Um livro sobre café e fotografar as comunidades indígenas brasileiras são os próximos trabalhos de Sebastião Salgado, e possivelmente os últimos, que hoje apresentou em Lisboa a exposição “Génesis”.
Depois de mais de oito anos a viajar por locais recônditos da terra, para apresentar 245 fotografias a preto e branco, foi um Sebastião Salgado (fotógrafo brasileiro) muito preocupado com o meio ambiente, com a desflorestação e com a poluição que falou hoje aos jornalistas para apresentar o seu mais recente trabalho.
É o resultado de 30 viagens pelo mundo a fotografar os últimos redutos naturais e humanos do planeta, da Antártida a África, da Ásia ao polo norte, da América à Europa.
E nem sempre fáceis, como recordou hoje na Cordoaria Nacional, em Lisboa. “Houve fotos bem difíceis, o acesso muitas vezes não foi fácil”. Salgado recorda uma viagem no norte da Etiópia, mais de mil quilómetros a pé, dois meses, 18 jumentos e mais 15 homens.
E recorda o frio no círculo polar ártico, as temperaturas de 40 graus negativos, os 47 dias sem se lavar porque não tinha água. “Mas valeu a pena, o que ganhei foi o privilégio de estar nestes lugares, ver o que nós vimos”, diz.
E porque sentiu que o planeta é a casa de todos os que nele habitam Sebastião Salgado dedicou grande parte da hora com os jornalistas para falar da exploração intensiva de recursos e de um futuro que prevê difícil.
No Brasil a desflorestação levou à falta de água em várias cidades, na India também já não há árvores, diz Sebastião Salgado, acrescentando depois: “já somos extraterrestres no nosso planeta”.
Sebastião e a mulher, que organiza a exposição e que esteve a seu lado, já plantaram, disse o fotógrafo, dois milhões de árvores.
E depois lembra que na Amazónia há 100 grupos indígenas que ainda não foram contactados, há partes do planeta onde nunca ninguém foi. “E espero que ninguém vá”, diz.
Conhecido por fotografar pessoas Sebastião confessa que foi a primeira vez que fotografou paisagens e animais e diz que isso implicou dois anos de pesquisa e preparação e de obtenção das necessárias autorizações.
E depois foram oito anos a andar pelo mundo e as tais 245 fotografias a preto e branco, porque nas coloridas as cores fortes tiram a atenção das outras. “Acostumei-me a concentrar-me na abstração que é o preto e branco”, diz.
E não fala de cor quando se refere aos próximos projetos, um deles já pronto, um livro e uma exposição sobre o café, resultado de 12 anos de fotografias que se foram fazendo em 10 países. A inauguração da exposição será em maio em Milão.
E depois há um trabalho sobre as comunidades indígenas amazónicas, se calhar o último. Mas no qual está muito empenhado, porque o brasileiro “tem vergonha” dos seus ancestrais.
E depois há as recordações, de tantas fotografias, de tantas viagens e de tantos anos. No final da conversa Salgado recorda 1974. Morava na Graça, em Lisboa, e para comprar um quilo de carne demorava duas horas porque todos discutiam política.
E acaba a conversa assim: Portugal não se devia ter voltado para a Europa, “os portugueses têm muito mais a ver com os brasileiros do que com os holandeses”.
Fonte: Diário Digital com Lusa via CCCMG
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