segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Militância faz ato de solidariedade aos petistas presos


Durante todo o sábado, cerca de 100 petistas suportaram forte calor, xingamentos de populares e provocações de jornalistas em frente à sede da PF.


Najla Passos
Marcello Casal Jr.

Brasília - O sábado (17) não foi fácil para os militantes do PT que fizeram plantão na porta do edifício sede da Polícia Federal (PF), em Brasília, para prestar solidariedade aos companheiros de partido presos irregularmente durante o feriado da república. Além da indignação pelas prisões em decorrência de um julgamento que consideram político, tiveram que amargar a frustração de não conseguirem ter acesso aos companheiros: na última hora, a PF decidiu levar o ex-ministro José Dirceu e o ex-presidente do PT, José Genoíno, que chegavam de São Paulo, diretamente para o presídio da Papuda. Já o ex-tesoureiro do PT, Delúbio Soares, que já estava na capital federal, fez a opção pessoal de acessar o prédio abaixado no banco de trás do carro, com a cabeça coberta pelo paletó do terno.

Os primeiros militantes começaram a chegar à sede da PF quando o dia ainda nem havia nascido: logo após as 6h. Já encontraram por lá equipes de reportagem da TV Globo e do jornal Folha de S. Paulo, que dormiram no local para não correrem o risco de perder as imagens pelas quais anseiam há oito anos. Passaram o dia inteiro no descampado, sob um sol escaldante. No final da tarde, somavam cerca de 100 pessoas, conforme cálculo da Polícia Militar (PM), e 150, conforme os organizadores. A imprensa, porém, acordou de estimá-los em 80. 

Ouviram todo tipo de provocação de populares. A maioria passava pelo local de carro, gritava desaforos como “vagabundos” e “ladrões” e depois acelerava forte.
Mais ousado foi o aposentado Edson Lucas, que desceu do ônibus em que estava para pedir satisfações ao que classificou de “petistas safados”. Defendendo o fechamento do congresso e a volta dos militares ao poder, chegou a correr a trás do militante Ademário Nogueira, ameaçando-o de agressão. A cena foi registrada por alguns jornalistas.

Também sofreram reprimenda de um militante isolado, que tomou o microfone para defender a prisão dos petistas e pregar uma mudança rumo a um novo PT, mas não quis se identificar. O som foi cortado. O bate-boca iniciado só foi contornado com a intervenção da deputada Érika Kokay (PT-DH), que tentou convencê-lo que o momento era de prestar solidariedade aos companheiros presos, e não de travar discussões internas. Mais um prato cheio para a imprensa que registrou afoita o “autoritarismo da máquina petista”.

Ouviram muita bronca também dos repórteres de TV, que não conseguiam gravar suas participações ao vivo: cada vez que uma câmara era ligada, os militantes se postavam atrás dele com cartazes criticando a sonegação da Globo e gritando palavras de ordem do tipo “O povo não é bobo, abaixo a Rede Globo”. A Globo News suspendeu todas as entradas ao vivo do local. Os militantes se justificavam, em uma espécie de catarse coletiva: “vocês monopolizaram o discurso sobre o mensalão durante esses oito anos: agora, é nossa vez de falar”.

Momento tenso foi quando o repórter Gabriel Castro, da revista Veja, incitou um militante a sair no braço com ele, não se sabe por qual motivo. “Venha discutir comigo, venha. Deixem ele vir”, gritava ele, enquanto a turma do deixa disso tentava evitar a consagração de mais uma manchete negativa. Da parte da militância do PT, prevaleceu o bom-senso.

Quando um ônibus da PF chegou ao local, houve outro princípio de confusão: os manifestantes queriam acessar a grade do prédio, para prestarem solidariedade, e os jornalistas, para garantirem suas imagens. Uma repórter fotográfica não identificada ameaçou fisicamente o coordenador de Juventude do Governo do DF, Carlos Odas, que preferiu sair do local para evitar confronto. A luta pelo espaço foi travada até que todos descobriram a encenação: os presos já haviam sido transferidos para outro local.

Mas o ato-espera que durou até às 19h também teve momentos de muita emoção e de enfrentamento. As bandeiras da democratização da mídia e do fim da criminalização dos movimentos sociais e partidos políticos foram reatualizadas. 

Odas tentou um diálogo com os muitos profissionais de imprensa que também aguardavam no local: “Os senhores não poderão chegar nas redações dos seus veículos e escreverem matérias cobrando a apuração do mensalão tucano e do escândalo do metrô de São Paulo, ou mesmo punição para o ex-senador Demóstenes Torres, porque o patrão não vai deixar, porque o “dono” da concessão pública não vai deixar”.

O escritor e secretário de Cultura do DF, Hamilton Pereira, lembrou, muito emocionado, quando recebeu Genoíno, com 41 graus de febre, saindo de uma célula de tortura, na cela da prisão de um espaço físico como aquele da PF. “É um homem digno, que lutou pelo povo brasileiro e que não se dobra, assim como não se dobra José Dirceu. A existência do PT, aos olhos da elite, é por si só um crime”, afirmou. Para o militante histórico, o julgamento do mensalão pode ser definido como uma infâmia movida pelo poder que não tem que prestar contas ao povo.

“Todas as disputas democráticas nós vencemos. Mas na Justiça não há disputas: é um poder paralítico que serve de refúgio para a elite que nós derrotamos nos espaços democráticos”, avaliou.

Membro da executiva nacional do MST, João Paulo Rodrigues foi prestar a solidariedade do movimento aos petistas. “Nesses 30 anos de MST, sofremos na pele o que é esse judiciário, o que é essa PM e o que é essa mídia. Esse julgamento foi um absurdo: não deu direito à defesa e criminalizou os acusados com base em editoriais dos jornais”, afirmou.
Créditos da foto: Marcello Casal Jr.

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