segunda-feira, 8 de junho de 2015

Tendências da Imprensa Mundial: As receitas obtidas pelos jornais mudam para novas fontes

Finalmente, estamos presenciando uma profunda mudança no modelo de negócio dos jornais, que tem evoluído ao longo de anos

 Pela primeira vez neste século, as receitas obtidas pela circulação mundial de jornais são maiores que as provenientes de publicidade, segundo a pesquisa anual World Press Trends (Tendências da Imprensa Mundial), divulgada na última segunda feira (01/6) pela Associação Mundial de Jornais e Editores de Notícias (WAN-IFRA em sua sigla em inglês).
“A suposição básica do modelo de negócio de notícias (o subsídio que os anunciantes forneceram durante muito tempo ao conteúdo de notícias) terminou”, disse Larry Kilman, Secretário Geral da WAN-IFRA, que apresentou a pesquisa durante o 67º Congresso Mundial de Meios Informativos, o 22º Fórum Mundial de Editores e o 25º Fórum Mundial de Publicidade, em Washington DC. “Podemos dizer claramente que o público se converteu na maior fonte de receitas das empresas jornalísticas”.
No ano de 2014, os jornais geraram aproximadamente US$ 179 bilhões em receitas de circulação e publicidade; isso é mais do que o arrecadado pelas indústrias de edição de livros, de música ou cinematográfica. Segundo a pesquisa, US$ 92 bilhões corresponderam à circulação impressa e digital, enquanto que US$ 87 bilhões corresponderam à publicidade.
“Essa é uma mudança sísmica; se passou de uma forte ênfase no modelo business to business, ou de negócio entre empresas, (empresas jornalísticas – anunciantes) para uma crescente ênfase no modelo business-to-consumer, ou de negócio entre uma empresa e o consumidor (empresas jornalísticas – público)”, disse Kilman.
Durante o século XX, a publicidade contribuiu com até 80% das receitas em alguns mercados. A cifra varia de um mercado para outro: em alguns mercados europeus e asiáticos, a publicidade poderia contribuir com 40% das receitas.
Mas a pesquisa demonstrou que as receitas obtidas da publicidade nos jornais estão diminuindo praticamente em toda a parte, enquanto as receitas obtidas com a circulação permanecem relativamente estáveis.
“A imprensa escrita costumava ser um dos poucos canais de marketing tradicionais e, com frequência, era a mais utilizada por todos os comerciantes para posicionar marcas, pois era a opção lógica para todos”, disse Kilman. “Esta relação direta de dependência mútua já não existe. Os anunciantes na atualidade contam com mais de 60 canais publicitários diferentes”.
No entanto, em 2015, fica claro que a história da indústria jornalística não está relacionada com o pessimismo e a decadência. Os jornais em todo o mundo estão demonstrando com êxito seu valor para os anunciantes, apesar da concorrência florescente. Estão descobrindo novos mercados e novos modelos de negócio que hoje são tão relevantes para a produção de notícias como as receitas provenientes da publicidade e da circulação. Desde a era do impresso, os jornais se transformaram em verdadeiros negócios de meios informativos de plataformas múltiplas”.
Apesar de que os jornais agora são onipresentes em todas de meios de comunicação, a medida de seu alcance e influência continua amarrada ao século XX e depende principalmente da circulação impressa e de uma variedade de métricas individuais, não padronizadas, de alcance digital. O desafio para a indústria é medir o alcance do conteúdo dos jornais em todas as plataformas com uma métrica nova.
A pesquisa sobre as Tendências da Imprensa Mundial inclui dados de mais de 70 países, o que representa mais de 90% do valor da indústria em todo o mundo. Os dados foram compilados num enorme projeto do qual participaram dezenas de associações nacionais de jornais e meios informativos e com o generoso apoio de provedores globais de dados: Zenith Optimedia, IPSOS, ComScore, Pew Research Center, RAM e ITU.
A Pesquisa, que é apresentada anualmente nas reuniões da cúpula global da imprensa, revelou o seguinte:
O futuro é a telefonia móvel
Oito de cada dez usuários de telefones inteligentes (smartphones) revisam seus dispositivos nos 15 minutos após ter acordado. É uma luta por conseguir a atenção do público e a telefonia móvel o conseguiu.
– Globalmente, os consumidores passam uma média de quase 2,2 horas por dia com o telefone celular (97 minutos) e o tablet (37 minutos) o que, somado, representa 37% do tempo utilizado com meios de comunicação, e passam diante da televisão 81 minutos, do computador desktop 70 minutos, com o rádio 44 minutos e com as publicações impressas 33 minutos, segundo o relatório sobre consumo de meios móveis proporcionado por InMobi.
