sábado, 18 de outubro de 2014

ÍNTEGRA DA ENTREVISTA CONCEDIDA POR DILMA NESTE SÁBADO (18)

Íntegra da entrevista concedida por Dilma neste sábado (18)


Dilma Rousseff - Hoje queria falar para vocês sobre uma coisa que despertou minha atenção. Uma fala, feita lá no Rio Grande do Sul, sobre o Pólo Naval. Uma declaração do candidato adversário de que ele vai investir no Pólo Naval. Ora, é interessantíssima essa declaração, porque o plano de governo do candidato fala textualmente em reavaliar, reduzir toda a Política Industrial de conteúdo local. O Pólo Naval de Rio Grande, como todos os demais polos navais e os onze estaleiros também implantados, além dos quatro que estão em construção, têm como base a política de conteúdo local feita desde 2003, que é uma integrante da nossa política industrial. Então, como é possível manter o Pólo Naval sendo contra a politica de conteúdo local e a política industrial que deu origem a ele?
Não sei se vocês lembram, na campanha de 2002, o presidente Lula colocou como uma das suas discussões, a produção de plataformas no Brasil. Porque até então as plataformas da Petrobras, navios e sondas eram importadas. Modificamos inteiramente a política, criando a política de conteúdo local. A primeira parte foi o Promimp, Programa de Mobilização da Indústria Nacional de Petróleo e Gás Natural. Tenho perfeita clareza disso porque fui eu, e a atual presidente da Petrobras, que implantamos a política de conteúdo local. Lembro que, inclusive, diziam para nós que era um absurdo construir plataformas, navios e sondas. Quem dizia? A oposição. Porque nós estaríamos atrasando a produção de petróleo. Hoje, os polos navais são uma realidade.
O do Rio Grande, que eu tenho conhecimento pessoal e direto do que aconteceu lá, era na verdade um grande areial. Primeiro, dois estaleiros foram implantados, um que é o Quip, outro o estaleiro Rio Grande que é, inclusive, um dos maiores estaleiros hoje do Brasil com uma capacidade de produção dos chamados FPSOs, navios e sondas. Além disso, inauguramos quatro dos pólos, e um ressuscitamos: Pólo de Pernambuco, com o Estaleiro Atlantico Sul; o da Bahia, que vai ser completado agora com enseada de Paraguassu; o pólo do Espírito Santo, também completado agora com Jurong; do Rio de Janeiro, que estava virando um grande pátio com a grama nascendo e sem trabalhadores, e hoje é um dos maiores do Brasil; e o do Rio Grande do Sul, pólo naval de Rio Grande, que foi ampliado, e temos dois estaleiros, um em São José do Norte e outro em Charqueadas. Isso contribuiu para revigorar a metade sul do Rio Grande do Sul.
Sem política de conteúdo local, porque a base dela era produzir aqui o que pode ser produzido aqui, com preço, prazo e qualidade, isso significou um grande ganho para o País. Passamos de uma média de 7 mil trabalhadores para 81 mil, e caminhamos para 100 mil ano que vem. Então, afirmar que vão fazer um Pólo Naval, ou que vão investir no Pólo Naval sem ser a favor da politica de conteúdo local mostra simplesmente a imensa inconsequência das falas. É impossível fazer isso. O Pólo Naval é decorrência dessa política de conteúdo local.
No Plano de negócio da Petrobras 2014-2018 estão previstos 38 plataformas de produção, 28 sondas de perfuração, 88 navios petroleiros e de transporte de produto e 146 barcos de apoio. Um total de US$ 100 bilhões. Isso que era desviado para Singapura, Coreia e Japão antes. Interrompemos essa transferência de empregos para o resto do mundo. Não que nós não importemos, importamos, mas criamos aqui uma imensa indústria que vai fornecer equipamentos, bens e serviços para indústria de petróleo. Porque senão estaríamos perdendo uma fonte fundamental de riqueza.
O Rio, por exemplo, que visivelmente se recuperou nos últimos anos, da mesma forma que a metade Sul do Rio Grande, tem, na indústria de petróleo e gás, principalmente na indústria naval, uma fonte imensa de recuperação e criação de emprego para os fluminenses. Isso em todos os lugares, como em Pernambuco, no Estaleiro Atlântico Sul, que formou pessoas que antes eram cortadores de cana e as transformou em produtores e trabalhadores da indústria naval.
