quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Metade da riqueza mundial é controlada por apenas 1% da população

A organização humanitária Oxfam publicou um relatório esta segunda-feira onde dá conta que a riqueza acumulada pelas 85 pessoas mais ricas do mundo corresponde aos recursos disponíveis de mais de metade dos pobres de todo o mundo. Em Portugal, o peso dos rendimentos dos mais ricos no rendimento total do país mais que duplicou desde a década de 80.

Esquerda.Net

Cerca de metade da riqueza de todo o globo é propriedade de apenas 1% da população mundial, o que corresponde a 110.000 milhões de euros, 65 vezes superior ao que dispõe a metade mais carenciada do mundo.
O estudo intitulado “Governar para as elites – sequestro democrático e desigualdade económica”, é divulgado nas vésperas de mais um Fórum Económico Mundial de Davos, que reúne os mais poderosos e ricos do mundo.
Com este estudo, a organização pretende alertar para o facto dos poderes económicos e políticos estarem a “separar cada vez mais as pessoas”, tornando inevitáveis “as tensões sociais e o aumento do risco de rotura social”.
A Oxfam alerta que cerca de metade da riqueza de todo o globo é propriedade de apenas 1% da população mundial, o que corresponde a 110 mil milhões de euros, 65 vezes superior ao que dispõe a metade mais carenciada do mundo.
Os dados relatados pela organização são elucidativos. No ano transato, 210 pessoas entraram no “restrito clube dos multimilionários - que superam os mil milhões de dólares de fortuna -”, atualmente composto por 1426 pessoas, com uma riqueza total avaliada em 5400 milhões de dólares. Por sua vez, na Europa, a fortuna das dez pessoas mais ricas, 217 mil milhões de euros, ultrapassa o valor das medidas de estímulo à economia aplicadas entre 2008 e 2010 (200 mil milhões de euros). Segundo a Oxfam, estes valores dão uma “ideia da magnitude da concentração de riqueza a nível mundial”.
A organização vai mais longe e demonstra que sete em cada dez pessoas vivem em países onde a desigualdade económica aumentou nos últimos 30 anos e que o peso dos rendimentos do 1% mais rico da população nos rendimentos totais dos seus países cresceu em pelos menos 24 dos 26 Estados para os quais dispõe de dados. Esta tendência confirma-se também “em países considerados mais igualitários, como a Suécia e a Noruega”.
Em Portugal, à semelhança da China e dos Estados Unidos, o peso dos rendimentos dos mais ricos no rendimento total do país mais que duplicou desde a década de 80, “e a situação tem vindo a piorar”, revela o relatório.
“É provável que, na realidade, a concentração de riqueza seja muito maior, dado que uma grande quantidade dos rendimentos dos mais endinheirados se ocultam em paraísos fiscais”, entende a Oxfam, que estima existirem pelos menos 18 599 milhões de dólares não registados.
No tocante à distribuição de riqueza, a organização humanitária foca-se em dados do Crédit Suisse que demonstram que 86% dos recursos do mundo são controlados por apenas 10% da população, por sua vez, os 70% dos mais pobres, têm a seu dispor apenas 3% dos recursos.
Segundo a Oxfam, a concentração de capital não tem equivalente na história mundial, dando o exemplo do multimilionário mexicano Carlos Slim, que com apenas os seus ganhos anuais conseguiria pagar o salário anual a 440 mil conterrâneos.
Os autores chegam mesmo a classificar esta concentração brutal de recursos como um “sequestro democrático”, que faz com que vários governos sirvam apenas uma pequena elite através de “ “políticas fiscais injustas e práticas corruptas, que expoliam os cidadãos”. “A magnitude da concentração de riqueza, a monopolização de oportunidades e a desigualdade na representação política são uma tendência grave e preocupante”, que ameaça “perpetuar as diferenças entre ricos e pobres e torná-las irreversíveis”.
Assim, solicitam aos participantes de Davos que tomem medidas para combater as desigualdades.
Segundo o jornal Público, entre as recomendações aos mais ricos e poderosos do mundo figuram as de não recorrer a paraísos fiscais, nem fugir aos impostos; não utilizar o poder económico para obter favores políticos; o apoio a políticas de progressividade fiscal sobre a riqueza e os rendimentos; exigir que todas as empresas paguem salários justos aos seus trabalhadores e que os governos canalizem a sua receita fiscal para proporcionar cuidados de saúde, educação proteção social a todos os cidadãos.

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