segunda-feira, 17 de setembro de 2012

“Disse me disse” de Veja alimenta polêmica nos corredores do STF


“Disse me disse” de Veja alimenta polêmica nos corredores do STF

Marcos Valério continua negando, por intermédio do seu advogado, que tenha concedido entrevista à Veja. E desmente conteúdo que envolve o ex-presidente Lula com o chamado “mensalão”. Um repórter da revista, entretanto, garante que há uma gravação que comprova o contrário. O procurador-geral pede cautela quanto às declarações do empresário, mas a imprensa o pressiona por “providências”. Advogado diz que sócio de Valério nunca ouviu falar em envolvimento de Lula com o “valerioduto”. E ministro do STF diz, em off, que a repercussão, no julgamento, é nenhuma.

Brasília - Nesta segunda (17), enquanto o relator da ação penal 470, ministro Joaquim Barbosa, apresentava a quarta fatia do seu voto, nos corredores do Supremo Tribunal Federal (STF) o assunto principal era outro: a polêmica matéria publicada na última edição da revista Veja que atribui ao empresário Marcos Valério (já condenado como operador do “valerioduto”) declarações que envolvem diretamente o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva esquema do “mensalão”. 

O advogado Marcelo Leonardo, que representa Valério, não compareceu à corte. De Belo Horizonte (MG), passou a tarde atendendo, por telefone, aos jornalistas que cobrem o julgamento no STF. E a todos eles respondeu no mesmo teor: “Marcos Valério não concede entrevista a nenhum veículo de comunicação desde 2005. Aliás, a própria revista admite que não entrevistou Valério”.

- O senhor vai interpelar judicialmente a revista?, questionou Carta Maior.

- Ainda não conversei com meu cliente a respeito, respondeu Leonardo.

Um repórter de Veja que cobria o julgamento, entretanto, garantia aos colegas jornalistas que a revista possui, sim, uma gravação com Valério. E que seu conteúdo ainda poderá vir a ser divulgado. 

- Se a revista realmente entrevistou Valério, por que omitiu isso dos leitores?, perguntou Carta Maior

- Faz parte de uma estratégia da publicação. Mas a redação está estudando se publica a gravação agora, respondeu o repórter.

Antes do início da sessão, o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, também comentou o episódio. Começou pedindo “cautela” em relação ao que chamou de “supostas declarações de Marcos Valério”, um personagem que, segundo ele, desde o início do processo se revelou um “jogador”.

- As declarações dele tem que ser sempre tomadas com muita cautela. Desde o início do processo, Marcos Valério sempre se revelou um jogador. É preciso ver que tipo de jogo está sendo feito, disse Gurgel.

A grande imprensa, então, o pressionou. Os jornalistas insistiam se o MPF não iria fazer nada: processo contra ao Lula, convocação de Valério para novo depoimento, oferecimento do benefício da delação premiada... várias eram as alternativas apresentadas. E Gurgel acabou aviltando possibilidades das supostas declarações resultarem em desdobramentos futuros.

- O MPF vai tomar alguma providência?, questionou um repórter.

- Vamos, primeiro, aguardar. Nós temos apenas essa declaração. Vamos aguardar para ver como desenrola. É preciso cautela”, disse o procurador-geral. 

- Essa declaração não é suficiente?, perguntou outro repórter.

- Não, não é suficiente. Nós temos que dar mais consistência para essas declarações (...) A grande prioridade do MPF é a conclusão deste julgamento e depois vamos examinar esses aspectos. Não é bom misturar as coisas até porque as declarações não podem interferir neste julgamento, acrescentou Gurgel.

Um dos poucos advogados presentes à sessão desta segunda, Hermes Guerreiro, que representa Ramon Hollerbach, sócio de Valério, disse que não há possibilidade das declarações atribuídas a Valério interferirem neste julgamento, já em curso. 

- Se Valério conseguir uma delação premiada, por exemplo, seu cliente pode ser prejudicado?, questionou Carta Maior.

- Tudo neste processo é tão atípico que é difícil fazer previsões, disse Guerreiro.

- Seu cliente comentou algo sobre a veracidade das declarações atribuídas a Valério?, insistiu Carta Maior.

- Ele ficou assustado. Não tem conhecimento sobre nada disso. Se tivesse, eu mesmo o teria aconselhado a fazer um acordo com o MPF, considerou. 

O assunto foi pauta também entre os magistrados que julgam o caso. 

Perguntado se havia visto a matéria da Veja, um ministro do STF respondeu, em off.

- Vi. Mas vi também que é uma matéria em super off, né?, ironizou. 

Questionado sobre que repercussão a reportagem teria sobre o julgamento disse: 

- Até agora nenhuma, ninguém falou. O que é relevante para nós aqui é o que está nos autos, não o que está em jornal, revista.

Será?

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