Machismo, homofobia e intolerância ainda são comuns mesmo entre população mais nova. Para pesquisadores crescem na mesma proporção que 'ataque conservador'
Aline Valcarenghi
Aline Valcarenghi
Ato público contra homofobia em capital brasileira. Preconceito e violência crescem junto com desinformação
Brasília – Levantamento sobre educação e comportamento sexual feito encomendado pela Caixa Seguros mostra os jovens brasileiros entre 18 e 29 anos têm alto grau de desinformação, preconceito de gênero e contra homossexuais. A pesquisa Juventude, Comportamento e DST/Aids, aprovada pelo Comitê de Ética da Faculdade de Medicina da Universidade de Brasília foi feita com o acompanhamento da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) e do Departamento de Doenças Sexualmente Transmissíveis e Aids (DST/Aids) e Hepatites Virais do Ministério da Saúde e seus resultados podem ser considerados preocupantes.
Foi constatado, por exemplo, que 75% dos jovens acreditam que a educação sexual não deve ser ensinada em casa e que 70% deles acham que essa formação está associada ao estímulo para o início da vida sexual. Argumentos rebatidos por Miguel Fontes, doutor em saúde pública e coordenador da pesquisa.
"A conversa com os pais é fundamental, ela faz com que o jovem se sinta muito mais à vontade para absorver e trabalhar as informações e as diferenças. Além disso, a pesquisa mostra que ter um professor como referência contribui para um jovem com maior nível de educação sexual", defendeu.
Intolerâncias
Sobre a diversidade de orientação sexual, a pesquisa mostrou que 11% dos entrevistados não teriam amigos ou amigas homossexuais. Quando perguntados se ficariam incomodados por terem um professor homossexual, 9% afirmam que se incomodariam, e quando a pergunta é sobre um irmão ou irmã, o número salta para 22%.
"Eles não têm tanto preconceito quando é fora de suas casas. Se perguntar se você tem um amigo gay, eles são mais abertos a isso, um professor, um pouco menos, mas quando pergunta sobre a família, um irmão, a intolerância aumenta consideravelmente”, avalia Fontes.
Pouco mais de quatro em cada dez jovens entre 18 e 29 anos concordam, total ou parcialmente, com a ideia de que mulheres que se vestem de forma insinuante não podem reclamar se sofrerem violência sexual e pouco mais de 10% são indiferentes a esse tipo de violência. É o que mostra Os resultados
Para Fontes, que é doutor em saúde pública, o machismo ainda está muito presente entre os jovens, “principalmente os homens”. Pouco mais de 9% dos entrevistados concordam ou são indiferentes ao fato de um homem agredir uma mulher porque ela não quis fazer sexo e pouco mais de 11% têm a mesma opinião com relação a homens que batem na parceira que o traiu.
Segundo a socióloga do Centro Feminista de Estudos e Assessoria (Cfemea) Jolúzia Batista, essa geração de jovens sofreu um avanço conservador nos últimos anos. Na sua opinião, uma educação não sexista nas escolas é fundamental para mudar esse cenário. “Nós vemos que hoje a violência surge como uma forma de colocar a mulher nos trilhos, de corrigi-la. É preciso investir em educação para mudar isso“, defende.
O levantamento também revelou que a religiosidade não ajuda os jovens a serem mais tolerantes em termos de sexualidade. Pelo contrário, o fato de participar de grupo religioso e ter a Igreja como principal fonte de educação sexual reforça tabus.
"A visão contemporânea de educação sexual daqueles que não têm muitos preconceitos, tabus, os que aceitam as diferenças, os que reconhecem a importância da educação sexual em todas as etapas da vida, não só na escola, contribui para a saúde pública", conclui Fontes.
Para a pesquisa foram entrevistados 1.208 jovens entre 18 e 29 anos em 15 estados e no Distrito Federal, sendo 55% mulheres. Os critérios da coleta de dados, feita em 2012, são semelhantes aos adotados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. O trabalho foi concebido e analisado pela John Snow Brasil Consultoria, e a coleta de dados foi feita pela Opinião Consultoria.
Entre os jovens entrevistados, apenas 30% estudam e 56% já foram reprovados no colégio. Mais da metade são católicos e quase um terço, evangélicos. De cada dez, seis acessam a internet com frequência e cinco navegam pelo menos duas horas por dia. A maioria perdeu a virgindade entre os 14 e os 18 anos, 10% ainda não tiveram relação sexual, 95% se declararam heterossexuais, 3% disseram ser bissexuais e os 2% restantes, homossexuais.
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