Inovação é marca da cafeicultura no Estado da Bahia
Como reflexo desse esforço conjunto, a Bahia é o quarto maior produtor de café do Brasil, atrás de Minas Gerais, Espírito Santo e São Paulo. Em 2014, deverá atingir o volume de 1,9 milhão de sacas (Conab/2014). O Cerrado da Bahia, localizado no oeste do Estado, emprega tecnologia de ponta e vem obtendo altos índices de produtividade quando comparado às áreas irrigadas de outros Estados produtores. Nessa região, a produção do café apresenta uma área total cultivada de 14.910 hectares de café arábica, sendo a grande maioria irrigada pelo sistema de pivô central.
Segundo a Conab, as tecnologias empregadas na região Oeste, aliadas a um solo de relevo plano e às condições climáticas, permitem que a colheita seja 100% mecanizada. Em 2014, a região deverá produzir 456 mil sacas de café arábica – o que representa uma produtividade de 38,5 sacas por hectare. A qualidade do café produzido no Cerrado da Bahia permite que o produto seja colocado com mais facilidade no mercado externo.
Papel da pesquisa e transferência de tecnologia – O desenvolvimento da cafeicultura na Bahia se deve muito ao apoio da Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola – EBDA, instituição participante doConsórcio Pesquisa Café. A instituição vem facilitando o acesso de pequenos cafeicultores a tecnologias, além de promover concursos de qualidade, realizados em parceria com a Associação dos Produtores de Café da Bahia - Assocafé, Cooperativa Mista Agropecuária Conquistense – Coopmaq e Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – Uesb, instituição de destaque no desenvolvimento da cafeicultura baiana, em especial nas regiões do Cerrado, Planalto e Atlântica.
Para fomentar a atividade cafeeira no Estado, a Secretaria de Agricultura, Pecuária, Irrigação, Reforma Agrária, Pesca e Aquicultura - Seagri, por meio da EBDA, implantou, nos últimos anos, aproximadamente 30 projetos de pesquisa na área de fertilidade do solo, fitossanidade de lavouras, densidade de plantios, competição de variedades e melhoria da qualidade, por meio de técnicas de processamento. Os projetos foram instalados nas regiões Oeste, Chapada Diamantina, Planalto de Vitória da Conquista, Serrana de Itiruçu e Brejões. "Também foi e está sendo incentivado o desenvolvimento e aplicação de tecnologias voltadas para melhorar a produtividade, como a arborização, e a qualidade do café produzido, por meio da instalação de terreiro de cimento e/ou suspenso e de pequenas máquinas de despolpamento e beneficiamento voltadas para atender a pequena produção", disse Ramiro do Amaral, coordenador do Programa Café da EBDA.
Segundo a professora titular do Departamento de Fitotecnia e Zootecnia da Uesb, Sandra Elizabeth Souza, doutora em Proteção de Plantas pela Universidade Estadual Paulista – Unesp, uma prática que tem sido bastante utilizada em toda a região do Planalto da Bahia é a secagem do café por meio de terreiros de cimento cobertos por estufas de plástico transparente, que recebem a luz do sol, absorvem o calor e, manejadas adequadamente, promovem a pré-secagem ou a secagem do café em aproximadamente 3 dias.
Há ainda o Programa do Café da Seagri, coordenado pela EBDA, que assiste anualmente cerca de sete mil produtores por meio de seminários, capacitações, palestras, dias de campo, treinamentos, excursões e visitas às unidades demonstrativas e orientação creditícia em parceria com agentes financeiros. O foco do trabalho é a transferência de tecnologia e assistência técnica.
Além disso, a EBDA acompanha a safra cafeeira, com o levantamento dos dados da produção em 360 propriedades no Estado. A empresa vem intensificando os trabalhos com os agricultores familiares, público-alvo, em parcerias com prefeituras. Os resultados podem ser percebidos nos índices de produtividade e na qualidade da produção do Estado.
