quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Debate eleitoral de SP comprova queda da candidatura Serra


Debate eleitoral de SP comprova queda da candidatura Serra

Depois dos últimos resultados das pesquisas, que apontaram a consolidação de Russomano na liderança da intenção de voto do paulistano, debate entre candidatos promovido pela Rede TV foi palco de um drama que o tucanato não esperava vivenciar nessas eleições: a queda de José Serra. Ao contrário dos colegas de disputa, o candidato do PSDB à Prefeitura da maior cidade do país evitou os jornalistas após o debate.

São Paulo - José Serra deixou os estúdios da Rede TV na noite desta segunda-feira (3), depois de participar do debate eleitoral promovido pela emissora em parceria com a Folha de S. Paulo, sem falar com a imprensa. Ao contrário dos colegas de disputa, o candidato do PSDB à Prefeitura da maior cidade do país evitou os jornalistas. Seria difícil enfrentar os microfones não apenas para falar sobre seu desepenho no debate, mas para explicar a postura de seus adversários em relação à sua candidatura. 

De Chalita (PMDB) a Levi Fidelix (PRTB), todos bateram no tucano, que nitidamente não conseguiu se defender, tampouco defender a gestão Kassab, que o apoia. Até Soninha (PPS), uma das coordenadoras da campanha de Serra à Presidência da República em 2010, criticou, mesmo que de leve, o ex-governador. Já Russomanno (PRB) e Haddad (PT), primeiro e terceiro colocados respectivamente nas pesquisas, preferiram se enfrentar diretamente do que atacar Serra. Os dois também foram os alvos prioritários dos demais candidatos, que muitas vezes optaram por não debater com Serra.

O primeiro ataque veio de Gabriel Chalita, que disputa a Prefeitura por um partido que foi base das gestões Serra quando este ocupava tanto o Executivo municipal quanto estadual. Chalita perguntou pro tucano por que ele havia fechado 200 escolas em tempo integral, aberta quando ele estava na Secretaria de Educação de Alckmin. Serra respondeu dizendo que essas escolas nunca haviam sido abertas por falta de condições, e que Chalita só teria assinado a determinação para abrir as unidades 3 meses antes de sair do governo. 

A réplica de Chalita tentou mostrar, com números, sua argumentação. Citou ano a ano do governo Serra à frente do estado quantas unidades em tempo integral haviam sido fechadas. "Além de todas as escolas que fechou, nós construímos 426 escolas novas, e Serra só 134. Ampliamos 292, ele 147. A educação em SP hoje seria outra se Serra não tivesse feito o que fez. Foi a única capital do sudeste que não atingiu o patamar do Ideb", criticou. Na tréplica, o desespero de Serra: "Fico assombrado com a facilidade que ele tem para faltar com a verdade. Chalita está mentindo. Não tem nada pra apresentar em seu currículo e sempre fala isso, como se tivesse feito as escolas abertas. Se achasse importante, teria feito antes. (...) Nós não apresentamos propostas para não funcionar depois". 

Em outra momento do debate, Chalita contra-atacou: "Não sou mentiroso, não tenho histórico de mentiroso. Quem disse que não conhecia o Paulo Preto não fui eu, que não nomeou o Aref não fui eu, que não sairia da Prefeitura não fui eu. Me respeite e eu respeito o senhor". Serra pediu direito de resposta, que foi negado pela comissão responsável da emissora.

Privataria tucana e rejeição
No final do primeiro bloco, coube a Serra perguntar para Carlos Giannazi (PSOL). E numa inocente questão sobre qual seria a política do socialista em relação à distribuição de medicamentos gratuitos à população, Serra novamente apanhou feio.

"A primeira coisa é acabar com a privataria tucana na saúde. Mais da metade do orçamento da saúde em São Paulo vai para as OSs. O processo de terceirização e privatização não funcionou e vamos acabar com ele. Quando foi governador, Serra aprovou uma lei criando dupla porta na saúde estadual, entregando 25% do atendimento hospitalar para os planos de saúde. Nos defendemos que a gestão da saúde publica seja feita pelo setor público, defendemos o SUS", disse Giannazi. 

A resposta auto-elogiativa de Serra acerca do programa Remédio em Casa não evitou um novo ataque de Giannazi na tréplica. "Serra está fazendo mais uma propaganda enganosa para a população de São Paulo (...). Fala de uma cidade que não existe. A saúde é a maior reclamação da população. Há uma abismo e contradição enorme entre o discurso do Serra e a realidade da saúde na cidade, que está um verdadeiro caos. Serra disse que foi o melhor Ministro da Saude do planeta, imagine se tivesse sido o pior", provocou. Serra pediu um novo direito de resposta, que também lhe foi negado pela Rede TV/Folha.

