terça-feira, 18 de setembro de 2012

Um panorama do sistema universitário latino-americano


Um panorama do sistema universitário latino-americano

Os problemas da educação superior nos países da América Latina foram tema de debate realizado na Universidade de São Paulo (USP) durante simpósio internacional sobre a esquerda na América Latina. Críticas à privatização e precarização do ensino, assim como aos sistemas de seleção dos alunos e avaliação das universidades ganharam destaque nas falas dos integrantes da mesa.

São Paulo - Muitas comparações compuseram o quadro traçado sobre o ensino superior latino-americano no debate “Dilemas da universidade na América Latina”, parte do Simpósio Internacional A Esquerda na América Latina, realizado entre os dias 11 e 13 na Universidade de São Paulo (USP). A professora doutora da USP Gladys Beatriz Barreyro, por exemplo, mostrou as diferenças da taxa bruta de matrículas entre os países do continente: enquanto Brasil e México apresentam um índice em torno de 30%, Argentina e Venezuela possuem, respectivamente, 69% e 78%. Cuba, por sua vez, tem uma taxa de 118%.

Já Afrânio Catani, da Faculdade de Educação da USP (FE-USP), apontou que mais de 80% das vagas universitárias na Argentina estão no setor público gratuito, número que não chega a 20% no Brasil. No Chile e na Colômbia, todo o ensino superior é pago, mesmo nas instituições públicas – no entanto, as colombianas cobram de acordo com a renda familiar.

O professor João Flávio Moreira, também da FE-USP, fez uma comparação entre Brasil e Argentina. Segundo ele, entre 1999 e 2009, o avanço da privatização do ensino superior no primeiro foi mais acelerado do que no segundo. Enquanto o número de instituições privadas brasileiras aumentou 203,7%, no país vizinho esse índice ficou em 154,55% – quanto às públicas, o crescimento no Brasil foi de apenas 11,36%; na Argentina, foi de 54,48%. João Flávio chamou atenção ainda para o descolamento entre esse aumento do número de universidades públicas no Brasil e o crescimento de 131,20% da taxa de matrículas em tais instituições no mesmo período. Isso pode indicar, segundo Moreira, a precarização do trabalho dos professores, por causa do excessivo crescimento do número de alunos por sala de aula.

A complexidade da estruturação das instituições e a fragmentação dos servidores foram colocados em debate pelo vice-presidente da Associação de Docentes da USP (Adusp) César Minto, que destacou a ausência de uma cultura de planejamento estratégico e a carência de estrutura para as escolas de ensino básico do estado de São Paulo, que “não têm biblioteca, não têm laboratório, nem previsão de ter”.

O método de seleção de alunos para o ingresso nas instituições públicas foi uma das questões mais comentadas pelos presentes. Para o professor João Flávio, tal modelo passa uma “falsa ideia de meritocracia” e deve ser extinto para que ocorra a universalização do ensino superior.

O sistema de avaliação das instituições também foi colocado em xeque. César, citando a doutora em Educação Dirce Freitas, disse que “a sociedade brasileira desconhece qualquer balanço dos resultados obtidos [nessas avaliações]”. Gladys Beatriz Barreyro também colocou o sistema de avaliação em discussão, questionando o que seria mais importante para uma universidade: a pertinência de sua atuação social ou a colocação em um ranking? Encerrando o debate, Afrânio Catani indagou: “Como comparar o avanço das escolas? Será que [a evolução no ranking] não reflete a mudança dos alunos? Ou então diferenças nas provas?”.

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