Tecnologias adaptadas à região - Cafeicultores da Bahia, Goiás e Minas Gerais que produzem em região de Cerrado utilizam tecnologias de estresse hídrico controlado e adubação fosfatada com excelentes resultados na produção. As técnicas foram desenvolvidas pela Embrapa Cerrados, no âmbito do Consórcio Pesquisa Café. Estima-se que cerca de 36 mil hectares de café desses Estados sejam cultivados com essas tecnologias.
A tecnologia do estresse hídrico controlado, revoluciona a prática tradicional da irrigação frequente e continuada, garante aumento da produtividade (em torno de 15%), mais qualidade e menor custo, sendo alternativa para a sustentabilidade da cafeicultura no Cerrado. A técnica consiste em suspender a irrigação na estação seca do ano durante um período de 72 dias (sendo o período ideal entre 24 de junho e 4 de setembro), para sincronizar, uniformizar o desenvolvimento dos botões florais (florada) e, consequentemente, dos frutos (maturação) - o que garante um café de melhor qualidade. Esse processo tecnológico permite a obtenção de 85% a 95% de frutos cerejas no momento da colheita, maximizando a produção de cafés especiais, de maior valor de mercado. Para a adoção dessa prática, não há necessidade de investimento.
Em decorrência dessa uniformização, o número de passadas de colheitadeiras diminui, reduzindo a operação de máquinas (em torno de 40%). Além disso, garante a redução de grãos mal formados (em torno de 20%) e dos custos de produção com água e energia (em média de 35%). "Os cafeeiros submetidos ao estresse controlado não só cresceram mais como também se apresentaram em melhores condições para a safra seguinte. É o chamado crescimento compensatório, um estímulo ao crescimento após o reinício das irrigações", disse o Gerente de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Café, Antônio Guerra, que é responsável por essas tecnologias. De acordo com o pesquisador, o manejo adequado das aplicações da água de irrigação associado ao estresse hídrico controlado representa a melhor opção para evitar perdas de nutrientes por lixiviação e fornecer condições propícias de umidade do solo, para que as raízes possam respirar adequadamente e atender à demanda nutricional da planta.
Adubação fosfatada em café - A partir do desenvolvimento da tecnologia do estresse hídrico controlado, as pesquisas sobre aplicações crescentes de fósforo no cafeeiro foram intensificadas. Existia uma demanda crescente por informações sobre a influência da adubação fosfatada no desenvolvimento, vigor, sanidade das plantas e pegamento da florada e ainda a ideia de que o nível de fósforo observado nas análises do solo de alguma forma não representava o que realmente estava disponível para os cafeeiros. "Os resultados demonstraram que o ajuste nutricional é necessário também nas lavouras de sequeiro", completa Guerra.
O estudo questionou os critérios de recomendação de adubação fosfatada no cafeeiro que, por muitos anos, foi considerado uma planta que não respondia à aplicação de altas doses de fósforo. E comprovou que a adição do fósforo traz benefícios para a planta tanto em solos de média a alta fertilidade como também em solos de baixa fertilidade, como os do Cerrado, onde a planta responde com grande intensidade. Analisando lavouras em produção no Cerrado, chegou-se à conclusão de que a aplicação ou não de fósforo era o principal fator que diferenciava as áreas com repetição de safra das áreas de baixo pegamento de florada. "Cafeeiros que não receberam fósforo na adubação de manutenção apresentaram sintomas de deficiência desse nutriente e pouca ou nenhuma formação de gemas reprodutivas e pegamento de florada. Por outro lado, os que receberam doses razoáveis de fósforo mostraram bom desempenho no desenvolvimento de gemas reprodutivas e no pegamento de florada", acrescenta Guerra. Em experimentos, cafeeiros responderam linearmente ao aumento da produtividade até a dose de 400kg de fósforo por hectare, o que permitiu aliar essas altas doses do nutriente ao estresse hídrico, obtendo excelentes resultados na produção e qualidade do café.
