A especialização primária com desindustrialização no comércio externo, acrescida de uma
situação estruturalmente deficitária nas transações com "Serviços", caminha para fechar o ano
de 2013 com déficit na faixa de 75 a 80 bilhões de dólares, algo como 3,5% do PIB.
GUILHERME C. DELGADO
GUILHERME C. DELGADO
Essa situação de déficits seguidos e crescentes nas transações externas está bem documentada empiricamente, já não pode ser escondida mediante discurso escapista, mas precisa ser interpretada. É algo assim como o diagnóstico de uma aurora ou de um ocaso, que o observador experiente não confundirá, bastando saber ler a posição do Sol e a disposição dos raios solares. Mas identificados objetivamente os sinais do tempo e constatada a presença de uma aurora ou de um ocaso (independente da posição ideológica do observador), variam enormemente os significados do tempo sobre o devir, na percepção e avaliação dos sujeitos observadores.
Dois fenômenos também fartamente documentados do ponto de vista empírico se cruzaram neste ano corrente: a forte concentração de bens primários na exportação (‘reprimarização' do comércio externo) e a fuga dos produtos manufaturados das exportações, trocando de posição para as importações - a desindustrialização das exportações. E pela primeira vez desde 1995-99, quando a Balança Comercial foi seguidamente negativa, poderemos ter uma situação similar em 2013.
A solução para a crise externa de l999, que foi a de conduzir o sistema econômico para a via primário-exportadora, seguida de seu irmão siamês, qual seja, a desindustrialização do comércio externo, não resolve o desequilíbrio externo. Isto agora está meridianamente claro. O problema maior está na leitura que o sistema conservador ora faz do sentido de sair da crise cambial que se desenharia, com a repetição do último triênio (2010/2013) por mais outro. Parece que se volta a apostar no aprofundamento da exploração das "commodities' do setor primário, especialmente do petróleo, cujos ritmos de produção precisariam experimentar superexploração em médio prazo para dar solvência à dependência externa.
Temos algum tempo para resolver os dilemas do presente. A eleição de 2014 não será igual à de 1998, quando a mídia sistematicamente escondeu a crise cambial para não prejudicar a reeleição do presidente Fernando Henrique. Agora ao contrário, tenta-se forjar uma crise cambial iminente, que não é verdadeira. Mas é infelizmente uma meia-verdade, tecida pelo casamento infeliz da ‘reprimarização' com a desindustrialização do comércio externo, processos que não são apenas fenômenos empíricos, mas estruturas perversas da economia política do subdesenvolvimento, recuperadas depois de 1999, mas que precisam ser reformadas em profundidade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário