terça-feira, 17 de setembro de 2013

Uma relação que ganhou com as crises - MUNDO ÁRABE


Desafios políticos e econômicos influenciaram desempenho dos negócios entre o Brasil e o Oriente Médio. Primavera Árabe e diversificação da economia dos países do Golfo poderão trazer mais benefícios.


São Paulo – Desde 2003, quando a Agência de Notícias Brasil Árabe (ANBA) foi criada, o preço do barril de petróleo tipo Brent subiu 380%, o Brasil foi e deixou de ser autossuficiente na produção desta commodity, Dubai enfrentou uma crise de dívida, os preços de commodities alimentícias atingiram picos, os Estados Unidos invadiram o Iraque e a Primavera Árabe derrubou ditaduras. Todos estes fatos influenciaram a relação do Brasil com os países árabes nos últimos dez anos.
Entre os efeitos destas crises está o aumento da renda no mundo árabe em função do crescimento do valor do petróleo e no Brasil, que foi beneficiado por políticas de governo e pelo aumento do preço das commodities. Como resultado, as exportações dos dois lados cresceram.
ANBA
Evolução da cotação da commodity desde 2003
Professor de Economia e Política das Faculdades Integradas Rio Branco, Carlos Stempniewski afirma que o aumento no preço do petróleo aumentou a renda dos países árabes que exportam o produto e os fez importar mais. “O preço garante uma condição de receita a estes países, que passam a comprar mais. O que o Brasil mais consegue colocar no mercado deles são alimentos, itens que cresceram na pauta de exportações”, diz. Ele observa que a compra de alimentos e, sobretudo, de carne pelos árabes foi positiva para o Brasil em dois aspectos: a venda do produto e o aperfeiçoamento da sua cadeia produtiva.
“O aumento destas exportações obrigou os frigoríficos e as empresas brasileiras do setor a ampliar o controle fitossanitário da carne, a ter mais cuidado com o manejo dos animais e a prevenir doenças para atender as exigências desses países. Isso gerou uma melhoria na qualidade do produto, que fez evoluir as vendas para todo o mundo”, diz Stempniewski. Por outro lado, afirma o professor, o Brasil passou a depender mais do petróleo dos árabes. “O Brasil é importador do produto. Somos deficitários há três anos (na produção de petróleo).

Stempnievski observa que o Brasil é um antigo parceiro comercial da região. Nos anos 1980, por exemplo, o País exportou armas ao Iraque de Saddam Hussein e desde 2003, quando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva assumiu o poder, o Brasil passou a buscar novos parceiros comerciais na África e no Oriente Médio.

De olho no futuro

Representante regional para a América Latina do National Bank of Abu Dhabi (NBAD), Angela Martins, também afirma que a aproximação comercial promovida pelo governo do ex-presidente Lula ampliou as relações comerciais com os países árabes e abriu portas para empresas do Brasil investirem na região, assim como atraiu os árabes para o País.

No governo de Lula foi criada Cúpula América do Sul Países Árabes (ASPA), para aproximar os líderes e sociedades civis destas regiões. A primeira edição da ASPA, em 2005, foi realizada em Brasília. Doha, no Catar, sediou a segunda ASPA, em 2009. Lima, no Peru, abrigou os representantes dos países na terceira edição do evento, no ano passado.

A executiva do NBAD observa, no entanto, que além deste “passo” que já foi dado pelos governos destes países há chances de abrir novas portas no futuro, pois, na sua avaliação, há um grande potencial de negócios entre os países da América Latina e os árabes.

A Primavera Árabe pode pode mudar a política do Oriente Médio e do Norte da África. A série de revoluções na região começou em dezembro de 2010, quando o vendedor Mohamed Bouazizi se imolou na Tunísia. O ato provocou protestos que resultaram na renúncia do presidente Zine El Abidine Ben Ali.

Outros líderes árabes deixaram o poder após o tunisiano. No Egito, Hosni Mubarak renunciou em fevereiro de 2011 e Mohamed Morsi foi deposto em julho deste ano. Na Líbia, o ditador Muamar Kaddafi foi morto em outubro de 2011. Um mês depois, Saleh Abdullah Saleh renunciou ao poder no Iêmen. Na Síria, o presidente Bashar aL Assad enfrenta há mais de dois anos militantes de oposição, assim como o governo do Bahrein. Até países do Golfo ampliaram benefícios à população para evitar crises.
Marcos Carrieri/ANBA
Masdar City, em Abu Dhabi: economia sustentável
“O Golfo tem uma economia muito grande. Catar, Emirados Árabes Unidos, Omã e Kuwait são estáveis e têm uma situação (política e econômica) confortável. No Norte da África a Primavera Árabe marcou a queda de ditaduras e a região está em outro momento da sua história, mas são países com potencial de crescimento, como é o caso da Líbia, que é rica em petróleo, e do Egito, que tem uma economia diversificada. Vejo a região (do Oriente Médio e do Norte da África) com olhar positivo, com exceção do Levante (formado por Iraque, Líbano, Síria e Jordânia)”, diz a executiva, que há quase 20 anos atua em projetos entre o Brasil e os países árabes.

Na avaliação de Martins, os potenciais ganhos para as economias árabes e brasileira não param aí. Ela observa que alguns países do Golfo estão se esforçando para diversificar sua economia. O Catar esta investindo em educação. Abu Dhabi terá uma filial do Museu do Louvre, recebe uma etapa do campeonato de Fórmula 1 e construiu a Masdar City, uma cidade sustentável no deserto.

A capital dos Emirados Árabes Unidos também tem o projeto “Visão econômica Abu Dhabi 2030”, que prevê diversificar a economia e reduzir a dependência do emirado dos recursos petrolíferos. Em 2005, 59% do Produto Interno Bruto (PIB) de Abu Dhabi era procedente do petróleo. A meta do emirado é que em 2030 64% do PIB seja gerado pelo setor não petrolífero.

“Os países do Golfo eram mais fechados e agora estão se abrindo. Como é o caso do projeto Abu Dhabi 2030. É uma prova de que sabem que não podem depender de apenas um produto. O Catar também (o gás gera 57% do Produto Interno Bruto). São países que poderiam viver do petróleo e do gás, mas que estão diversificando suas economias”, diz Martins.

Tanto Martins quanto Stempniewski alertam, porém, que o Brasil precisa se preparar para se beneficiar dessas novas mudanças na economia e na política. O professor afirma que o Brasil precisam ampliar sua presença no comércio internacional. Martins alerta para a falta de infraestrutura brasileira. “O Brasil cresce e chega um momento em que para de crescer devido a estas limitações. É preciso investir em infraestrutura para suportar o crescimento”, diz.

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