Estarrecedor que coloquem no programa uma proposta detalhada que chama “racionalizar as exigências do conteúdo local”. Esses pólos não vão a lugar nenhum. Essas propostas são completamente irracionais. Partem do pressuposto que o Brasil tem tecnologia suficiente para produzir aqui plataformas, navios, sondas e os equipamentos de prospecção e exploração. Uns inclusive com nomes ótimos. Um chama “Árvore de Natal Molhada”, gosto dele, é um dos equipamentos que tem que produzir no Brasil.
É um absurdo assistir nessa fase final um nível de inconsequência desses. Tudo bem  Se são contra, sejam contra, se são a favor, sejam a favor. Agora ninguém tira de nós o fato que ressuscitamos a indústria naval. Ela foi a segunda indústria naval do mundo na década de 80. Hoje ela voltou a ser, para algumas coisas, a quarta, para outras a quinta. Mas ela renasceu, isso que importa. Indústria importantíssima para o Brasil, em termos também de absorção de tecnologia.
Jornalista -  (Inaudível)
Dilma Rousseff - O Rio sempre foi. No passado, tinha indústria naval forte. Quando houve a crise da indústria naval, e eles fecharam, ainda sobreviveram em partes lá no Rio de Janeiro. Estive visitando dois estaleiros, e um deles, lembro perfeitamente, em 2003, era um pátio vazio e uma das coisas que nunca vou esquecer, crescia grama entre as pedras que forravam o chão, na junta das pedras. Isso significou justamente isso, sair de 7 mil trabalhadores espalhados, produzindo barcos menores, para agora 100 mil trabalhadores no ano que vem. Esse ano estamos entre 81 mil trabalhadores.
Jornalista - O TSE está criticando o nível da campanha, já até atuou de pontos da campanha da senhora.  Ministros estão falando em baixo nivel. Vai mudar a condução da campanha?
Dilma Rousseff - Não concordo que o TSE teve qualquer intervenção na minha campanha. Não concordo com essa afirmação, gostaria de saber onde e quando. Acho que isso ainda será julgado. Acredito que o que é baixo nível da campanha é algo que deve ser completamente superado. Nós temos propostas concretas como essa da indústria naval, Pronatec, Minha Casa Minha Vida e um conjunto de políticas.
O que acontece com o candidato adversário? Quando se fala da área social, ou diz que foi ele que fez, ou foi o governo do Fernando Henrique Cardoso, e aí ele gosta de falar no governo FHC mas não prova que foi o FHC que fez, porque eu acho que a população sabe. A população recebia, ou não recebia Bolsa Família? Não há dúvida que quem fez foi o Lula, no seu primeiro governo. Continuei no meu governo, o terceiro do nosso projeto.
Mesma coisa com o Minha Casa Minha Vida. Fizemos no finalzinho do segundo mandato do presidente Lulaum pedaço, o grosso do programa no meu governo. Pronatec também. E nessa hora o que falam para mim? “Vamos dar continuidade a esses programas, vamos fazer melhor. Nós, que nunca fizemos quando pudemos”. Aí é óbvio que tem de ter uma discussão. Quando começa, ele não gosta muito. Aí ele parte para atitudes desrespeitosas comigo, com a Luciana Genro. Ele pode inclusive querer processar, mas quem devia processar somos nós, ele chamou a nós duas de levianas. Não é uma fala correta para mulheres. Lamento muito, porque eu tenho o que discutir. Não tenho só propostas genéricas a colocar no papel, porque o papel aceita tudo, tanto que posso escrever no papel que sou contra a polítca de conteúdo local e falar em Porto Alegre que vou investir em Pólo Naval. É possível, porque o papel aceita.
Eu não posso dizer que não investi no pólo naval, porque é mentira. Eu investi, assegurei e garanti a existência dele. Quando discuto, estou discutindo coisas extremamente concretas. Lamento e acho que o Brasil merece discussão de mais alto nível e isso começa pelo respeito que se deve ter entre pessoas que são candidatos a presidência da República. Principalmente quando se trata de uma eleição majoritária e importante como a nossa.
Jornalista – Se sentiu desrespeitada?
Dilma Rousseff - Eu pergunto a você, se chamada de leviana, se sentiria o quê?
Jornalista - (Inaudível)
Dilma Rousseff - Daqui para frente, todos os encontros, todas as atividades, todas as entrevistas, tudo que fizemos terá importância, porque a população está prestando atenção, olhando, avaliando, vai ter a sua condição de avaliação crítica. Eu respeito muito o voto da população e acho que é o voto na hora da urna da pessoa. Uma pessoa, um voto. Esta é a base da democracia ocidental. Ela é fundamental.
