terça-feira, 18 de setembro de 2012

As primeiras previsões do tempo da história


Mapas atmosféricos de superfície conservados na França mostram como cientistas europeus criaram a meteorologia moderna na segunda metade do século XIX

Sylvie Le Clech
As nossas formas de previsão do tempo, pautadas em critérios técnicos e científicos modernos, nasceram de uma tragédia. No dia 14 de novembro de 1854, uma violenta tempestade afundou 41 navios da frota francesa na região da Crimeia, na atual Ucrânia. Os ventos que provocaram a tragédia percorreram a Europa em três dias, tempo suficiente para transmitir a informação por telégrafo através do continente, mas naquela época ainda não havia uma rede de informações que permitisse isso.
O desastre levou a França a organizar um serviço nacional de meteorologia, e o encarregado por sua implantação foi o famoso astrônomo Urbain Le Verrier (1811-1877), que havia descoberto o planeta Netuno por meio de cálculos em 1846 e desde 1854 dirigia o Observatório de Paris. Ele organizou uma rede de observadores que passaram a monitorar os fenômenos atmosféricos a partir de 24 estações espalhadas por quase todo o território francês (13 delas ligadas por telégrafo). Além disso, Le Verrier recebia medições vindas de vários países da Europa. Em 1865, essa rede já contava com 59 observatórios em todo o continente.
Com base nessas informações, ele começou a elaborar mapas atmosféricos de superfície diários que exibiam de modo claro as medições que os observadores faziam em campo e transmitiam para Paris. Os mais antigos documentos do gênero datam de 1857 e foram conservados nos arquivos do Serviço Nacional de Meteorologia da França, rebatizado de Météo-France em 1993.Esses não foram os primeiros mapas atmosféricos da história. Em 1788 o geógrafo francês Jean-Nicolas Buache já havia elaborado alguns mapas isolados de tempestades. A diferença é que os de Verrier eram diários e sistemáticos. O compilador de medições anotava com tinta preta o sentido dos ventos (com um traço e flechas), sua força (o número de "bárbulas" no traço indicava um vento mais ou menos forte) e a pressão atmosférica. Esses mapas tinham 14 pontos de medição e recebiam dados vindos da Espanha, Portugal, Itália, Alemanha, Holanda e Império Russo.

Esses primeiros exemplares, no entanto, ainda não tinham as chamadas "isóbaras", linhas que unem os pontos de igual pressão atmosférica em um mapa. Essas linhas, que foram incorporadas aos diagramas a partir de 1860, ilustram a grande lei da meteorologia moderna: o vento se desloca sempre no sentido das linhas isóbaras - quanto mais juntas elas estão, mais forte é o vento. Essa descoberta, publicada em 1857 pelo meteorologista holandês Christoph Buys-Ballot (1817-1890), era fundamental, mas incompleta, pois faltava estabelecer a ligação com um último parâmetro, o da altitude. O francês Léon Teisserenc de Bort (1855-1913) e outros cientistas preencheram essa lacuna, criando a meteorologia moderna, que passou a não só observar, mas também prever os fenômenos climáticos.
Foi essa ciência que deu origem a esses mapas pioneiros, produzidos entre 1857 e 1870, ancestrais dos atuais boletins meteorológicos divulgados pela internet.
Sylvie Le Clech é diretora da unidade de Fontainebleau dos Arquivos Nacionais da França

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