Mais uma vez, a Europa provou que os pessimistas estavam errados. Ainda que titubeante
e imperfeita, a União Europeia resistiu em 2013 e o euro não se desintegrou. A entrada da Croácia
para os países-membros no dia 1º de julho de 2013, as manifestações pró-UE na Ucrânia neste
inverno e a adoção da moeda única na Letônia, na quarta-feira (1º), mostram que a União Europeia
e o euro ainda nutrem esperanças.
Claire Gatinois E Alain Salles
Claire Gatinois E Alain Salles
A chanceler alemã Angela Merkel será figura central na Europa em 2014
Só que a crise econômica, política e social não terminou, e o ano de 2014 traz seus desafios. Será grande a tentação de evitar os assuntos inoportunos, a cinco meses das eleições europeias, tradicional válvula de escape dos eleitores. A seguir, um apanhado dos grandes temores da Europa para 2014.
Temor das eleições europeias
Pouco populares e geralmente sem questões de interesse nacional, as eleições do final de maio para o Parlamento Europeu muitas vezes passam em segundo plano entre os países-membros, particularmente quando eleições nacionais acontecem durante o mesmo período, como será o caso da França, da Bélgica, da Hungria, da Eslováquia e da Romênia.
Esse desinteresse dos partidos tradicionais pode acabar custando uma ascensão das correntes populistas. Após anos de crise e de austeridade imposta por Bruxelas, o discurso dos "anti-UE" se acirrou. Diante dos argumentos "técnicos" e "soporíferos" dos pró-UE, os opositores ferrenhos da União Europeia agora parecem "formidáveis", lamentou o ex-ministro da Educação Nacional, Luc Ferry, durante as Conferências do Federalismo Europeu, realizadas em dezembro de 2013, em Paris.
Ciente de seu potencial nestes tempos turbulentos, a extrema direita tem se mobilizado em torno da nova aliança fechada em novembro entre Marine Le Pen e o holandês Geert Wilders para ter peso no Parlamento.
Na outra ponta do espectro político, a esquerda radical europeia conta com sua figura de proa, Alexis Tsipras, o líder da oposição grega, para encarnar uma linha contrária ao rigor e à "Europa de Merkel". No meio, os verdes e os liberais, entre os conservadores e os socialdemocratas, podem acabar enfraquecendo.
Imigração
É o suficiente para reforçar o temor de uma Europa sitiada, alimentando o discurso anti-imigração da extrema direita.
"Europa dos ricos", "Europa dos pobres"
Seja potencial ou imaginário, esse fluxo migratório levou o premiê britânico, David Cameron, a rever a questão da livre circulação de pessoas – um dos pilares da União Europeia. Ele defende que um país da UE só se beneficie da liberdade completa de circulação a partir de um certo nível de produto interno bruto (PIB) por habitante. Em outras palavras, a ideia seria distinguir a "Europa dos pobres" da "Europa dos ricos".
Superar o revés ucraniano
A diplomacia europeia sofreu um fiasco retumbante quando a Ucrânia se recusou a assinar, no final de novembro de 2013, a parceria oriental com a União Europeia, por medo de represálias por parte de Moscou. Bruxelas, que provavelmente demonstrou ingenuidade, deverá se armar para evitar outros reveses, porque a Rússia ofensiva de Vladimir Putin deverá continuar a usar a arma das pressões econômico-diplomáticas. Sobretudo contra a Geórgia e a Moldova, que no final de novembro de 2013 assinaram seus próprios acordos de associação com a União Europeia e que agora têm tropas russas estacionadas em seus territórios.
Confirmar o fim da crise
A retomada econômica, por tantas vezes anunciada e o mesmo tanto de vezes frustrada, agora parece estar ao alcance dos membros da União Europeia e da zona do euro. Mas para isso devem evitar deslizes. Em 2014, os países que antes estiveram sob tutela da "troika" (Banco Central Europeu, Comissão de Bruxelas e Fundo Monetário Internacional) voltarão para os mercados financeiros. A Irlanda, Portugal e também a Grécia, que preside a União Europeia neste início de ano, são aguardados em um clima que mescla esperança e preocupação.
Os dirigentes políticos já parecem ter aprendido com seus erros em sua comunicação com os mercados. No lugar dos discursos vingativos do início, entram mensagens de encorajamento direcionadas aos países doentes. Assim, o ministro alemão das Finanças, Wolfgang Schäuble, garantiu no dia 31 de dezembro de 2013 que os europeus "não deixariam a Grécia afundar". E o comissário europeu encarregado dos assuntos econômicos, Olli Rehn, prometeu, no dia 30 de dezembro, em Portugal, que "a Europa manteria sua palavra".
Mas, para além das palavras, será preciso demonstrar a solidariedade de uma união monetária de contornos ainda indefinidos. A robustez dos bancos deverá ser provada por "stress tests" (testes de resistência) plausíveis, sendo que um acordo sobre a união bancária foi fechado com dificuldades durante a última cúpula europeia. Já a volta do crescimento ainda precisa ser confirmada dentro dos países superendivididados e fatigados pela austeridade.
Sendo assim, será o ano de 2014 o da consolidação econômica e também política da Europa? Assim que formou seu governo em dezembro de 2013, a chanceler alemã Angela Merkel, verdadeira líder da União Europeia, reafirmou sua ambição de reforçar a união política da Europa.
Tradutor: UOL
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