Jornalista - (Inaudível)
Dilma Rousseff - Vai ano que vem. Existe, só que eles mudam todo dia. Um total de US$ 100 bilhões. Com conteúdo local entre 55% e 75%. Entre 2014 e 2018. Estou te dando o que vai ser investido, porque já tem investido. Tanto no Rio Grande do Sul, quanto em Pernambuco, quanto no Rio de janeiro, é facinho de ver. No plano de gestão de negócios da Petrobras, de 2014 a 2018, vão investir U$$ 100 bilhões. Nós investimos no passado, até agora cerca de U$$ 100 bilhões só na indústria naval. Uma plataforma dá mais ou menos U$$ 1,5 bilhão; 28 sondas, 88 navios petroleiros e 148 barcos de apoio, isso é uma parte. Por exemplo, dentro de uma plataforma, tem móveis, tem demanda para uma indústria que você não acreditaria, a indústria moveleira. Tem quantidade de recursos também para manter as pessoas dentro da plataforma, porque fica uns 15 dias embarcados, depois trocam, outra equipe fica mais 15 dias. Uma plataforma ligada a ela tem vários barcos de apoio, aqueles que descarregam, porque ela extrai, passa aos barcos em tubulações grandes e esses barcos levam petróleo para terra, para o litoral.
A indústria do petróleo tem dois riscos. Um se chama doença holandesa, o outro chama a maldição do petróleo. Países ricos em petróleo, na maioria das vezes, tiveram indústrias mirradas, não tiveram outros setores, o petróleo ocupou tudo, por isso foi chamada maldição do petróleo, pelo fundador da OPEP.
A doença holandesa é quando tem muito petróleo, geralmente sua moeda fica muito forte e se não criar ou fundos soberanos ou cadeias industriais, você corre o risco da desindustiralziação. Fundamental que o petróleo sirva também para cadeias indústrias várias. Tanto na indústria de petróleo e gás, que vai fornecer equipamentos e plataformas, quanto na derivada, petroquímicas, químicas e correlatas dependentes do petróleo. Quanto mais completar a cadeia, mais harmônico fica o desenvolvimento, mais ganha o País com empregos de qualidade. Dai importância da politica de conteúdo local, de produzir no Brasil o que se pode produzir no Brasil. Nós ajudamos a construir a indústria naval de petróleo e gás do Brasil.
Jornalista -  (Inaudível)
Dilma Rousseff - Com o Pezão, fiz uma parceria talvez mais estreita que o governo fez com governo local. Tenho por ele admiração sincera e acho ele é um excepcional gestor, além de pessoa excepcional também. Crivella tenho a mesma opinião. Porque ele foi meu ministro da Pesca, sei a dedicação dele. Se alguém tirou e se alguém deixou legado para que a gente continue tirando a Pesca do anonimato do Brasil, se tornando um setor fundamental, esse alguém é Crivella.
Jornalista - (Inaudível)
Dilma Rousseff – Daqui para frente, a não ser que eu seja informada pelo Ministério Público ou pelo juiz, eu não tenho medida nenhuma a tomar. Presidente não é quem processa. Quem processa são os órgãos como Ministério Público e quem julga é o juiz. Tomarei medidas para ressarcir tudo e todos. Mas ninguém sabe hoje o que tem de ser ressarcido. A delação não foi entregue a mim. Pedi, tanto para o Ministério Público quanto pro Toeri Zavascki, do Supremo Tribunal Federal. Ambos disseram que estava em sigilo para mim. Farei todo o meu possível para ressarcir o País. Se houve desvio, nós queremos dinheiro público de volta. Se houve não, houve!
Jornalista - (Inaudível)
Dilma Rousseff - Não acho que alguém no Brasil tenha primazia da ética. O PSDB não tem essa condição, partido nenhum tem. Qualquer um que tenha cometido crime, malfeito, tem de pagar por isso. Ninguém está acima de qualquer suspeita no Brasil. Todos que não cumpriram com os princípios éticos, de uso absolutamente limpo do dinheiro público devem pagar por isso. É interessante notar que vazamentos seletivos acontecem para todos os lados. Isso não é bom, não vou aqui comemorar nada. Só acho que o pau que bate em Chico, bate em Francisco. Essa é uma lei, né?

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