Pensar sempre nela; falar, jamais. Vale tanto para a França sobre a Europa quanto para a Alsácia sobre a Lorena, entre 1870 e 1918. O assunto é tabu e convém não dizer nada sobre isso para a população francesa. Assim, François Hollande cuidadosamente evitou falar sobre a Europa quando apresentou na TF1, no dia 9 de setembro, sua "agenda da recuperação" para 2014, que deveria estabelecer o direcionamento da primeira parte de seu mandato de cinco anos.
Arnaud Leparmentier
Arnaud Leparmentier
O presidente francês, François Hollande, evita falar sobre a situação da Europa
Esse método da contagem regressiva, que também permitiu organizar a extensão para os países do Leste em 2004, caducou. A Europa se deparou com seus fracassos e sua crise de legitimidade, confirmada em 2005 pelo duplo "não" dos franceses e dos holandeses à Constituição Europeia. A crise do euro, que atesta a incapacidade pelo menos provisória da Europa de proteger os povos e lhes assegurar a prosperidade, só confirmou essa desconfiança.
Poderia François Hollande seguir seu caminho? Seu discurso na TF1 tinha toques schröderianos. No entanto, o chanceler apresentava um objetivo de longo prazo unanimemente compartilhado em seu país: restaurar a competitividade da Alemanha, para voltar a fazer dela uma exemplar nação industrial e exportadora.
François Hollande não está nessa situação. Ele não tem nenhum projeto legítimo de longo prazo que possa reivindicar, o que explica a fragilidade de seu discurso. O presidente apresenta, então, sua agenda de reforma como um parêntese de dois anos, um momento difícil de passar, que depois permitirá ter "uma sociedade mais solidária". Mas nada se diz sobre o futuro da França dentro da Europa e da globalização. Na crise, a maioria dos países em dificuldades tem adotado o modelo de reformas à maneira alemã. Voluntariamente ou obrigados. E essa escolha valerá para a França.
É a análise do ex-premiê Jean-Pierre Raffarin. "Em dado momento, pedirão aos franceses que escolham entre os Pirineus e o Reno, ou serem como os alemães ou os espanhóis", garante o senador da UMP do departamento de La Vienne. O alinhamento com a Alemanha foi em janeiro o eixo temporário da campanha presidencial de Nicolas Sarkozy. Depois de ter desprezado a política que ele considerava sacrificial de Berlim, fez dela um modelo a ser copiado. O argumento logo foi abandonado, em razão de seu efeito mais do que mitigado sobre as intenções de voto. Ele é ainda mais difícil de vender para um presidente de esquerda.
Nesse contexto, François Hollande está tácito, tanto no plano nacional quanto no europeu. Do lado europeu, o presidente espera que a União vença a barreira de obstáculos que se encontra diante dela, com sua litania de planos de resgate, de eleições e de veredictos constitucionais, permitindo que afinal os investidores retomem o caminho para o sul da Europa. Ele espera que essa trégua europeia lhe permita recuperar uma pequena margem de manobra nacional para cumprir sua agenda de dois anos.
Só depois disso a Europa poderá se tornar uma perspectiva defensável: quando ela provar sua eficácia, superando a crise. Será, então, hora de pensar em uma nova legitimação do projeto pelas populações. Os franceses estão obcecados por repetir a experiência dos referendos europeus. Mas a questão se tornará inevitável, quando as regras terão mudado tanto que as autoridades alemãs não terão outra escolha a não ser consultar sua população.
Tradutor: Lana Lim
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