A superproteção e o excesso de controle pelos adultos aparecem como principais causas da vivência
do tédio e apatia na infância. Uma pesquisa desenvolvida no Instituto de Psicologia (IP) da USP
mostra que a presença constante de adultos controlando as ações das crianças contribuem para
a falta de autonomia e espontaneidade delas.
Fernando Pivetti
do tédio e apatia na infância. Uma pesquisa desenvolvida no Instituto de Psicologia (IP) da USP
mostra que a presença constante de adultos controlando as ações das crianças contribuem para
a falta de autonomia e espontaneidade delas.
Fernando Pivetti
Excesso de controle contribui para a falta de autonomia e espontaneidade de crianças
Para a psicóloga e professora Clarice Krohling Kunsch, autora do estudo, os diagnósticos de depressão, ansiedade e déficit de atenção das crianças muitas vezes são exagerados. Nesse quadro, o estudo caminhou no sentido de contribuir para a melhoria dessas verificações. “Como professora, sempre me intrigou a apatia de alguns alunos. Muitos deles chegavam na escola com diagnósticos de depressão, porém eles estavam simplesmente entediados”.
Ao todo, 30 crianças com idade entre 5 e 7 anos foram submetidas a uma sequência de entrevistas. Paralelamente, essas mesmas crianças foram observadas em diversos momentos da rotina escolar e seus pais e professores também foram entrevistados. “Os dados de todos os participantes foram analisados e a partir dai levantamos gráficos”, conta a pesquisadora. Com o intuito de aprofundar o tema da vivência do tédio, a pesquisadora realizou uma interpretação mais detalhada dos dados de entrevistas e observações de oito crianças, sendo escolhidas quatro com sinais de vivência de tédio e outras quatro sem sinais de vivência de tédio.
A pesquisadora desmistifica a ideia de que os equipamentos eletrônicos são apenas vilões no desenvolvimento infantil. Ela afirma que esses produtos fazem parte da rotina da grande maioria das crianças atualmente e seria desnecessário negar a sua existência. “O importante é saber administrar o uso, orientando-as para o uso saudável e adequado. O alerta fica para a soma de horas, para que não permaneçam apenas assistindo televisão ou jogando videogame”.
Controle de açõesA psicóloga aponta algumas mudanças de ponto de vista que a pesquisa pode trazer. “A princípio, acreditava que a vivência do tédio em crianças poderia estar diretamente relacionada ao consumo excessivo de bens, porém pude perceber que é possível se relacionar de maneira saudável e adequada com aquilo que se tem”. Ela afirma que o que realmente pode ser prejudicial para uma criança é ter sempre alguém controlando suas ações. “Superproteções excessivas tiram da criança as possibilidades de explorar novos caminhos e se motivar para tal”, afirma.
Clarice ressalta ainda que estamos diante de um fenômeno ainda pouco explorado entre os estudiosos da infância e que pode estar se tornando cada vez mais comum entre as crianças da geração atual. “Faz-se necessário alertar pais e profissionais sobre as possíveis causas e implicações do tédio infantil e orientá-los na formação de crianças mais felizes, criativas e espontâneas”, recomenda.
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