No segundo bloco, uma das jornalistas da emissora perguntou ao tucano se sua alta rejeição pela população seria uma forma de punição pelos problemas da gestão Kassab. Na última semana, uma pesquisa do Datafolha mostrou que 44% dos paulistanos não votariam em Serra. E a maioria da população diz querer um prefeito que realize ações diferentes das de Kassab, que foi vice de Serra e chegou ao poder quando o tucano abandonou a gestão para disputar o governo do Estado. 

"Não fui eu que dei a Prefeitura a Kassab. Ele foi eleito por mais de 60% da população", reagiu. "Quanto ao resultado do Datafolha, pesquisa é assim. Os números do Ibope são bem menores. E, como sou bastante conhecido, é natural que as pessoas formem um juízo sobre mim, a favor ou contra", analisou. A resposta imediatamente virou alvo de piadas no microblog Twitter. Um incontável número de internautas brincou: "quem conhece Serra não vota nele jamais!".

Ao final do debate, Soninha, em entrevista à imprensa, criticou o fato do próprio PSDB ter abandonado Serra. "A gente pode discutir é quanto o Serra pode continuar com o partido dele. Ele foi convidado com insistência pelo PSDB para se candidatar, visto que as intenções de voto dos outros candidatos não inspiravam muito otimismo. Agora cadê o PSDB para defender o seu candidato?", questionou.

"E o Maluf, Haddad?"
Ainda durante o debate, Soninha foi a primeira a levantar o tema da aliança de Haddad com Maluf, depois questionado ao candidato do PT no bloco de perguntas feitas pelos jornalistas. Haddad rebateu dizendo que "não gosta de fulanizar a política".

"Poderia falar que o Russomanno é apoiado pelo Roberto Jeferson, que Serra é apoiado pelo Valdemar Costa Neto. Mas vejo a política de um jeito diferente. Faço aliança com partidos, e desde janeiro disse que me aliaria com todos os partidos da base do governo Dilma. Quero trazer pra São Paulo um projeto aprovado por 80% dos brasileiros, que teve início com Lula. Não há nada que desabone esta aliança porque ela é feita em cima de um programa de governo", respondeu Haddad.

Mais seguro e tranquilo que no primeiro debate, realizado há um mês pela TV Bandeirantes, o candidato do PT desta vez partiu para a ofensiva contra o líder das pesquisasa: Russomanno. No início do programa, perguntou diretamente por que ele era contra sua proposta de bilhete único mensal a R$ 140.

Russomanno titubeou: "Não sou contra, mas não consegui entender como vamos pagar esta conta. Alguém tem que arcar com este custo. Queremos coisas factíveis. Tenho estudos para aumentar o tempo do bilhete único, para faciliar o recarregamento nas catracas. Mas faço propostas em cima do que é possível. Se você tem estudos de que comprovam que este projeto pode ser pago, seria o primeiro a implantar". 

"Eu seria o último a lançar uma ideia não exequível. A equipe que formulou esta proposta é a mesma que fez o bilhete único da Marta. Foi muito criticada no começo, disseram que era impossível. E tudo se mostrou um equívoco. Trabalhadores e estudantes em todo o mundo tem direito a isso. Nao consigo conceber como uma cidade como a nossa não pode oferecer este direito para os seus cidadãos", respondeu Haddad - sem apresentar os números. 

Para quem encabeça com alguma folga a disputa em São Paulo, Russomanno não brilhou. Respondeu com hesitação a algumas perguntas, sobretudo a dos jornalistas, que o questionaram sobre a influência da Igreja Universal do Reino de Deus em seu partido: "80% do meu partido são de católicos ou outras religiões, somente 20% são evangélicos e só 6% da Universal. Um dos fundadores foi José de Alencar, católico fervoroso. Eu sou católico também. Acho importante as igrejas na sociedade. As pessoas não roubam e não matam às vezes porque a religião é linha de conduta de vida. Acho que o poder público tem obrigação de cuidar das igrejas para que elas permaneçam na sociedade. São importantes e vamos preservá-las. O PRB é um partido que aceita inclusive os homossexuais, não temos problema algum com isso. Discutir religião não vale a pena, porque não estamos fazendo eleição pra Papa. Quero discutir os problemas de São Paulo", se esquivou.

Posteriormente, desabafou: "Estou sendo vítima de um massacre porque estou em primeiro lugar nas pesquisas. Mas não me deixarei guiar sobre isso". 

O próximo debate entre os candidatos acontece no dia 17, na TV Cultura, em parceria com O Estado de S.Paulo. No dia 24, o encontro é na TV Gazeta. No dia 1º de outubro, na Record. A Globo encerra o ciclo de debates no dia 4, três dias antes do paulistano ir às urnas. Segundo os analistas políticos, é impossível prever o desfecho do primeiro turno em São Paulo. 

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