domingo, 24 de novembro de 2013

A virtude de sermos pobres

Dizem os trambiqueiros, embusteiros e demais farsantes cristaos que Jesus, Deus, Jahvé, a 
trindade ou espírito santo; explicava o dever moral de sermos despreendidas, de aprendermos 
a viver só com o necessário, sem nos queixarmos das carências e a aceitar as misérias que os desígnios
 de deus nos envia.

Lorena Alonso Pinheiro
Lorena Alonso Pinheiro
Durante séculos, o cristianismo e com ele o conjunto dos poderes políticos, consideravam a pobreza como algo natural e preciso para a salvaçom da humanidade. As massas necessitadas, como filhas de deus que eram, também deveriam ser atendidas, e para isso as classe pudentes, após roubar-lhe todo quanto tinham, lhe entregavam umha esmola. A boa acçom do dia precisa para ser gente de bem. Foram muitos os concílios que se deram durante a Idade Media para normar a existência de pobres. Porque já sabemos que o que há também é muito vicio. Os bispos coletavam e os diáconos e diaconisas, após um registo para cribar as verdadeiras e falsas pobres, distribuíam parte entre as pessoas identificadas como merecedoras de tam honrado direito.
Até aí todo bem. Quantas mais riquezas possuía a Igreja, mais pobres havia e com elas e eles, mais centros de internamentos, mais hospitais para despossuídas, mas mosteiros de acolhimento, mais moedas nos bolsos da cúria e todas contentes.
Mas a cousa mudou quando a uns iluminados lhes deu por dizer que a Igreja mandava muito e que deveria ser a razom, a inteligência e a ciência moderna a que governaram no mundo terreal. Agora já nom era deus o centro de todas as cousas, se nom o Homem. Que se a democracia, a liberdade individual, o livre mercado o livre pensamento e todas as liberdades que hoje já conhecemos, guiariam as pautas à hora de organizar a vida de aquelas e aqueles que optaram polo caminho errado do vício.
Na Holanda, entre os séculos XV e XVI, antes da Revoluçom Industrial, andárom finos com aquilo da pobreza. O crescimento da burguesia e com ele a indústria, demandava maior mao de obra e viram nas e nos pobres um negócio complementar aos seus interesses crematísticos. Os governos de turno começaram a legislar proibindo a mendicidade e obrigando-as a trabalhos forçosos. De esta maneira maximizavam os seus benefícios e nas ruas haveria menor tensom social. Entre o XVI e o XVIII foram abertas diferentes instituiçons para a exploraçom descarada das despossuídas, em Inglaterra as work-house na França os hôpitaux généraux e no Estado espanhol as casas da misericórdia.
Pois os demais países nom iam ser menos. Estas práticas nom foram caídas do céu, de esta vez nom. A doutrina liberal e a sua política nom intervencionista, considerava que a pobreza era responsabilidade individual, que o que nom tem é porque nom quer trabalhar e trabalho há o que nom há é vontade. Além disso foram pensadores como Malthus que diretamente falava de que sobravam, de que se nom tinham maneira de se alimentar, nom teriam garfo e faca para o banquete da natureza. As suas teorias forom de grande influência em Darwin e no evolucionismo social.
Mas com o Liberalismo Político e a Revoluçom Industrial nasceu um dos maiores problemas para a burguesia e as classes dominantes: Marx, o Materialismo Histórico, as ideias socialistas, os movimentos obreiros, as revoltas organizadas para a tomada do poder e a repartiçom justa da riqueza, a aboliçom das classes sociais e o início do fim do negócio da pobreza. E como parvos tampouco eram, digerem; -como tranquilizamos nós estas feras? Pois dando-lhe novamente esmolas mas, dissimulando que somos modernos, que pareçam direitos.
Nom é de estranhar que as primeiras leis ao respeito dos seguros sociais de velhice, invalidez e de sobrevivência vinhessem dum governo conservador como o de Bismarck que à vez que ilegalizava organizaçons obreiras criando leis antissocialistas, tentava achegar a classe trabalhadora com estas medidas sociais.
Ao longo do XIX a preocupaçom da "questom social" provocou mudanças no discurso individualista e as práticas intervencionistas foram reconsideradas mas, mais que por direito, pola necessidade própria de proteger o capitalismo. Os estados modernos criarám diferentes sistemas de estabilidade para a ordem social, em Inglaterra começa-se a falar de assistência social pública, organizada mediante as leis de pobres, na França Estado de Providência na Alemanha do Segundo Reich o Wohlfahrtsstaat para descrever as políticas desenhadas por Bismarck. Nom pensem tampouco que a Igreja deixou em maos dos Estados todo o negócio da misericórdia. Para nada, a caridade passou a ser Beneficência pública. Umha maneira de institucionalizar entre ambos o ocultamento da pobreza. As primeiras leis ao respeito no Estado espanhol datam do 1822 e a Lei Geral da Beneficência em 1849. Estado e Igreja compartilhando o lucro da escravidom.
E com este passado até este presente. Após a II Guerra Mundial inaugurar o que muitos bem pensantes chamam a idade de ouro do capitalismo. O reformismo social-democrata, o socialismo cristao e os grandes sindicatos industriais começaram a construir isso do Estado do bem-estar por meio de leis de seguros obrigatórios, salários mínimos, sanidade, educaçom pública e serviços sociais. Polo que contam, nuns países lhes foi melhor que em outros mas, em todos eles, as desigualdades continuam a agudizar-se dia após dia e o caminho ditado por deus, mostra levar-nos para o reino dos céus.
Parece ser que este modelo já nom lhes interessa, semelhou ser umha estratégia política aplicada para um momento histórico e em contexto concreto. O medo ao comunismo, o medo a ver perigar os seus privilégios, esse foi o verdadeiro motor de tanta bondade.
A solidariedade é camaradagem. O arroupo entre iguais, a força precisa para continuar erguidas ante as pancadas recebidas polo Patriarcado, pola Igreja, por Espanha e o Capital. Solidariedade de classe, para nom sentir-mos dependentes das mesmas maos que nos roubam o pam. Os bancos de alimentos estám a ser umha das poucas opçons que tenhem milhares de pessoas no nosso pais para se alimentar. Cáritas, Cruz Vermelha, bancos como La Caixa e recentemente a CIG. Mais umha vez, corremos o risco de reproduzir os velhos esquemas da beneficência tradicional. Se aplicarmos estas medidas, sem praticar ao mesmo tempo umha estratégia revolucionária, compraremos com pam, paz social. Se o quilo de arroz ou massa nom vem da mao companheira de luita, nom valerá mais que para manter a ordem estabelecida.
Na atualidade devem estar muito convencidos de que nos calarem o suficiente com as suas esmolas para estar aplicar as políticas mais ultra liberais de todos os tempos. Consideraram que tenhem o poder nas suas maos e que com programas televisados como o muito criticado "entre todos" farám com que nos responsabilizemos, de maneira individual, polas misérias por eles criadas. Reforçarám ainda mais a ideia da caridade cristá e serám as freiras e as mulheres de boa-fé as encarregadas de distribuir os alimentos desde o salons paroquiais ou nas tradicionais visitas domiciliares. Esse é o liberalismo cristao que define ao Partido Popular no segundo artigo dos seus Estatutos. Eles seguirám a fazer o bem, e nós entom, faremos o mal. Ou quê?

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