sexta-feira, 27 de julho de 2012

De que ri a senhora Cachoeira?


Andressa Mendonça não vai posar para a Playboy. Pelo menos por enquanto. Ela recusou o convite da revista. "Meu papel, neste momento, não é esse", disse a mulher de Carlinhos Cachoeira em entrevista ao jornal O Globo.

GUILHERME FIUZA
Guilherme Fiuza é jornalista. Publicou os livros Meu nome não é Johnny, que deu origem ao filme, 3.000 dias no bunker e Amazônia, 20º andar. Escreve quinzenalmente em ÉPOCA gfiuza@edglobo.com.br (Foto: Reprodução)
Qual seria o papel de Andressa neste momento? Aparentemente, algo um pouco mais obsceno que vender sua nudez graças à prisão do marido: rir. Quando ela disse que "o Cachoeira é uma pessoa encantadora", a repórter perguntou: "Por isso encantou tanta gente?". Andressa concluiu seu striptease moral com uma risada: "Acredito que sim".
A musa dos caça-níqueis também riu ao dizer que não daria "esse gostinho" (expor sua nudez) e que deixaria "só para o Cachoeira", com quem está há nove meses. A graça que Andressa vê nas coisas a sua volta traz a dimensão pornográfica que faltava ao caso do bicheiro. Não pode haver nada mais obsceno que as risadas da senhora Cachoeira no centro de um dos maiores escândalos políticos brasileiros. Ninguém precisa tirar a roupa.

Fora um eventual deficit cognitivo da moça, o que será que lhe inspira tamanha tranquilidade e senso de humor? Não se sabe. O que se sabe é que ela diz estar confiante no doutor Márcio Thomaz Bastos, advogado de Cachoeira e também, coincidentemente, de Lula. Depois dos indícios de que, além de privatizar o senador Demóstenes Torres, o bicheiro é dono de coisa maior - incluindo um bom pedaço do PAC -, os altos círculos da República parecem conspirar pela paz interior de Andressa.

A graça que ela vê a seu redor traz a dimensão pornográfica que faltava ao escândalo do bicheiro Romântica, a emergente dama do Cerrado lamenta não ter podido ver o parceiro no dia de seu aniversário. Mas conta que deixou na penitenciária um cartão em que escreveu "coisas lindas de uma mulher apaixonada". O enredo policial não a constrange, e isso lhe dá confiança para dizer ao ser amado que tudo é "apenas uma turbulência da vida". "Quem não passa por isso?", diz a loura de 28 anos, convencida da normalidade da situação. E emenda o argumento definitivo: "Quem está livre de ser preso?".
Ninguém. Qualquer pessoa de bem, que pague em dia seus deputados e senadores, pode ter o azar de acordar um dia vendo o sol nascer quadrado. São as fatalidades da vida. Nessas horas, não adianta desespero. Melhor pensar em coisas boas, como o Supremo Tribunal Federal (STF). Certamente é um alento para a jovem Andressa Cachoeira lembrar o bando do mensalão, que também pagava regiamente seus parlamentares - e encontrou no STF um calmante para suas angústias. Quando o ministro revisor avisa, sete anos depois, que não sabe se vai dar tempo de julgar os mensaleiros - e de evitar a extinção de seus crimes -, o que mais pode fazer a mulher do bicheiro preso, além de rir?
O Supremo é uma inspiração para todas essas pessoas que não estão livres de ser presas. Ponha-se no lugar de alguém cujas negociatas, por acidente, foram grampeadas e que foi em cana. Imagine o alívio de olhar para a mais alta corte e ver juízes batendo boca como adolescentes, a ponto de um dizer para o outro que ele é "brega" porque "nunca curtiu (a banda) The Ink Spots". Ou assistir aos mais altos magistrados dando gritos populistas, tipo "Viva o país afrodescendente!", para agitar a bandeira racial dos padrinhos. Um bem-sucedido empresário da contravenção não pode levar isso a sério.
Por essas e outras, assim como sua amada, Carlinhos Cachoeira também dá risadas. "Eu contei do convite (da Playboy), e ele gostou, morreu de rir." Portanto, quem achou que o bicheiro estava chateado com a fatalidade de sua prisão agora fica sabendo que ele anda até gargalhando. Cachoeira confia nas instituições. Especialmente naquelas que o consideram uma pessoa encantadora, como explicou Andressa.
A missão da CPI é decidir quem vai rir por último. Cachoeira é homem bomba. Se parar de rir, explode. "Tenho certeza de que ele não quer prejudicar ninguém", disse a primeira-dama, num simpático recado à clientela: salve sua pele salvando Carlinhos - tratar com o advogado de Lula.
Andressa Cachoeira planeja o casamento para breve, quando seu príncipe sair do xadrez. Cada povo tem o conto de fadas que merece. Ou os brasileiros saem às ruas para incendiar a CPI e explodir o homem bomba ou serão todos súditos da rainha risonha do bicho.
GUILHERME FIUZA é jornalista. Publicou os livros Meu nome não é Johnny, que deu origem ao filme, 3.000 dias no bunker e Amazônia, 20º andar.
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Política 91 21/07/2012 -06h 13003 Ricardo Alvarez


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