domingo, 22 de setembro de 2013

Trimerkel


Marx dizia que a Alemanha, na sua época, se parecia a um ser deformado, com uma enorme cabeça – pela estatura da sua cultura – e um corpo franzino – pelo atraso das transformações históricas da sociedade alemã. Hoje se poderia projetar uma imagem oposta da Alemanha: uma sociedade robusta e uma cabeça atrofiada.

Faltava os alemães decidirem pelas eleições como Merkel deveria governar no seu terceiro mandato: se repetindo a aliança com os liberais, se com os social democratas e/ou com os verdes, ou sozinha, com maioria absoluta. Merkel esteve perto desta última possibilidade – só conseguida por Konrad Adenauer. Faltaram poucos parlamentares.

A DC cresceu 8 pontos, mas seu aliado, o Partido Liberal, perdeu 10, não entrando no Parlamento – pela primeira vez na sua história. Na soma dos seus votos, o eleitorado a favor do governo que termina seu mandato não aumentou seu apoio. 

O mesmo ocorreu no bloco opositor. A SD aumentou 3%, mas os Verdes e a Esquerda perderam um pouco mais. Quem ganhou foi o partido que pregava a saída do euro, que quase chegou ao Parlamento.

Como resultado, Merkel vai ter que negociar. A SD sempre disse que não gostaria de repetir a aliança do primeiro mandato a Merkel, quando pagaram o preço. Naquele mandato a SD pagou o preço do desastroso governo do seu partido, dirigido por Schroeder, que iniciou as reformas neoliberais a que Merkel deu continuidade. Essa circunstância facilitou que a DC pudesse ter um segundo mandato aliada só com os liberais.

Nestas eleições, Merkel saberia se poderia dar seguimento a seu segundo mandato ou teria que reprisar alianças com a oposição, como no primeiro. Vai ter que negociar. A SD sempre disse que não queria voltar a um cogoverno. Mas os Verdes se apressaram a expressar que eles, sim, estão dispostos a negociar uma aliança com a DC.

Serão semanas de negociação, com Merkel em posição de força. A SD teve o segundo pior resultado da sua história. Os Verdes perderam 3%, mas sobretudo tiveram menos da metade do que as pesquisas chegaram a dar-lhes.

Os alemães expressaram apoio à continuidade das orientações do governo da Merkel. A SD pode reivindicar um ministério econômico, um da área social e o de Relações Exteriores. A política alemã em relação à Europa pode ser um pouco flexibilizada, mas não alterada nos seus fundamentos. Afinal, foi pela inflexibilidade demonstrada pelo governo que Merkel conseguiu seu terceiro mandato.
Postado por Emir Sader às 18:36

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