segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Cafeicultura e riscos das mudanças climáticas



Prezado:

Pela importância sócio-econômica do café  para o Espírito Santo julguei oportuno sintetizar um artigo da revista Scientific American sobre mudanças climáticas no Brasil com foco nessa cultura. O estudo também informa sobre os riscos da  fruticultura de clima tropical na era do aquecimento global.
Segue abaixo a síntese da  matéria  que recomenda o planejamento agrícola para adptação e mitigação das culturas frente  às elevações de temperatura e ocorrência de secas a partir de agora.
Maiores informações, incluindo os mapas de risco climáticos para a cafeicultura e fruticultura, podem ser vistas na referida revista (edição de agosto-2012) que ainda se encontra nas bancas da cidade.
Entendo que, daqui por diante, pesquisa, ciência e planejamento serão vitais para o agronegócio brasileiro.
Sds.
ROICLES COELHO
Técnico Agrícola
9928-8211
 
SEGURANÇA ALIMENTAR ANTE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS
A seca que assolou os Estados Unidos no ano em curso, atingindo 60% de seu território, resultou numa quebra de safra de milho e soja da ordem de 120 milhões de toneladas – quase o total do que o Brasil colhe desses grãos anualmente. Isso revelou   a fragilidade dos modelos de segurança alimentar implementados em todo o mundo frente às mudanças climáticas.
Diante das alterações do clima, como o agronegócio será afetado no Brasil?
O levantamento da vulnerabilidade da agricultura brasileira às variações de temperaturas e déficits hídricos  é fundamental para possibilitar  um planejamento visando a adaptação e mitigação frente ao  aquecimento global. Afinal, em 2011,  a cadeia produtiva do agronegócio gerou R$ 942 bilhões, o que corresponde a 22,74% do PIB, sustentando 37% do emprego no país. Além disso o saldo da balança comercial do agronegócio foi de US$ 77,51 bilhões nesse ano. Todavia, grande parte da produção nacional até hoje é feita sob condições pouco controladas, com base na disponibilidade dos recursos naturais de cada região.
Previsões do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas         (IPCC) com referência às alterações do clima  revelam que elas  deverão ocorrer gradativamente ao longo das décadas com   riscos inerentes às atividades agrícolas. Tais riscos  serão intensificados ao longo do tempo, o  que poderá tornar difícil aos produtores rurais se manterem em suas atividades.
No Brasil, a cultura do café é um exemplo contundente do impacto de um fenômeno meteorológico  adverso em termos econômicos.  A geada severa que atingiu a região Sul em 1975 reduziu a participação do Paraná na produção nacional de café de 48% em 1975 (10 milhões de sacas) para insignificantes 0,1% (3,8 mil sacas). O prejuízo é estimado em US$ 1 bilhão – considerando o valor de US$ 100 por saca. A perda de 500 milhões de pés de café reduziu em 20%  o orçamento do Paraná, o que mudou drasticamente a economia do estado. Outra preocupação é com a falta de chuvas em fases críticas da cultura – especialmente durante o enchimento dos grãos – e o excesso de chuvas na colheita.
Como o Brasil é líder mundial no segmento, com  uma participação de 30% na produção e exportação de café, os prognósticos para a cafeicultura nacional em futuro próximo são de grande interesse  nacional e  internacional.
As condições climáticas adequadas para o desenvolvimento cafeeiro a pleno sol já foram identificadas e são de pleno conhecimento no Brasil. Os parâmetros ambientais utilizados para definir  se o clima de determinada região é de alto ou baixo risco para a produção do café são a temperatura média anual, o risco de geadas e a deficiência hídrica anual.
Mapas de risco climáticos já foram elaborados para as principais regiões produtoras no Brasil e são utilizados no planejamento agrícola. Por sua vez, programas oficiais de financiamento do plantio e cultivo do café também consideram esses dados.
Mapas que apresentam o risco climático para a produção do café  em Minas Gerais consideram o clima atual e elevações de temperatura e da quantidade de chuvas. Verifica-se nesse estado, maior produtor nacional do grão,  o risco climático cresce significativamente à proporção que as temperaturas se elevam acima de 1 grau centígrado, com redução das áreas de baixo risco e migração delas para zonas de maior altitude no território mineiro.
Elevações da ordem de 3 graus centígrados nas temperaturas médias elevam substancialmente os riscos climáticos para a produção do café arábica na metade sul de Minas Gerais, mas permitirão o cultivo da espécie robusta. O mesmo aconteceria no estado de São Paulo.
Em todos os casos simulados se verifica o deslocamento das áreas de baixo risco para a cafeicultura em direção às regiões que são atualmente mais frias e de maior risco climático, como São Paulo e Paraná. Elevação de temperatura de 3 graus centígrados poderá permitir também  a produção de café na porção mais meridional do Rio Grande do Sul, nas fronteiras com  Uruguai e norte da Argentina.
Em razão do aumento de temperaturas e redução do risco de geadas,  a produção de frutas de clima tropical – banana, abacaxi, manga, entre outras – deverá ampliar-se no Sul.
Tecnologias de adaptação poderão ser de grande utilidade  para amenizar os impactos do clima mas será necessário mais de uma década de  trabalho e investimentos para gerar procedimentos eficazes  passíveis  de serem utilizados na lavoura cafeeira.
Uma forma de adaptação do setor agrícola às mudanças climáticas é o desenvolvimento de plantas resistentes a temperaturas mais  elevadas que as de hoje, minimizando assim o impacto negativo que poderá ser provocado pela redução e migração das áreas atuais de baixo risco climático. A melhor solução, todavia, é  trabalhar com um conjunto de medidas mitigadoras para se ter um resultado melhor, o que vai requerer um conhecimento consistente da vulnerabilidade do setor agrícola  na era do aquecimento global.
Por ser uma cultura tradicional e de grande expressão social e econômica no Espírito Santo,  o segmento merece uma atenção especial para melhor conviver com os efeitos das mudanças climáticas  previstas para as próximas décadas.

Fontes de informação:
Rodrigues, Roberto – Artigo “Momentos” – A Tribuna – 25/08/12
Scientific American – Edição especial ambiente – Agosto/2012

Pesquisa:
ROICLES COELHO                          
Técnico Agrícola
Consultor Técnico
(27) 9928-8211
Vitória, agosto, 2012

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