terça-feira, 18 de setembro de 2012

Seca na Índia devasta plantações e agricultores e piora situação econômica do país


Vilas Dinkar Mukane vive do outro lado do mundo das plantações de milho de Iowa, mas o meeiro indiano corre o risco de perder seu meio de subsistência pelo mesmo motivo: falta de chuvas.

Vikas Bajaj
Com as importantes chuvas da estação anual das monções apresentando uma queda média de 12% por toda a Índia e muito mais em algumas regiões, os agricultores desta aldeia a cerca de 400 quilômetros a leste de Mumbai estão à beira do desastre.

“Se esta situação prosseguir, eu perderei tudo”, disse Mukane, cujas plantações de soja, cana-de-açúcar e algodão estão visivelmente atrofiadas e murchas em seus campos. “Não acontece nada sem água.”

A seca devastou plantações por todo o mundo neste ano, incluindo milho e soja nos Estados Unidos, trigo na Rússia e na Austrália, e soja no Brasil e na Argentina. Isso contribuiu para um aumento de 6% nos preços globais dos alimentos de junho a julho, segundo dados da ONU.
Kuni Takahashi/The New York TimesO agricultor Vilas Dinkar Mukane está preocupado com suas plantações, em Muruma, na Índia
A Índia está experimentando sua quarta seca em doze anos, aumentando a preocupação com a confiabilidade da principal fonte de água doce do país, as chuvas das monções que geralmente caem de junho a outubro.

Alguns cientistas alertam que essas calamidades fazem parte de uma tendência que provavelmente se intensificará nas próximas décadas, devido às mudanças climáticas causadas pela liberação humana de gases do efeito estufa. Um artigo publicado no mês passado culpou o aquecimento global pelo aumento no percentual do planeta afetado por calor extremo no verão nas últimas décadas. E a Organização Meteorológica Mundial, uma divisão da ONU, alertou recentemente que a mudança climática deverá “aumentar a frequência, intensidade e duração das secas, com impactos sobre muitos setores, em particular alimentos, água e energia”.

Os cientistas dizem que além do aumento das temperaturas, a mudança climática parece estar tornando a Índia e seus vizinhos, Paquistão, Sri Lanka e Bangladesh, mais vulneráveis a monções erráticas.

Estudos usando 130 anos de dados mostram grandes mudanças nas chuvas nas últimas décadas, disse B. N. Goswami, diretor do Instituto Indiano de Meteorologia Tropical, uma organização de pesquisa apoiada pelo governo. Os modelos climáticos sugerem que, apesar de as chuvas deverem aumentar as próximas décadas, a região pode esperar períodos de seca mais longos e chuvas mais intensas –forças que podem parecer anular uma à outra, mas que na verdade representam novas ameaças.

“As chuvas pesadas normalmente têm duração curta, portanto a água escoa”, disse Goswami, que acrescentou que mais pesquisa é necessária para uma compreensão plena do impacto da mudança climática nas monções. “Chuvas fracas são importantes para recarregar as águas subterrâneas.”

A Índia é mais vulnerável a perturbações por seca do que países como os Estados Unidos. Apesar de a agricultura representar apenas 15% da economia da Índia, metade de seus 1,2 bilhão de habitantes trabalha em fazendas, e muitos de seus cidadãos mais pobres já não conseguem comprar comida suficiente após aumentos de 10% ou mais nos últimos dois anos.
Kuni Takahashi/The New York TimesCrianças tomam banho de rio perto de dique no vilarejo de Vihamandwa, perto de Aurangabad, na Índia
“Fracassos como esses nas chuvas têm muitos efeitos humanos”, disse Yoginder K. Alagh, presidente do Instituto de Gestão Rural e um ex-ministro indiano. “Um grande número de pessoas não consegue emprego. Há problemas sérios de água potável.”

A produção de grãos e oleaginosos na Índia poderá cair até 12% neste ano em consequência da falta de chuvas, disse P. K. Joshi, diretor para Sul da Ásia do Instituto Internacional de Pesquisa de Políticas de Alimentos.