– O uso de aplicativos representa aproximadamente a metade da participação vinculada no mundo móvel. Agora, nos meios mais importantes, 30% ou mais da audiência mensal provêm exclusivamente das plataformas móveis.
– Pela primeira vez está caindo o número de pessoas que utilizam computadores desktop. O tempo que se passa utilizando smartphones agora excede o uso da web nos computadores nos Estados Unidos, no Reino Unido e na Itália. Para 19 dos 25 sites de jornais mais importantes dos Estados Unidos, o tráfego móvel ultrapassou o dos computadores desktop em pelo menos 10%, segundo o Centro Pew de Pesquisas. O número de usuários que utilizam somente dispositivos móveis para consumir conteúdo de jornais digitais aumentou 53% em março de 2015 em relação ao mesmo mês do ano passado, segundo relatório proporcionado pela Associação de Jornais dos EUA (NAA na sigla em inglês). “Com relação a receitas novas, temos falado sobre o ano dos dispositivos móveis há 10 anos”, assinalou Kilman. “Finalmente aconteceu. No ano de 2014, o uso global da Internet nos computadores desktop diminuiu em favor da tecnologia móvel. E o uso de aplicativos móveis está se convertendo na principal atividade de todos os meios digitais dos Estados Unidos”.
A Circulação impressa nasce no leste e se põe no Oeste – Cresce a circulação digital
– Cerca de 2,7 bilhões de pessoas em todo o mundo leem jornais impressos e mais de 770 milhões o fazem em plataformas digitais de computadores desktop. No entanto, cada vez se reúne mais evidência (de países com medições sofisticadas e sólidas) de que o impresso e o digital juntos estão aumentando a quantidade de pessoas que leem jornais no mundo inteiro. Dados da Austrália, por exemplo, mostram que praticamente 86% de todos os adultos leem jornais em algum tipo de plataforma. No Reino Unido, a cifra é de 83% e no Chile, se aproxima de 82%.
– A circulação impressa aumentou 6,4% globalmente em 2014 em relação ao ano anterior e mostra um crescimento registrado ao longo de cinco anos de 16,5%. Isto é principalmente o resultado dos aumentos de circulação na Índia e no resto da Ásia; o negócio de jornais na Índia é ainda o dos jornais impressos e o mais saudável do mundo. As cifras atualizadas para a Índia afetaram significativamente o panorama global e, em parte, provêm de um crescente número de títulos.
– A circulação aumentou 9,8% na Ásia, em 2014, em relação ao ano anterior, 1,2% no Oriente Médio e na África e 0,6% na América Latina; diminuiu 1,3% na América do Norte, 4,5% na Europa e 5,3% na Austrália e Oceania. Num período de cinco anos, a circulação de jornais aumentou 32,7% na Ásia, 3,7% no Oriente Médio e África e cerca de 3% na América Latina; diminuiu 8,8% na América do Norte, 21,3% na Europa e 22,3% na Austrália e Oceania.
– Nos mercados maduros, os jornais estão adotando estratégias para ganhar mais dinheiro com menos assinantes. Tais estratégias incluem aumentos nos preços de venda ao público e reduções nos custos de produção mediante a redução da frequência das impressões. Mas com essas práticas se corre o risco de marginalizar alguns segmentos de seus leitores em troca do aumento das receitas.
– A circulação digital paga aumentou 56% no ano de 2014 e subiu mais de 1.420% nos últimos cinco anos, segundo a PricewaterhouseCoopers (PwC). Na pesquisa realizada pelo Instituto Reuters de Notícias Digitais em 10 países, uma de cada dez pessoas disse que agora paga por conteúdo digital (a cifra varia de 22% no Brasil a 7% no Reino Unido).
A imprensa escrita ainda gera lucros
– Globalmente, mais de 93% de todas as receitas dos jornais todavia provêm da imprensa em papel, que continuará sendo uma importante fonte de receitas durante muitos anos. Ao mesmo tempo, os jornais de todo o mundo estão realizando esforços e aumentando as inovações para passar de um modelo de negócio bidimensional para um que tenha múltiplas dimensões.
– Embora a publicidade digital represente uma pequena parte das receitas totais dos jornais, continua aumentando significativamente; aumento de 8% em 2014 e de 59% em cinco anos, segundo a PricewaterhouseCoopers. Mas os principais beneficiados pelo investimento publicitário digital continuam sendo as empresas de redes sociais e de tecnologia. O Google tem a maior parte, com 38% (US$ 19,3 bilhões) de receitas publicitárias digitais. O Facebook ficou com quase 10%, em 2014, e é o maior destinatário dos investimentos de publicidade digital e móvel.
A televisão tem a melhor fatia da publicidade, mas a Internet nos dispositivos móveis está avançando
– A televisão continua mantendo a maior porção das receitas globais de publicidade, com pouco menos de 40%, seguida pela Internet em computadores desktop e em dispositivos móveis, com mais de 24%, os jornais com 15%, as revistas com 7,3%, a publicidade exterior e o rádio com cerca de 7% e o cinema com 0,5%.
