Na semana passada estive em Monterrey em missão de espionagem para o Clube Atlético Mineiro. Fui ver de perto o time dos Rayados que vão jogar o mundial de clubes no Marrocos em dezembro. No futebol tudo parece estar tranquilo, os Rayados não jogam lá estas coisas. E como viajei disfarçado de professor especialista em espaço público latino-americano, descobri que no urbanismo o México (que não anda nada bem nas eliminatórias) está ganhando da gente de 2 x 0 ai pelo inicio do segundo tempo.
Fernando Lara
Fernando Lara
Alí funcionam vários equipamentos culturais e um museu dedicado a “arqueologia industrial”, apontando claro para a memória da época aura do setor secundário. Já pensaram quantos espaços culturais e parques poderemos ter na medida em que nosso parque industrial, um pouco mais novo que este de Monterrey, for sendo desativado. Infelizmente, o mais comum é o terreno ficar anos abandonado enquanto corre o processo de falência, acumulando lixo e aedes-egypti pra todo lado. Depois, na nossa fúria capitalista, o terreno é então vendido para que se perpetue o processo de construção e destruição privada das cidades. Espaço público, este coitado, que fique esperando elegermos um prefeito ou um governador corajoso. Gol do México, 1 x 0.
Agora começa o segundo tempo e temos tudo para virar o jogo. O convite para palestrar em Monterrey veio porque eles querem saber mais sobre o orçamento participativo, tema de vários artigos acadêmicos do meu disfarce de professor. Neste sentido o Brasil tem muito a ensinar, mesmo que ultimamente tenhamos deixado de lado este eficiente instrumento de empoderamento das comunidades mais carentes. Temos ataque para virar este jogo mas precisamos voltar a investir nos processos participativos ao mesmo tempo em que tomamos coragem de enfrentar o direito de propriedade em nome do bem maior da comunidade. E antes que me acusem de querer invadir terreno de alguém reafirmo que os instrumentos de indenização, iptu progressivo e solo criado (transferência do direito de construir) estão todos regulamentados desde 2001 pelo Estatuto das Cidades, a melhor lei aprovada pelo governo FHC.
O que precisamos é de parar de usar estes instrumentos de forma oportunista como por exemplo para facilitar a vida de empreendimentos hoteleiros com a desculpa de fazer bonito para a dona FIFA; e começar a aplicar a lei em defesa dos rios urbanos, parques e áreas de lazer que tenham potencial para melhorar a vida da grande maioria.
Uma cidade melhor é como o ouro olímpico que insistimos em deixar escapar, por indiferença ou por incompetência. As ruas, nossa maior arquibancada, estão gritando por um urbanismo melhor. Ao ataque urbanistas!
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