Café nas regiões da Bahia e seus destinos - A cafeicultura desenvolvida no Estado da Bahia apresenta atualmente um quadro tecnológico bastante diversificado, o que reflete diferentes condições ambientais, variadas formas de ocupação do seu espaço agrário e modalidades de organizações da atividade produtiva. O Estado, de acordo com a Conab, possui três regiões produtoras principais: Cerrado e Planalto (regiões que concentram café arábica) e Atlântica (especializada em conilon).
De acordo com a professora Sandra Elizabeth, os primeiros plantios de café arábica na Bahia datam dos primórdios do século XX, nos municípios do Vale do Jiquiriçá, Brejões e Santa Inês - que compõem o Planalto baiano e têm grande potencial para produção de cafés despolpados, suaves e aromáticos. A região caracteriza-se por uma cafeicultura de base familiar, poucos recursos hídricos e altitude entre 600m a 1380m. Já a região Oeste ou Cerrado é caracterizada por uma cafeicultura empresarial, totalmente irrigada e mecanizada, assemelhando-se aos cafés produzidos no Cerrado de Minas Gerais. Produz cafés naturais finos e despolpados, excelentes para serem usados em blends destinados ao expresso. O Extremo Sul e Sul do Estado produzem um dos melhores cafés conilon do mundo e caracterizam-se por uma cafeicultura empresarial organizada. O município de Itabela é o maior produtor de conilon da Bahia, seguido de Teixeira de Freitas, Itamaraju, Alcobaça, Eunápolis, Camacan e Arataca.
A professora explica ainda que, no extremo Sul e Sul da Bahia, o conilon produzido tem diferentes destinos. Em Itabela e outros municípios, existem empresas e a Cooperativa Agrária dos Cafeicultores de São Gabriel – Cooabriel, de São Gabriel da Palha – ES, que atuam no comércio do conilon para os blends da indústria brasileira. Já no Planalto e Oeste, o arábica despolpado tem como destino os EUA, Europa, Japão e Ásia. Os cafés naturais seguem para alguns países do Leste Europeu, bem como para a indústria de torrefação do Nordeste e demais regiões do Brasil.
Café do Papa – O café consumido no Vaticano é produzido na Chapada Diamantina - BA. Trata-se de um café 100% arábica, cereja descascado e orgânico, com pelo menos 85 pontos na escala da Sociedade Americana de Cafés Especiais - SCAA. A cada ano, são preparadas 30 sacas para o suprimento do Vaticano.
Segundo a professora Sandra Elizabeth, a qualidade desse café deve-se às tecnologias desenvolvidas no Brasil pelas instituições de pesquisa, ensino e extensão que atualmente fazem parte do Consórcio Pesquisa Café. Para ela, esse sucesso se deve, também, à escolha da variedade cultivada, às boas práticas de manejo adotadas em conformidade com as normas de cultivo orgânico e, principalmente, à iniciativa, vontade e busca incessante do conhecimento por parte dos gestores das fazendas Floresta e Aranquan, agraciados com um lindo cenário a 1100m de altitude.
Números – Segundo a Conab, a área total de produção de café no Estado da Bahia é de cerca de 134 mil hectares. São 167 municípios produtores - dos quais em 80 têm grande importância no cenário cafeeiro do Estado – que geram cerca de 250 mil empregos. A produção anual é de 1,9 milhão de sacas e a produtividade média de 14,77 sacas por hectare (Cerrado – 38,50; Planalto – 7,73; e Atlântica – 31,83). A grande maioria das propriedades (86%) está vinculada a pequenos produtores e/ou agricultores. As demais são de médios e grandes proprietários, sendo que, desse número, somente 5% apresentam áreas superiores a 100 hectares, concentradas no Oeste, onde a atividade é empresarial.
Para saber mais sobre a Embrapa Café, o Consórcio Pesquisa Café e a EBDA acesse:
Carolina Costa (MTb 7433/DF)
Embrapa Café
cafe.imprensa@embrapa.br
Telefone: 3448-1927
Embrapa Café
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Flávia Bessa (MTb 4469/DF)
Embrapa Café
cafe.imprensa@embrapa.br
Telefone: 3448-1979
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