* Silas Brasileiro
A expressão “busca pela qualidade” cada vez mais se faz presente em todos os setores da sociedade, principalmente quando se pensa em melhorias de vida. E se temos essa preocupação em alcançar melhoras para nós, por que não pensarmos nisso também para a nossa cafeicultura?
Felizmente, nossos produtores — associados em cooperativas e demais entidades de classe — voltaram seus olhos para a questão da qualidade e, hoje, segundo dados da Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA), a quantidade de propriedades cafeeiras certificadas no Brasil supera a marca de 35 mil, ou 10% do total no País. Mais relevante ainda é saber que, há 10 anos, apenas 400 propriedades compunham tal lista.
Esse número é importante porque o processo de certificação inclui a qualificação pessoal e profissional dos atores da cadeia produtiva do café, orientando-os, com base em normas e condutas técnicas, a pensarem na preservação do meio ambiente, nas questões sociais de todos os envolvidos – focando escolaridade, condições dignas de vida e trabalho – e geração de renda, ponto que estimula a economia local e, principalmente, inclui os produtores e os cafés brasileiros em um nicho de mercado cada vez maior e mais exigente.
Nos últimos anos, temos observado que as casas de café aumentaram a aquisição de produtos diferenciados, com qualidade elevada, e pagam mais por isso. Em média, os certificados tem um preço em torno de 40% superior ao do convencional, o que, por si só, já é um atrativo para o investimento em certificação e melhoria de qualidade na safra.
Mas os valores, como já ocorrido em alguns casos, podem superar em até mesmo mais de 100% o preço dos cafés normais. Ciente que o avanço das certificações e a melhoria da qualidade são tendências irreversíveis por parte dos mercados consumidores, o Conselho Nacional do Café (CNC) inseriu em sua proposta de orçamento recursos que possibilitem o desenvolvimento de projetos e programas que estimulem a certificação das propriedades e dos cafés de nossos associados.
Debates nesse sentido já vem sendo realizados junto ao Governo Federal para que, com base no que propusemos no Plano Estratégico, desenvolvido em parceria com a Comissão Nacional do Café da CNA e a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), possamos certificar o maior número possível de cafeicultores e propriedades.
Além disso, nossas cooperativas passaram a focar esse nicho de cafés com qualidade superior. A Minasul é o exemplo mais recente. Desde o ano passado, a Cooperativa de Cafeicultores da Zona de Varginha (MG), com o objetivo de garimpar a qualidade e agregar valor ao produto, criou o seu Departamento de Cafés Especiais, que tem potencial para trabalhar, em longo prazo, com 200 a 300 mil sacas ao ano.
Em um mundo competitivo e cada vez mais voltado às sustentabilidades econômica, social e ambiental, devemos expor a necessidade dos produtores investirem nesse segmento de cafés diferenciados e gourmets, haja vista que, além de se obter melhor remuneração, assumimos o compromisso para a “busca pela qualidade” ambiental em nossos meios e a “busca pela qualidade” de vida de todos os nossos amigos e parceiros envolvidos na produção de café, incluindo a nossa.
* Silas Brasileiro, presidente executivo do Conselho Nacional do Café (CNC)
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