Desde que o assunto ganhou a agenda popular, está cada vez mais difícil distinguir propostas que realmente valem a pena daquelas seculares disfarçadas de novidades ou das novidades verdadeiras que servem para nada. Afinal, o mercado é especialista em colocar verniz em madeira velha e os governos não disfarçam a falta de talento para um discurso novo. Vivemos um tempo senão perigoso, muito delicado.
A brisa fresca e eufórica que sopram as start-ups da educação tem batido contra um paredão de concreto criado pelas propostas de economistas, institutos ou dos governos. Assistir a uma discussão entre “especialistas” em programas de televisão costuma ser mais eficaz que um Prozac. Por outro lado, qualquer fórum moderninho que se arrisque a debater educação costuma trazer à tona questões importantes de forma rasa e um tanto quanto simplória – um olhar demasiado naif, mas não desimportante.
O irônico é que nenhum dos lados parece estar mais próximo que outro de uma verdade para nosso complexo sistema educacional e seus já tradicionais problemas. O Brasil perdeu um olhar conceitual, não-contábil, qualitativo, de como pretende entregar milhares de alunos para encarar uma vida de direitos, deveres e trabalho após a escola. Essa falta de ambição deve-se talvez ao excesso de movimentos, grupos e ações que não se conversam quando o assunto é a qualidade do ensino. Nesse campo, a sociedade civil parece mais desorquestrada que os partidos políticos.
Quem pensa e executa políticas públicas em educação tem caído na tentação de repetir discursos. Umareal transformação dos modelos educativos parece estar mais distante do que há um ano. Voltamos no tempo por preguiça em ousar. A tal “educação integral” somada a “melhor gestão de recursos” e também a “formação de professores” já é uma fórmula óbvia e cansativa.
Como chegar nisso? Há tentativas e erros, e também acertos – não poderia ser diferente. Mas quem estagnou nesse discurso não consegue imaginar, ou projetar, uma educação formal cujo modelo se diferencie totalmente do modelo curricular que vivemos. Em outras palavras: a fórmula é uma resposta antiga para o que existe, mas não ousa transformar modelos em virtude de novas demandas que surgem diariamente nas escolas. Um exemplo simples e verdadeiro: até quando vamos estudar Matemática de forma pura, decorando fórmulas?
No caso dos que defendem a inovação, com certeza há um novo aplicativo que faz equações para medir a altura de árvores. Resolve o problema? Talvez um centésimo dele, quando falamos das equações de primeiro grau. Mas e o olhar sistêmico para o que significa o aprendizado de Matemática da vida prática de cada um de nós? E nossas contabilidades diárias que exigem outras demanda de conhecimento? E a música, tão presente na vida do brasileiro, que transborda números?
O mercado norte-americano de educação, que costuma passar para o aluno o alto custo da inovação, acaba de entrar num terrível dilema. O endividamento do setor já é maior que o dos cartões de crédito o que fez com que escolas e universidades puxassem o freio de mão com gastos em novidades.
Para construir o novo é preciso de um pouco do velho: da história e do olhar sistêmico. Por isso, não devemos aguardar ansiosos e nem nos deslumbrarmos com o próximo grito de “Eureka!”. Desconfiemos dele. Na educação, compartilho meus pensamentos com o personagem de “Homem Comum”, do norte americano Philip Roth: inspiração é para amadores. Vamos acordar pela manhã e trabalhar, como qualquer um.
Alexandre Sayad é jornalista especializado em direitos humanos, colaborou com O Estado de S. Paulo e Rádio Eldorado, e coordena programas de Civic Midia, com a Universidade de Harvard.
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