A boa notícia é que a seca provavelmente não resultará em grande fome. A Índia tem mais de 76 milhões de toneladas de trigo, arroz e outros grãos em estoque, em parte devido ao apoio do governo a esses produtos e uma proibição da exportação, implantada em 2008, quando os preços globais dos alimentos dispararam. Mas os analistas esperam que os preços dos derivados de leite, carne, lentilhas e hortifrutis também subam.

Diferente dos Estados Unidos, onde seguro para plantações e outros programas de governo fornecem uma rede de segurança aos agricultores, a Índia oferece apoio improvisado e imprevisível do governo, aumentando o risco de que legiões de agricultores sejam eliminadas. Se não chover em breve, Mukane, 25 anos, que trabalha em um campo aqui em Muruma, disse que terá que vender o que puder para pagar ao banco e credores 500 mil rupias (cerca de US$ 9 mil), grande parte desses empréstimos tomada a uma taxa de juros de 7% ao mês.

As fracas chuvas das monções também têm contribuído com apagões que deixaram sem energia elétrica metade do país em julho. A insuficiência de água reduziu a oferta de energia das hidrelétricas que são responsáveis por um quinto da capacidade de energia, ao mesmo tempo em que os consumidores ligam ventiladores e aparelhos de ar condicionado, e os agricultores ligam as bombas elétricas para extrair água dos poços.

Por todo o país, as chuvas estiveram aproximadamente 12% abaixo da média até 2 de setembro. Mas esse número geral não retrata a dor aguda em muitas partes do país. As chuvas aqui na região de Marathwada, no Estado de Maharashtra, diminuíram 36%. Em partes do norte e do oeste, a diminuição varia de 13% a 72%. Ao mesmo tempo, chuvas pesadas e enchentes deixaram dezenas de milhares desabrigados no Estado de Assam, no leste.

Especialistas dizem que o impacto das baixas chuvas nas monções é agravado pela má gestão. O ministro-chefe de Maharashtra, Prithviraj Chavan, disse recentemente que grande parte do US$ 1,5 bilhão por ano que o Estado gastou em projetos de água parece ter sido desperdiçada, com virtualmente nenhum aumento na quantidade de terras agrícolas irrigadas ao longo da última década.
Kuni Takahashi/The New York TimesHomem caminha em canal seco em Muruma, na Índia
Kiran Singh Pal, um engenheiro do governo que administra o sistema de irrigação na região, disse que sua manutenção é ruim, porque autoridades como ele não dispõem de dinheiro e pessoal suficiente. Ele também disse que muitos agricultores não recebem água do governo porque grande parte dela é represada por alguns poucos proprietários de terras poderosos.

“Nós dispomos de água suficiente para irrigar todos os campos”, disse Pal. “O problema é que não dispomos de nenhum controle.”

Mukane, o meeiro, e seus vizinhos disseram que seus problemas foram agravados por terem recebido menos água neste ano de um reservatório próximo, que está tão baixo que mal consegue fornecer água para beber para Aurangabad, uma cidade de 1,2 milhão de habitantes.

Autoridades federais e estaduais começaram a oferecer pequenas ajudas para as áreas mais atingidas, como forragem para o gado, diesel barato e sementes subsidiadas.

Mas Bhaurao Bhanudas Date, um agricultor de 48 anos de perto de Muruma, disse que o que ele mais precisa é de água. Ele disse esperar pouco ou nenhum retorno de suas plantações de cana-de-açúcar e algodão neste ano e que dependerá da renda obtida com a venda de forragem e leite de suas cinco vacas.

Mukane disse que seu pai foi recentemente ao templo para rezar por chuva, levando um pote de água do rio como oferenda. A família está particularmente ansiosa, porque a esposa de Mukane está esperando o primeiro filho do casal, e o governo geralmente oferece ajuda apenas aos proprietários de terras, não aos agricultores que as arrendam.

“Nós continuamos esperando, torcendo para que chova hoje”, ele disse em uma tarde recente, enquanto nuvens cobriam o céu. Cerca de 10 minutos depois, suas orações pareceram ter sido atendidas, quando uma leve garoa começou. Mas ela só durou alguns poucos minutos.

(Neha Thirani, em Mumbai (Índia), contribuiu com pesquisa.)
Tradutor: George El Khouri Andolfato


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