domingo, 26 de fevereiro de 2012

COISA DE PAULISTA...



A televisão sempre anuncia grandes engarrafamentos nos feriados prolongados em São Paulo, Natal, Ano Novo e Carnaval. É matéria garantida. Abre espaço no noticiário. Imensas filas, milhares de carros apinhados de milhares e milhares de pessoas, em direção ao litoral paulista. Do outro lado estou eu, já há anos imaginando a insanidade de milhões que dizem estar indo em busca de lazer. É prato cheio para a imprensa.

Eu nunca acreditei, nem imaginei e nem mesmo passou pela minha cabeça de que um dia participaria da maratona rodoviária e direção ao litoral paulista. O meu dia chegou.

No dia 17 de fevereiro, antes da meia noite já estava no aeroporto de Vitória, com minha companheira Eliane, minha filha Helena e Tony Cordeiro.  Vôo marcado para o início da madrugada do dia 18. Mil quilômetros de distância e pouco mais de uma hora de vôo, desembarcamos no Aeroporto de Guarulhos, com pequeno movimento, mas com dezenas de pessoas deitadas pelos corredores. Às 5 horas seguimos para o litoral. Não demorou muito e o engarrafamento, isto mesmo um engarrafamento na madrugada. Não teve jeito. O nosso anfitrião, Antonio Gimenez na direção fazia planos por quais caminhos seguiríamos até a praia de Guaecá, São Sebastião, 180 quilômetros. Vivi um engarrafamento real. Foram cinco horas para chegarmos ao paraíso. Chegamos.

No final da tarde chegava Rosely, esposa de Antonio, com as filhas Marina e Heloisa, e meu filho Vinícius. Todos juntos, uma festa e uma bela confraternização.

No dia 19, no domingo, há uma distancia de 60 metros, já estávamos na praia contornada por uma cadeia de montanhas cobertas pelas matas da Serra do Mar. Nada de edifícios. Aqui comecei a entender porque a multidão se submete a fazer este percurso. Fico sabendo que tem época que o mesmo percurso é feito em mais de cinco horas.

Assim foi o sábado, o domingo, a segunda, a terça e parte da quarta, olhando a natureza preservada e as águas do Atlântico batendo mansamente na areia fina. Grupos conversando e a alegria estampada. Mais adiante um grupo com uma dezena de pessoas bebia e conversava alegremente. Uma cena me chamou atenção na aglomeração: uma criança saboreava alegremente um imenso pastel. Ouvi uma voz de mulher dizendo em minha direção: quem paga as minhas contas sou eu. Imaginei e pensei baixinho, não é nada disto que a senhora está pensando. Continuei andando pela praia lotada de cores, raças, procedências e idades, mas certamente com um único objetivo: descansar e recarregar as baterias.

Andando pelo litoral resolvemos ir até Ilhabela. A travessia na balsa foi tranqüila, não mais que 20 minutos. Já no início da noite, no retorno a São Sebastião, a travessia durou duas horas e foi uma festa como convém a quem está de bem com a vida. Não éramos escravos do tempo, estávamos levando a vida e recarregando as energias.

Na quarta-feira o retorno para São Paulo os nossos guias paulistas resolveram fazer um percurso diferente do que viemos, mas com os mesmos 180 quilômetros a percorrer. A volta foi mais rápida, três horas em uma estrada com boas condições de tráfego. Minha cabeça ia passando as imagens dos dias de tranqüilidade e mudando os conceitos e principalmente os pré-conceitos. Lembrei que existem três verdades, a minha, a sua e a verdade.

O ditado que uso sempre, de que viajar cura ignorância, mais uma vez foi confirmado na prática. Quando no próximo feriado prolongado a televisão mostrar os milhares de carros e outros milhares de pessoas rumo ao litoral paulista, o que eu via como “loucura”, agora enxergo de outra forma. Não vou mais usar o tradicional e fácil carimbo: coisa de paulista.

Ver é ter uma visão restrita. Enxergar é diferente, é o cenário como um todo. Obrigado Antonio e Rosely, meus guias paulistas. Em tempo: uma estrada tem uma mão que vai e outra quem vem. Agora é o momento do vir de São Paulo.

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