quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Uma terra devastada pela ChevronTexaco


No Equador, exploração de petróleo feita pela transnacional deixa rios contaminados e pessoas com graves doenças

Eduardo Seidl
Daniel Guaramac é um dos pais de família que teve de abandonar sua terra em Shushufindi (povoado da província de Sucumbíos, no Equador).O motivo: a contaminação causada pela extração de petróleo na Estação Aguarico pela transnacional estadunidense ChevronTexaco.

A mudança de residência não foi a única conseqüência da ação da companhia. Os 8 filhos de Guaramac e sua esposa sofrem de enfermidades causadas pela contaminação por petróleo cru e por águas de formação (subproduto da extração). Feridas na pele, problemas estomacais, cardíacos, dores de cabeça. Sua esposa já teve 4 abortos e um filho morto aos 5 anos, vítima também da ação da transnacional. Luciano Vicente era seu nome. Certo dia, o garoto caminhava pela beira de um riacho, escorregou, acabou caindo na água e ingeriu um pouco de petróleo cru. Depois de 6 meses, faleceu.

Daniel Guaramac semeava mamão e tinha porcos em seu terreno. Perdeu 10 cabeças de gado, 10 cavalos, algumas centenas de galinhas. O café que plantava não produz mais.

Faz seis anos que vendeu sua terra e se mudou com a família para Guayaquil, maior cidade equatoriana localizada na região litorânea. Mas não consegue trabalho. Reclama da insegurança, das quadrilhas que perturbam seus filhos. Vive em uma casa que não concluiu por falta de recursos. Até hoje não se acostuma à vida urbana. “Até água tenho de comprar, o galão custa 80 centavos de dólar.”

Antes de sair de Shushufindi, Guaramac trabalhava como auxiliar de cozinha na empresa OKC, que pertencia à ChevronTexaco. Um dia chegando em casa, seu terreno estava tomado pelo petróleo. Teve que nadar até a porta, segurando a comida que trazia acima da cabeça. “Eu pensei que minha esposa estava afogada no petróleo, mas felizmente ela estava bem”. Não pôde ir trabalhar durante 5 dias, ilhado dentro de sua casa. Quando chegou à empresa, lhe despediram. “Eu não quero ficar reclamando para que não digam que eu sou contra as companhias; eu apenas estou reivindicando o direito ao meu trabalho”, explica. Segundo ele, em nenhum momento a empresa fez recomendações sobre os males causados pela contaminação.

Terror negro

Perto de onde vivia a família de Guaramac, a transnacional ChevronTexaco construiu e operou uma estação que explorou o petróleo da região entre os anos 1974 e 1990. Ali eram separados o óleo cru, a água de formação e o gás natural em 10 poços.

Segundo a Frente de Defesa da Amazônia (FDA), nesse período de 26 anos, a transnacional extraiu mais de 47 milhões de barris de óleo cru, quase 12 milhões de água de formação e queimou ao ar livre cerca de 10 milhões de pés cúbicos de gás. A água de formação, altamente tóxica, vertia diretamente a riachos que desembocam no rio Aguarico, que atravessa o território habitado pelas comunidades indígenas Siona e Secoya. Os moradores sofrem hoje de diversas enfermidades como conseqüência.

Esse rio é a única fonte de água para consumo das pessoas, animais e plantações. Essas populações originárias tiveram seu território reduzido, foram obrigadas a mudar seus costumes de vida e de alimentação.

Representantes das comunidades de Siona e de Secoya e outros colonos da região entraram com um processo judicial contra a ChevronTexaco. Pelo “Juicio del Siglo” (Julgamento do Século), desde 1992, ambas as partes vêm fazendo inspeções técnicas em alguns locais da região. No total, serão 123 pontos inspecionados. Até agora 100% das analises químicas das amostras inspecionadas mostraram índices de contaminação que violam a lei nacional e internacionais.

“Os rios eram petróleo puro”

A tragédia da família de Daniel Guaramac não é uma história isolada na região de Shushufindi (na província de Sucumbíos, no Equador). Wuilmo Moreto, que trabalha como professor em uma escola na margem do Rio Napo, por exemplo, sofre de enfermidades há 10 anos e teve que sair de lá em busca de trabalho. Sua pele ficou extremamente sensível como efeito colateral dos medicamentos que usou. Moreto gasta mais da metade do seu salário mensal com remédios. “Aqui, não há nenhuma medida de prevenção porque ninguém faz nada por ninguém, tudo gira em torno do dinheiro e do petróleo.”

Já Alberto Mendonza chegou em Shushufindi ainda criança e não sabia da ChevronTexaco. Lembra que caminhava pelos rios que eram puro “petróleo cru”. Os pescados e outros animais morriam. Toda sua família trabalhava com agricultura, mas hoje nada se produz. “Eu não deixo meus filhos soltos e os proíbo de brincar em certos lugares. Tenho de privá-los da liberdade que tínhamos porque senão podem se contaminar.”

A jovem Carmen Perez, de 24 anos, também trabalhava com agricultura, pescava e caçava alguns animais na mata. “Hoje, não há como subsistir. Nos deixaram apenas com o prejuízo. E o pior é que eles (a Chevron-Techaco) dizem que nossa região não está contaminada. Mas vocês podem ver que estamos todos com doenças. Não temos onde pedir ajuda porque não há remédio para as enfermidades daqui do Oriente”. Hoje, as poucas pessoas que continuam vivendo no Shushufindi bebem água de poços artesianos, mesmo sem análises que atestem que é boa para o consumo.

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