Colheita de arroz. Foto: Divulgação/Internet
Com outros 24 camponeses mais jovens, Koné colheu no início de agosto quase 700 toneladas de Nerica, acrônimo em inglês de Novo Arroz para a África, uma variedade melhorada que está se adaptando bem ao solo pouco fértil da região. Conseguiram US$ 294 mil pela venda da colheita. Um terço foi destinado a pagar dívidas, mas lhes restou uma boa margem, depositada em uma conta no banco rural mais próximo, enquanto se preparam para voltar a semear.
A atual produção de arroz da Guiné não basta para cobrir as necessidades de seus dez milhões de habitantes. Segundo o Ministério da Agricultura, o déficit desse grão é de 240 mil toneladas por ano, que devem ser importadas da Tailândia e do Vietnã e correspondem a quase um quinto do consumo anual, de 1,26 milhão de toneladas. “É hora de começarmos a reavaliar nossa dependência do arroz importado. Precisamos aumentar nossa produção”, disse o titular da pasta, Jean-Marc Telliano.
Este ano, a Agência Nacional para a Promoção Rural e a Extensão Agrícola colocou 500 toneladas de sementes de Nerica à disposição de pequenos produtores como parte de um projeto de US$ 1 milhão para aumentar a produção. “Esta variedade é um cruzamento de espécies africanas e asiáticas. Rica em proteínas, é apreciada pelos consumidores da Guiné, onde este cereal é um alimento básico”, afirmou Ali Condé, diretor desse órgão.
Os agricultores de Beyla e da vizinha Kérouané adotaram com entusiasmo o Nerica, como a IPS pôde testemunhar percorrendo a região. Em Kérouané, um grupo de 17 camponeses cultivou Nerica em 130 hectares. Nesta parte do país não falta terra arável, e a comunidade local concordou sem problemas em ceder-lhes essa extensa área. “Conseguimos cerca de 645 toneladas de arroz com casca”, informou Mohammad Dioubaté, que está à frente do grupo de Kérouané. Uma parte da colheita será para consumo dos próprios agricultores, mas a maior parte será vendida a clientes de todo o país.
Uma saca de cem quilos de arroz é vendida a US$ 42, o que significa renda bruta de aproximadamente US$ 270 mil pelos últimos três meses de trabalho, contou Dioubaté à IPS. “A introdução desta variedade esse ano foi uma benção. Agora podemos ter duas colheitas por ano, o que antes era impossível”, acrescentou. Abdoulaye Sangaré, que se dedica à extração agrícola na região, disse que “inclusive é possível obter três colheitas por ano, porque o ciclo de cultivo deste arroz é, na realidade, de 90 dias”. Segundo Sangaré, o Nerica está perfeitamente adaptado às condições locais: solo pobre e agricultores sem recursos para regar ou aplicar fertilizantes e pesticidas.
Os benefícios já são sentidos no mercado local. “O preço do arroz caiu em nossa região”, afirmou Sarata Keita, vendedor desse grão em Kérouané. “Agora, um quilo custa entre três mil e quatro mil francos (menos de um dólar), enquanto, antes, o preço ficava entre cinco mil e seis mil francos”, afirmou. Porém, os agricultores se queixam da falta de máquinas agrícolas, para que possam realizar uma colheita rápida e mais eficiente. “Colhemos com foices e separamos o grão e limpamos à mão”, ressaltou o agricultor local Samouka Kourouma. “Seríamos mais felizes com descascadoras mecânicas e outros equipamentos”, acrescentou.