízes na Irmandade Muçulmana, o partido de Morsi no Egito, a turbulência no país vizinho significa a perda de um importante amigo e uma crise econômica iminente se as restrições aos túneis continuarem.
O Hamas, que se recusa a reconhecer Israel e é considerado uma organização terrorista por grande parte do Ocidente, enfrenta crescente isolamento físico e político.
As novas restrições na travessia de fronteira de Rafah, o principal acesso de Gaza ao Egito e ao mundo exterior, limitam a viagem a detentores de passaporte estrangeiro e aos pacientes com encaminhamento médico oficial do Ministério da Saúde dirigido pelo Hamas. Membros do Hamas não podem sair de Gaza e, dada a situação da segurança no Sinai, missões de ajuda e solidariedade não conseguem entrar no território.
Materialmente, o Hamas depende dos impostos que cobra do comércio clandestino. Especialistas estimam o orçamento anual do grupo em US$ 900 milhões. O Hamas emprega quase 50 mil funcionários públicos em Gaza, com dois terços do orçamento gastos em salários.
Omar Shaban, um economista de Gaza e diretor do PalThink, um instituto de pesquisa independente, disse que os impostos cobrados do comércio dos túneis representa cerca de um terço do orçamento. Receita adicional vem dos impostos sobre as empresas locais, muitas também dependentes dos bens baratos dos túneis que agora estão escassos. Combustível do Egito é vendido aqui pela metade do preço do combustível importado de Israel.
O Hamas já está sofrendo com a queda acentuada do financiamento pelo Irã nos últimos meses, por não ter apoiado o presidente da Síria, Bashar Assad, outro ex-benfeitor, em sua luta contra as forças rebeldes.
Yasser Othman, o representante do Egito para a Autoridade Palestina na Cisjordânia, disse para um jornal palestino nesta semana que as medidas extraordinárias de segurança ao longo da fronteira com Gaza não são direcionadas contra o território palestino, mas sim visam "proteger a segurança nacional do Egito". Ele disse que as medidas terminarão assim que "a situação excepcional terminar".
Mas no Egito, há uma campanha em curso na mídia contra o Hamas, já que os críticos de Morsi associam o grupo à violência ao longo da fronteira no Sinai. Oficiais militares egípcios disseram à mídia estatal que muitos combatentes e atiradores do Hamas estão entrando no Egito para combater os manifestantes anti-Morsi. Colunistas de jornal acusaram o Hamas de interferir nos assuntos do Egito, e apresentadores de TV liberais chamaram abertamente o Hamas de "braço militante da Irmandade Muçulmana", incitando o sentimento anti-Morsi e anti-Hamas.
Salah al-Bardawil, uma autoridade do Hamas em Gaza, disse em uma entrevista por telefone que a mídia egípcia está sendo "impelida pelos inimigos da resistência" e alguns países árabes que desejam ver o Hamas derrubado, assim como a Irmandade no Egito. Ele reconheceu que as opções do Hamas para lidar com a crise são limitadas, mas disse que o povo palestino está acostumado a suportar adversidades para preservar sua "dignidade e princípios nacionais".
Alguns analistas questionaram se um Hamas enfraquecido permaneceria comprometido com o cessar-fogo com Israel. Em novembro, Morsi exerceu um papel fundamental na mediação de uma trégua, encerrando uma feroz ofensiva israelense de oito dias. O Hamas tem trabalhado desde então para conter o disparo de foguetes por militantes de Gaza contra o sul de Israel.
Por algum tempo após a vitória eleitoral de Morsi no ano passado, o Hamas se sentiu empoderado. Em outubro, o emir do Qatar se tornou o primeiro chefe de Estado a visitar Gaza desde que o Hamas tomou o poder em 2007, e prometeu US$ 400 milhões para grandes projetos habitacionais e de infraestrutura aqui. Mas devido à falta de materiais, a maioria dos projetos de infraestrutura, incluindo os financiados pelos qatarianos, foi temporariamente suspensa.
Abdul-Fattah al-Zeri, do Ministério da Economia dirigido pelo Hamas, disse nesta semana que 50 mil trabalhadores que dependem direta ou indiretamente do setor de construção, como carpinteiros, engenheiros e fabricantes de janelas de alumínio, estão sem trabalho.