– A publicidade impressa no mundo diminuiu em 5,17% em 2014 em relação ao ano anterior e caiu 17,51% em cinco anos. Como surgiu em meados da década de 1990, a publicidade na Internet (tanto em computadores desktop como em dispositivos móveis) aumentou principalmente a expensas da publicidade impressa.
– A publicidade nos jornais impressos aumentou 4,86% na América Latina no ano de 2014, em comparação com o ano anterior e 2,21% no Oriente Médio e no norte da África, mas diminuiu em todas as demais regiões; 6,54% na Ásia e no Pacífico, 7,5% na América do Norte e 5,01% na Europa. No período de cinco anos, a publicidade nos jornais impressos aumentou 27,68% na América Latina. Ao mesmo tempo, baixou 28,22% na América do Norte, 23,10% na Europa, 22,11% no Oriente Médio e África e 7,34% na Ásia e Pacífico.
– O investimento em publicidade na Internet ultrapassou o investimento total em publicidade em jornais e revistas em 2014. Durante os últimos dez anos, a publicidade na Internet aumentou de 4% do total para 24%. No mesmo período, o investimento global nos jornais diminuiu pela metade, de 30% para 15%, enquanto que o das revistas caiu de 13% para 7,3%.
– As receitas de publicidade, no caso dos jornais digitais, não substituirão as elevadas receitas do impresso, mas, ainda assim, estão aumentando significativamente. A publicidade digital nos jornais aumentou 8,5% em 2014 e aproximadamente 60% em cinco anos.
A WAN-IFRA, organização mundial de jornais e editores de notícias é um provedor líder de pesquisas e análises da indústria que identifica, analisa e publica todas as conquistas e oportunidades importantes que podem beneficiar os meios informativos do mundo. A WAN-IFRA publica, desde 1989, as Tendências da Imprensa Mundial, que é a principal fonte de dados e tendências para os jornais de todo o mundo.
Os dados são compilados numa base interativa e num relatório anual, ambos disponíveis sem custos para os membros da WAN-IFRA. Para aqueles que não são membros da WAN-IFRA, a entidade oferece a base de dados mediante acesso individual por meio de uma assinatura anual e um acesso IP que permite às empresas, universidade ou bibliotecas  fornecer acesso a qualquer quantidade de usuários. Detalhes completos estão disponíveis em http://www.wan-ifra.org/wtp.
A base de dados das Tendências da Imprensa Mundial
A base de dados das Tendências da Imprensa Mundial contém relatórios individuais de países, assim como dados e tendências agregados sobre a circulação e os leitores, as receitas de publicidade, a publicidade digital e muito mais.
A base de dados permite aos usuários gerar relatórios personalizados para os quais se pode escolher uma grande quantidade de critérios e, assim, produzir relatórios que satisfaçam suas necessidades específicas. Pode-se descarregar em Excel para poder realizar uma análise exaustiva, assim como para realizar comparações e consultar tendências históricas.
Atualmente, a base de dados inclui informações de 70 países, desde o ano de 2006 até 2014. Tal base está sendo ampliada, uma vez que estão sendo carregados dados anteriores ao ano de 2006.
As Tendências da imprensa Mundial fornecem dados sobre a quantidade de títulos de jornais publicados no mundo, que jornal tem a maior circulação mundial e que país tem o maior número de jornais por circulação entre os 100 maiores.
Ao mesmo tempo, tais tendências podem informar sobre a quantidade de títulos, a circulação por país e no mundo, assim como o alcance dos jornais, as tendências de consumo dos leitores e meios: edições online e leitores  online, os anunciantes mais importantes dos jornais e as categorias de publicidade, os preços de venda ao público, os gastos e receitas de publicidade, a participação no mercado de jornais e outros meios de comunicação e muito mais.
O Congresso Mundial de meios Informativos termina na quarta-feira (4/6). Informações atualizadas ao vivo podem ser obtidas no blog http://www.wan-ifra.org/congress_blog ou via Twitter: cobertura ao vivo: @NewsConf, atualizações selecionadas: @NewspaperWorld e  por meio dos hashtags #wnc15 e #Editors15. A WAN-IFRA tem sedes em Paris (França) e Frankfurt (Alemanha) e delegações em Singapura e Índia. É a associação internacional de tornais e editores de jornais de todo o mundo. Agrupo mais de 18 mil publicações 15 mil sites e mais de 3 mil empresas de mais de 120 países diferentes. Entre seus principais valores destaca-se a defesa da liberdade de imprensa, o jornalismo de qualidade e a integridade editorial, assim como o trabalho em favor da prosperidade do setor.

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