quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Rei do café surfa nos negócios e na vida



Por Chris Delboni | Coluna Direto de Miami (http://colunistas.ig.com.br/diretodemiami)

Christian Wolthers, apesar do nome, é brasileiro. Mais precisamente de Santos, no litoral de São Paulo. E, como muitos que moram perto de praia, começou a surfar ainda garoto, com apenas 9 anos.
Hoje, com 53, Christian mora no sul da Flórida, onde abriu recentemente sua primeira loja de pranchas de surfe e Stand Up Paddles, o surfe a remo, uma modalidade do esporte aquático que vem crescendo rapidamente aqui, no Brasil e no mundo.
Christian Wolthers na sua loja em Fort Lauderdale. Fotos de Carla Guarilha.
O que atualmente é um negócio sério e consolidado, começou como uma brincadeira.
Apaixonados pelas ondas,  Christian e o irmão mais velho John começaram a fazer e vender pranchas para sustentar o hobby. E foi assim, ainda adolescentes e com incentivo do pai, que a dupla abriu uma pequena fábrica de pranchas de surfe, a “Viking”, apelido que ganharam nas praias  por conta do tipo físico e do seriado que passava na TV na época.
John, esq., e Christian, dir, com 12 anos. Cortesia.
Mas, a morte do pai em 1978, fez com que  Christian, aos 18 anos, assumisse outro negócio da família: o comércio de café. “Meu pai deixou uma herança, um nome muito forte no café”, diz.



E assim, o empresário das pranchas surfou muito bem no outro ramo também. Ele conhecia o potencial do café brasileiro, mas sabia que o Brasil tinha fama de exportar para os Estados Unidos produto de média qualidade. Estava disposto a enfrentar o desafio e mudar a imagem do café brasileiro no mundo inteiro.
“Foi nadando contra esse estigma que resolvi abrir um escritório nos Estados Unidos”, conta, orgulhoso, que poucos anos depois, o Starbucks estava vendendo em todas suas lojas a linha ‘Brazil Ipanema Bourbon’, da fazenda Ipanema, representada pelos Wolthers.
“Sem dúvida fui o primeiro a trazer cafés especiais para os Estados Unidos”, confirma.
E foi assim que Christian se mudou com a esposa e os filhos para Fort Lauderdale, perto de Miami, nos anos 90. “A Flórida sempre esteve com a gente”, brinca Christian, fazendo referência a praia da Flórida, em Praia Grande, onde surfava na sua infância e juventude.
Já instalado aqui, abriu a Wolthers America, uma importadora de café que trabalha diretamente com a Wolthers & Associates, que opera como corretora do produto no Brasil.
As duas empresas vendem hoje em média quatro milhões de sacas de café por ano e continuam expandindo os negócios com escritórios em outras partes no mundo — sempre tomando decisões, dentro do possível, com olho nos melhores pontos para o surfe.
“Montei escritório de café na Guatemala e abri uma distribuição de pranchas Viking lá. Guatemala talvez seja a onda mais perfeita e desabitada”,  conta, sorridente o surfista.
Ele lembra que até em locais não muito propícios ao surfe, ele sempre deu um jeito de aliar os bons negócios à onda perfeita, ou o mais perto possível disto.
Christian surfando no ano passado na Nicaragua, outro de seus pontos favoritos para surfar. Cortesia.
Christian conta orgulhoso que aos 21 anos foi a primeira pessoa a surfar na Dinamarca, isto com uma prancha feita com um ralador de queijo em cima de um arbusto.  Ele diz que não resistiu a visão de enormes ondas geradas por uma tempestade que tinha atingido a cidade de praia onde ele e a mulher estavam para ter o primeiro filho do casal, Rasmus.
Hoje, a Viking Surfboards produz em séries de até 50 pranchas, tem mais de 150 modelos seus exclusivos e vende anualmente cerca de 2.500 pranchas de vários tipos e tamanhos, entre elas a SUP – Stand Up Paddles, que está entre as mais procuradas e dá o nome a sua nova loja: Vikings Surf’s SUP, um trocadilho com a gíria em inglês, “surf’s up”, algo como, “E ai, surfando bem?”.
A SUP, na parede, é uma das modalidades que mais cresce nos Estados Unidos.
Christian diz que sua identidade como surfista aos poucos está desaparecendo, mas ele tenta não perder nenhuma oportunidade.  No último furacão, Isaac, aproveitou as ondas fortes na praia de Haulover, perto de Miami e esta semana segue de prancha para Orlando para a Surf Expo – uma grande feira de esportes aquáticos, com participação de 12 mil participantes.
“Vamos subir surfando e voltar surfando, se tiver onda”, diz o empresário de café, que aprendeu com os 18 anos de vida que conviveu com seu pai a valorizar sempre o nome da família e nunca trabalhar apenas pelo dinheiro, valores compartilhados pela esposa de 33 anos, companheira do surfe e da vida.
Christian e a esposa Viviane, sua companheira no surfe e na vida.
“Quando você tem paixão pelo que faz, você sempre tem motivação para criar coisas novas”, diz Viviane, enfermeira e acupunturista especializada em medicina oriental.  “Tem que ter sempre um estímulo para uma coisa nova e muita perseverança”.

E assim a família de surfistas cresce com netos e novos negócios.
E eles têm fôlego para muito mais.  Abriram há três anos o Bikkini Barista, um multiplex de três andares em Santos, com café, restaurante, nightclub e casa de shows.
Foi uma ideia de Rasmus para diversificar os negócios da família, que tem como sócio o primo, barista e músico, conhecido nas rodas do entretenimento como Crica.
“O nome é uma fusão das nossas duas raízes: o barista é o café e o biquíni é a brisa do mar e surfe”, diz Christian.
Wolthers mostra, orgulhoso, sua assinatura numa de suas pranchas favoritas.

Visualizar |   |   Comentar     |       

Nenhum comentário:

Postar um comentário