"Hoje nós estamos vendo uma economia debilitada, contratos adiados e prejuízos entre os empreiteiros", ele disse.
Israel relaxou seu bloqueio a Gaza em 2010 após intensa pressão internacional. O maior fluxo e variedade de bens de Israel liberou os túneis de contrabando para materiais mais industriais, provocando um boom de construção em Gaza. O desemprego caiu de quase 36% para 26% nos últimos três anos. Agora, disse Zeri, há temores de que aumente de novo, acrescentando: "Nós estamos à beira de uma crise em termos econômicos".
A importação oficial de materiais de construção é restringida por Israel, que diz que eles poderiam ser usados pelo Hamas para a fabricação de foguetes ou construção de fortificações. Por exemplo, disse Zeri, Israel só permite a entrada em Gaza de canos com não mais que 1,5 polegada de diâmetro. Para a importação de eletrônicos, ele disse, os comerciantes de Gaza precisam explicar para o que serão usados e anexar catálogos e manuais de usuário antes da obtenção da aprovação, um processo que ele diz levar três meses.
Outros setores comerciais também estão sentindo os efeitos da repressão egípcia. A maioria dos pescadores de Gaza não consegue sair para pescar por falta de combustível barato. E o mercado de peixes de Gaza estava quase vazio de mercadorias e compradores, diferente da habitual movimentação de comércio durante o mês sagrado do Ramadã, quando os muçulmanos preparam a quebra do jejum diário.
Um pescador, Ali Ayyad, um recém-casado de 28 anos, estava no convés do barco pesqueiro de sua família, que permaneceu ancorado no porto nesta semana, tentando pescar algumas tainhas com vara.
"É melhor do que pedir esmola", ele disse.
Por algum tempo após a vitória eleitoral de Morsi no ano passado, o Hamas se sentiu empoderado. Em outubro, o emir do Qatar se tornou o primeiro chefe de Estado a visitar Gaza desde que o Hamas tomou o poder em 2007, e prometeu US$ 400 milhões para grandes projetos habitacionais e de infraestrutura aqui. Mas devido à falta de materiais, a maioria dos projetos de infraestrutura, incluindo os financiados pelos qatarianos, foi temporariamente suspensa.
Abdul-Fattah al-Zeri, do Ministério da Economia dirigido pelo Hamas, disse nesta semana que 50 mil trabalhadores que dependem direta ou indiretamente do setor de construção, como carpinteiros, engenheiros e fabricantes de janelas de alumínio, estão sem trabalho.
"Hoje nós estamos vendo uma economia debilitada, contratos adiados e prejuízos entre os empreiteiros", ele disse.
Israel relaxou seu bloqueio a Gaza em 2010 após intensa pressão internacional. O maior fluxo e variedade de bens de Israel liberou os túneis de contrabando para materiais mais industriais, provocando um boom de construção em Gaza. O desemprego caiu de quase 36% para 26% nos últimos três anos. Agora, disse Zeri, há temores de que aumente de novo, acrescentando: "Nós estamos à beira de uma crise em termos econômicos".
A importação oficial de materiais de construção é restringida por Israel, que diz que eles poderiam ser usados pelo Hamas para a fabricação de foguetes ou construção de fortificações. Por exemplo, disse Zeri, Israel só permite a entrada em Gaza de canos com não mais que 1,5 polegada de diâmetro. Para a importação de eletrônicos, ele disse, os comerciantes de Gaza precisam explicar para o que serão usados e anexar catálogos e manuais de usuário antes da obtenção da aprovação, um processo que ele diz levar três meses.
Outros setores comerciais também estão sentindo os efeitos da repressão egípcia. A maioria dos pescadores de Gaza não consegue sair para pescar por falta de combustível barato. E o mercado de peixes de Gaza estava quase vazio de mercadorias e compradores, diferente da habitual movimentação de comércio durante o mês sagrado do Ramadã, quando os muçulmanos preparam a quebra do jejum diário.
Um pescador, Ali Ayyad, um recém-casado de 28 anos, estava no convés do barco pesqueiro de sua família, que permaneceu ancorado no porto nesta semana, tentando pescar algumas tainhas com vara.
"É melhor do que pedir esmola", ele disse.
Tradutor: George El Khouri Andolfato
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