Publicado ontem às 16h40 por Ton Santos
2014 tem sido um ano extremamente atribulado de fatos noticiados e compartilhados nos mais variados meios, e sobre os mais variados assuntos, em maior ou menor grau de relevância. Tragédias como o sumiço de um avião da Malaysian Airlines (que acredita-se que tenha caído no Oceano Índico) e queda de outro da mesma empresa na Ucrânia, conflito no leste da Ucrânia, tensão militar entre israelenses e palestinos na Faixa de Gaza bombardeada, vírus Ebola na África vão se acumulando ao longo destes últimos meses com outros assuntos que, local ou globalmente, nos atingem das mais variadas formas.
No Brasil, desde os boatos e fatos do “mundo dos famosos”, passando pelo mundo dos escândalos políticos, da Copa do mundo de futebol, das eleições, da economia, da criminalidade, das mortes de nomes célebres da literatura e das artes cênicas e, mais recentemente, a trágica morte do até então candidato à presidência da República, Eduardo Campos; tudo isso vem nos carregando numa onda compressora e violenta de conteúdo jornalístico que, nem sempre, vem sendo tratado como tal. E a culpa disso não está apenas sob as costas dos profissionais dos veículos de comunicação, como sites e portais na internet, canais de jornalismo 24 horas, redações das rádios, revistas, jornais e emissoras de televisão espalhados pelo país. Temos grande parcela de culpa nesse “circo midiático express“.
O mundo e suas mudanças estão nos levando a uma realidade cotidiana onde o “daqui a pouco” já não nos satisfaz mais. Somos criaturas interligadas em um universo tecnológico e comunicativo que nos tornou sedentos do “agora”, do “neste momento”. Um exemplo? Vejamos a seguir.
Era começo da tarde na quarta-feira passada (13), quando notícias davam conta de um acidente aéreo envolvendo um helicóptero que teria caído no estado de São Paulo. Tempos depois, o helicóptero na verdade era um avião monomotor que caiu no Boqueirão, bairro residencial de Santos, litoral de São Paulo. “Mais um avião caindo esse ano?”, “Quantas pessoas feridas?”, “Alguém sobreviveu?”, “Quantos mortos?” e outras inúmeras perguntas povoavam as redes sociais e os links nos canais da TV, cobrindo, ao vivo, in loco, na base das suposições para tentar suprir a “sede desértica” dos milhões de telespectadores, comentadores e compartilhadores das informações na base do segundo a segundo, pois o “de minuto a minuto” já não nos agrada mais, muito defasado e retardatário para nossa agilidade multimídia atual. Minutos se passaram, teorias se estabeleceram e eis que as notícias agora davam conta de que um dos passageiros do avião era o ex-governador de Pernambuco, Eduardo Campos. O avião saiu do aeroporto Santos Dumont, no Rio de janeiro, em direção ao Guarujá, na noite de terça-feira (12); mas não chegou a aterrizar devido as péssimas condições climáticas que levaram o piloto do avião a mudar de planos e, infelizmente, forçar um pouso drástico.
Pronto! Lá estávamos nós com uma mão no controle remoto, trocando de canal freneticamente, atrás de um repórter falando direto do local do acidente, outra mão no celular, no tablet ou no computador, acessando a web e cons(pirando) sobre cada informação compartilhada. Resumidamente, com um olho no peixe (fato) e o outro no gato (meios de comunicação).
De um lado, na programação televisiva, Evaristo Costa, visivelmente deslocado em meio as atualizações sobre o ocorrido, numa entrada ao vivo e às pressas na programação da Globo, se esforçava para nos “nutrir” de mais e mais detalhes. Do outro, os telespectadores que se questionavam porque ele não anunciava logo a morte de Eduardo Campos e das outras seis pessoas a bordo do avião que caiu. Afinal, a morte de Campos já era alardada fazia algum tempo, nos geradores de caracteres das telas de outras emissoras de TV, e nos poucos caracteres do Twitter, só para citar um exemplo de rede social que nos condicionou a querer saber de TUDO, a TODO TEMPO, em POUCO TEMPO e, às vezes, sem NENHUM tipo de apuração jornalística responsável. Mas Evaristo deixou a função de anunciar a morte dos sete passageiros do avião a cargo de uma repórter que, jornalisticamente responsável, aguardou uma nota oficial da Aeronáutica confirmando o acidente fatal.
Outro exemplo? A internação do ator, humorista, diretor teatral, escritor e apresentador Jô Soares que, devido a uma espécie de pneumonia, ficou cerca de três semanas sob cuidados médicos no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo.
Momentos antes de Jô Soares ter alta e sair do hospital, “blogueiros” chegaram a espalhar no Twitterrumores de que o apresentador estaria com câncer, e até mesmo que seu estado de saúde teria piorado. A “notícia”, bem entre aspas mesmo, foi rapidamente compartilhada – retuitada – e tão rapidamente colocada abaixo pela saída de Jô do hospital.
Do trágico ou duvidoso, o tratamento dado às informações nos meios de comunicação estão se tornando reflexo do que nós somos, nos tornamos, neste momento. O imediatismo, às vezes, se sobrepõe a coerência, a responsabilidade e bom senso no trato dado aos acontecimentos noticiados. Estamos precisando de muita calma nessa hora, em meio a uma realidade das (e nas) mídias que nos força a termos muita ansiedade a cada segundo, a cada novidade, a cada tweet, a cada post.
Exatamente assim! Todos pensando no agora, naquilo que parece ser vital! Quando na verdade, essencial mesmo é ter calma, paciência, sabedoria! Ouvir mais, especular menos! Dali Mansur! Abraços.
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