quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Roteiros turísticos visam incentivar consumo de café em Minas Gerais





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Globo Rural 

Projeto foi apresentado a compradores, jornalistas e especialistas


por Raphael Salomão, de Patrocínio (MG)*
A Federação dos Cafeicultores do Cerrado Mineiro pretende incentivar o turismo para atrair compradores e consumidores para o café produzido na região. Uma versão piloto do projeto foi apresentada neste mês a jornalistas e representantes do setor.
Luciana Santos
A Região do Cerrado Mineiro reúne 4,5 mil cafeicultores que produzem 5 milhões de sacas anuais (Foto: Luciana Santos/Uberlândia-MG)
A iniciativa foi batizada de Harvest Celebration (celebração da colheita). O objetivo é evidenciar as características e a diversidade do café, além de elementos da própria cultura da região, que tem desde 2005 o certificado de Indicação Geográfica, concedido pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi).
A reportagem da Globo Rural acompanhou entre sexta-feira (13/9) e sábado (14/9) um roteiro no município mineiro de Patrocínio. O grupo tinha também outros jornalistas (um deles dos Estados Unidos), um barista e um dono de uma torrefadora holandesa. 

No primeiro dia, o grupo conheceu a Federação dos Cafeicultores do Cerrado, onde recebeu informações sobre as características da região. A área abrange 55 municípios. São 4,5 mil produtores que tiram de cerca de 170 mil hectares de lavouras 5 milhões de sacas anuais. O Cerrado Mineiro possui áreas com altitudes que variam de 800 a 1,3 mil metros, possibilitando a produção de pelo menos 12 diferentes qualidades da bebida.
Luciana Santos
Expocaccer movimenta por ano 1,2 milhão de sacas de café (Foto: Luciana Santos/Uberlândia-MG)
Foi feita também uma visita a Cooperativa dos Cafeicultores do Cerrado (Expocaccer) uma das principais da região, que atua como canal de exportação. No ano passado, a cooperativa vendeu 292,784 mil sacas no mercado interno e outras 309,215 mil no mercado externo. A cooperativa tem capacidade estática de armazenagem de mais de 800 mil sacas e movimenta por ano 1,2 milhão. Embarca café para países como Estados Unidos, Canadá, Itália e Japão. 

No segundo dia, os participantes participaram de um cupping, no Centro de Excelência do Café. Conheceram e puderam vivenciar como são feitas as degustações de avaliação de café e os critérios de atribuição da qualidade da bebida. O local está em uma fazenda pertencente àEmpresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig). São 60 hectares plantados com café, que abrigam o banco de germoplasma usado em pesquisas. 

“As pesquisas estão mais concentradas na qualidade do café. Antes, eram mais focadas na produtividade. A intenção é criar cada vez mais variedades típicas da região”, explicou Juliano Tarabal, diretor de marketing da Federação dos Cafeicultores do Cerrado, conduzindo o grupo.
Na parte final, o grupo conheceu a comunidade Esmeril, formada por agricultores familiares beneficiados pela reforma agrária. A área está localizada onde era uma fazenda de 1,2 mil hectares que foi loteada em pequenas áreas de 15. A maior produção no lugar é de café, mas há outras atividades, como produção de eucalipto, frutas, leite e mel. 

Os participantes conheceram o cafeicultor Mário Lúcio Donizete dos Reis, de 42 anos, que toca a produção junto como pai, a mãe e um irmão. Ele contou que produz café há 13 anos. Na casa simples, uma missão clara: “produzir produtos agrícolas de qualidade, com eficiência e produtividade a fim de atender aos exigentes mercado consumidores”. Missão levada bem a sério, disse ele, que participa de programas voltados para a gestão da propriedade e tem a produção certificada.
Luciana Santos
No cupping, visitantes puderam saber como é feita a avaliação do café (Foto: Luciana Santos/Uberlândia-MG)
Reis pertence à Associação dos Pequenos Produtores de Café do Cerrado (Appcer). A cooperativa reúne 57 cafeicultores, todos habilitados a vender café pela certificação Fairtrade (Comércio Justo), que garante preços diferenciados. A certificação foi adquirida em 2011. Naquele ano, foram vendidas 2,6 mil sacas certificadas, contou o presidente da Appcer, Carlos Behrend. Neste ano, a expectativa é vender cerca de 15 mil. O resultado das vendas, explicou Behrend, é revertido em melhorias na produção e para os próprios associados e suas famílias. 

O curioso é que, apesar de ser uma associação de pequenos, a Appcer admite cafeicultores de maior porte, disse o presidente. “Desde que seja submetido às regras da cooperativa”, explicou. Uma delas: o total das vendas não pode ser maior que a metade da soma dos menores. 

Na parada seguinte, foi a vez de conhecer a produção na parte de maior altitude no Cerrado Mineiro. A região conhecida como Chapadão de Ferro está localizada onde era um antigo vulcão. São quase 1,3 mil metros de altitude. A antiga boca do vulcão forma uma chapada de solo avermelhado e rico em ferro. Daí o nome do local. 

Produtor do chamado “café de origem vulcânica”, Ruvaldo Delarrisse tem 125 hectares de cafezais dos 154 da propriedade. Neste ano, colheu 4,5 mil sacas. O foco da produção é o café especial, que ele vende em pequenos lotes, principalmente para Suécia, Estados Unidos e Japão. Na entrada da casa, chama a atenção a quantidade de certificados de participação em concursos de qualidade do café, dos quais ele participa desde 2003. 

“Não sabia nada de café”, contou Delarisse ao dizer que chegou no Cerrado Mineiro em 1984. Com uma produção focada em cafés especiais, o cafeicultor contou que exporta 95% do volume que tira dos cafezais.
Luciana Santos
Visita termina com um brinde em uma bela paisagem (Foto: Luciana Santos/Uberlândia-MG)
Saindo da propriedade, o encerramento da expedição. Um brinde final, com quitutes típicos da culinária mineira e, sem dúvida, um bom café passado na hora. 

“Queremos consolidar esse roteiro e criar outros porque tem outras microrregiões que pode ser conhecidas”, diz Juliano Tarabal. Segundo ele, além de ir para outras localidades, a ideia é adaptar os percursos ao perfil dos participantes. 

“Podem ser mais curtos ou mais extensos. Torrefadores, por exemplo, podem participar de um turismo de experiência, provando cafés e conhecendo a realidade da região. Para agrônomos, por exemplo, pode ser mais técnico e aprofundado”, diz. 
Parceria

O projeto é feito em parceria com o Sebrae de Minas Gerais. “A ideia não é ter apenas um roteiro turístico, mas também propagar o café do Cerrado nos bares e restaurantes da região”, explica Marcos Alves, analista técnico da empresa na região do Triângulo Mineiro, cuja atuação abrange o Cerrado. 

Segundo ele, está sendo feita uma avaliação de “fatores limitantes” à introdução do produto. “Bares e restaurantes ainda não estão preparados. É preciso criar um projeto estruturado para que o consumidor acesse o café e agregue valor aos produtores no mercado local”. 

Marcos Alves informou ainda que projetos semelhantes estão sendo feitos em outras regiões. Além do Cerrado Mineiro, foi visitada na semana passada a região da Mantiqueira de Minas, também forte na produção de café. 

Desde 2011, a Mantiqueira tem a Indicação Geográfica concedida pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi). A Mantiqueira temcerca de 7,8 mil produtores, 98% pequenos. A produção é de 1,3 milhão de sacas por ano em 69 mil hectares. 

*o repórter Raphael Salomão viajou a convite do Sebrae/MG

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