quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

As idas e vindas do café. por William de Brino


 A cafeicultura é atualmente uma das poucas atividades agrícolasque ainda gera considerável e relevante emprego no campo, e que se caracteriza por grande participação na agricultura familiar. Segmento que representa a maioria dos estabelecimentos rurais e número de produtores, que em certos casos são dependentes exclusivamente da atividade cafeeira com geradora de renda. 

Assim, quando ocorre um período de crise nos preços do café, como pode ser observado a forte tendência baixista do mercado ao longo de 2013, o impacto socioeconômico da cafeicultura pode ter consequências irremediáveis a médio prazo a grande número de produtores, e inevitáveis prejuízos à economia brasileira.

Talvez poucas commodities agrícolas como o café arábica sofram tanto com a volatilidade dos preços e isso traz resultados muito complicadores para o gerenciamento, planejamento dos custos e condução de uma cultura permanente e que por razões fisiológicas ainda possui bienalidade na produção. E o mercado é irredutível ao seguir a clássica lei de oferta e demanda ainda mais sentido pelo setor cafeicultor brasileiro com a desregulamentação e medidas de desestímulo à intervenção econômica no início dos anos 1990 marcada pela extinção do Instituto Brasileiro do Café (IBC).

Todavia, são nos momentos de crise em que muitos refletem a fim de que mudanças ou novas estratégias possam ser elaboradas, ou até mesmo atitudes advindas dos próprios produtores e nem tanto por medidas governamentais, por mais que estas, dentro de certos limites, sejam insubstituíveis, ainda mais num momento delicado que poderia afetar negativamente a balança comercial agrícola brasileira e reflexos sociais como o êxodo rural.

Entretanto, políticas agrícolas que garantam o preço mínimo devem ser vistas com cautela, uma vez que podem refletir mais na preocupação dos reguladores com a expansão e controle da produção de café em detrimento a sua melhoria na qualidade; ainda que na atual conjuntura o ágio no preço para quem produz café com qualidade seja pequeno, desmotivando mais o cafeicultor.

Alguns caminhos estratégicos são muito comentados e entre eles o mais discutido é a falta ou ainda incipiente coordenação político-econômica com soluções que possam ser bem sucedidas a cafeicultura. Alguns tem seguido um caminho mais promissor, como associar a identidade com a qualidade dos cafés, ao explorar a grande variedade de tipos de cafés, resultante de diversas micro-regiões produtoras, atrelando a sustentabilidade social, ambiental e econômica, não deixando de lado a rentabilidade com altas produtividades, apenas possíveis com investimento em tecnologia e conhecimento humano para adotar boas práticas agronômicas.

Do mesmo modo, seria pertinente considerar a adoção de uma política estratégica no marketing dos cafés brasileiros, de maneira a dar visibilidade ao produto e estimular o consumo, já que produzir cafés de qualidade não necessariamente remete ao fato de comercializá-los.

E como momento de reflexão histórica, é de conhecimento que a cafeicultura ao longo de quase três séculos no Brasil passou por memoráveis momentos de baixa e de alta, resultante dos mais diversos fatores, como clima, pragas, doenças e economia. No entanto, isso são ciclos inerentes a cultura e ao processo da conjuntura do sistema capitalista, em que os impactos podem ser atenuados com o tempo e adequados mecanismos de reestruturação do setor cafeicultor. Este, por sua vez, se confunde em muito com a História do Brasil, ao servir de instrumento importantíssimo ao crescimento deste país, constituindo-se como um catalisador de investimentos, infra-estrutura e todas as divisas necessárias para o processo de industrialização e profundos reflexos nas mudanças sociais, políticas e econômicas.

William de Brino Silva
Engenheiro Agrônomo
williamdebrino@hotmail.com

Fonte: http://falacampo.wordpress.com/2013/12/14/as-idas-e-vindas-do-cafe/

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