terça-feira, 23 de junho de 2015

Rico que pega trem na Suíça, é “constangido” por usar elevador “comum” no Planalto?


23 de junho de 2015 | 08:14 Autor: Fernando Brito
lemann
Ninguém é tolo de pretender “democratismos” demagógicos, do tipo achar que não se pode, em instituições ou empresas, haver bons salários e até, áreas privativas dos diretores.
É obvio que tem de haver restrições, até para não expor, por exemplo, o (ou a) Presidente da República, no cotidiano do Palácio, a se encontrar com um deputado “mala sem alça” que vai ali cavar alguma coisa.
Mas o Paulo Nogueira, no Diário do Centro do Mundo, dá um merecido “pau” no coleguinha Fernando Rodrigues pelo fato de ele dizer que o Palácio do Planalto “constrangeu” o presidente da Inbev, Jorge Paulo Lemann, por fazê-lo subir ao gabinete presidencial pelo “elevador comum”.
Ora, elevador “comum” no Planalto não é um trem da Central lotado, para começar. E até nem seria estranho a Lemann, já que, segundo Fernando Henrique Cardoso – na biografia do empresário – “quando o Jorge Paulo precisa ir a Zurique, pega um trem, conta o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso”.
Depois, chamar Lemanm de “empresário suíço-brasileiro” é o resultado provavelmente da pesquisa de um funcionário qualquer do Cerimonial de buscar na Wikipédia uma identificação do visitante. Poderia ter sido o inverso (brasileiro-suíço, como fez a Exame, da Abril, ao listá-lo entre os mais ricos do mundo) ou apenas brasileiro, e nada disso certamente iria representar ofensa a um homem que, no seu passado – aliás, brilhante – de tenista defendeu, na Copa Davis, tanto a seleção suíça quanto a brasileira.
Mas, claro, isso tudo foi uma “vingança” de Dilma porque Lemann – ou seus sócios – teriam apoiado Aécio Neves… É capaz de acharem que a própria presidenta orientou o ascensorista e corrigiu o dátilógrafo: “bota aí que ele é suíço-brasileiro”…
O nome do que faz Fernando Rodrigues é, em bom português, sabujice…
Leia o texto de Paulo Nogueira, no DCM.

O dia em que o homem mais rico
do Brasil pegou um elevador comum

Um texto da grande mídia me chamou particularmente a atenção na semana passada.
O motivo é que ele era extraordinariamente revelador da mentalidade que domina as corporações jornalísticas.
O autor do texto é o jornalista Fernando Rodrigues, do UOL.
Ele escreveu sobre o “constrangimento” imposto ao “homem mais rico do país”, Jorge Paulo Lemann, por este ser obrigado a usar o elevador comum numa visita a Dilma no Palácio do Planalto.
Usar elevador comum é fonte de constrangimento: este é o ponto de Fernando Rodrigues.
Um fotógrafo reconheceu Lemann e registrou a cena. Rodrigues classificou-a, triunfante, como um “furo”.
Pobre sociedade brasileira.
Na Escandinávia, como Claudia Wallin mostrou em seus textos, juízes da Suprema Corte se locomovem de bicicleta de casa rumo ao trabalho. Dirigem seus próprios carros, pagam suas contas, lavam suas roupas.
E dividem os elevadores com as pessoas que querem subir ou descer.
Primeiros ministros também.
É uma cultura igualitária – e é aquela pela qual se bate o DCM.
No Brasil, pelo menos no Brasil das empresas de jornalismo, é o oposto. Um empresário pegar o elevador comum é um embaraço.
É uma coisa que reflete o que os jornalistas vêem em seu ambiente de trabalho. Quase sempre, quando os patrões chegam, os elevadores são imperialmente bloqueados aos demais funcionários.
Sua Majestade chegou.
Essa mentalidade está na raiz dos privilégios dados ao chamado 1%. Entende-se que eles não pertencem ao mesmo mundo de todos os outros, mas a uma esfera superior, digna do tratamento dispensado aos Luíses da França pré-Revolução.
Pegar seu próprio café passa a ser um insulto. Lavar sua própria sujeira, pior ainda. Dirigir seu próprio carro, nem pensar.
Aliás: quem falou em carro próprio?
Veja os juízes do STF. Não apenas andam de carros pagos pelos contribuintes como têm motoristas para levá-los a almoços e jantares que não pagarão com o seu dinheiro.
É isso também que leva um senador como Aécio a achar normal requisitar um avião da FAB, sustentado pelos contribuintes, para uma missão patética na Venezuela.
Na classe média, essa mentalidade é uma tragédia. Não lavamos nossos pratos, não fazemos nossa cama. E se quem faz isso por nós ascende socialmente, como aconteceu nos últimos anos, ficamos revoltados e vamos bater panelas.
Na Escandinávia, vigora a Janteloven, um código de conduta derivado do que vigorava nos romances de um escritor antigo local.
O primeiro mandamento é: “Não sou melhor que você e nem pior.” O lixeiro não é pior que o primeiro ministro, o milionário não é melhor que a faxineira.
No Brasil das companhias jornalísticas, um empresário sofre um constrangimento se pegar um elevador ao lado de gente comum.
O dia em que esse tipo de mentalidade desaparecer – e o DCM contribuirá para tanto, na medida de nossas modestas possibilidades – seremos uma sociedade enfim desenvolvida.

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