terça-feira, 2 de outubro de 2012

Duas versões de San Pedro de Atacama


POSTED IN: AMÉRICA LATINA, DESTAQUES, MUNDO

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Viagem às belezas espantosas do deserto mais seco do planeta (e ao árduo trabalho que a indústria do turismo realiza para banalizá-las…)
Por Elaine Santana, editora da coluna Outras Américas
Sempre imaginamos que San Pedro de Atacama seria um lugar extremamente turístico. Cada um dos viajantes que conhecemos estava a caminho deste lugar.
Talvez, no entanto, não estivéssemos preparados para o que encontramos. Talvez tenham sido os dias passados em companhias agradáveis e despretensiosas em Huasco. Talvez sejamos nós, em nossa tentativa de vivenciar o autêntico e procurar experiências únicas que não tenham sido pré-empacotadas para nossa apreciação (e comodidade).
A região de San Pedro é impressionante e assistimos toda a imensidão inspiradora do lugar de queixo caído, coração palpitante e exclamações de admiração, mas para conseguir fugir dos pacotes pasteurizados das agências de turismo, tivemos que gastar um bom dinheiro.
No pequeno vilarejo, localizado no meio do mais seco deserto do mundo, éramos parados a cada dez passos por vendedores, todos prometendo uma experiência gloriosa e oferecendo o mesmo tipo de serviço do qual tentamos – quase desesperadamente – fugir.
Primeiro contratamos um tour para o Valle de la Luna para onde fomos em uma van com outros sete turistas e o guia. Este nos apresentava as paisagens locais da forma automatizada dos que fazem o mesmo trajeto repetidamente todos os dias: “E a sua direita, a cordilheira”. “E a sua esquerda, o vale dos dinossauros” (formações de terra e sal que mais pareciam empanadas do que dinossauros). Literalmente, descíamos do carro com tempo suficiente para tirar algumas fotos, e não para apreciar ou sentir o lugar. O guia nos dizia exatamente o que deveríamos ver e fotografar!
No último ponto do passeio, turistas – das várias vans que fazem o mesmo trajeto ao vale – formavam uma fila para posar para suas próprias câmeras, sob a orientação condicionada dos guias. Ninguém, além de nós dois, parecia perceber a comicidade trágica da cena: na presença de um lugar tão majestosamente bonito, a grande preocupação era tirar fotos de si mesmos: “Tira uma assim”, “agora outra”, “agora assim”, ouvíamos outros brasileiros pedindo aos guias ou a seus companheiros de viagem.
Voltamos a San Pedro fazendo cálculos de como ver o que queríamos sem gastar todo nosso orçamento e ainda assim, evitar os pacotes das agências. A solução foi alugar um veículo e dormir nele.
Em San Pedro só se alugam picapes, apesar de, como viemos a descobrir, a maioria dos lugares serem perfeitamente passíveis de visita em carros, ainda que os caminhos sejam de terra e algo tortuosos. No entanto, a máquina turística está tão organizada para tirar mais e mais dinheiro de quem visita a região que a única solução que encontramos, sem sair de San Pedro para voltar depois, foi fazer deixar o albergue, dormir e cozinhar no carro.
E foi assim que pudemos conhecer e apreciar as lagoas altiplânicas de Meñique e Miscanti, formadas ao lado dos vulcões de mesmo nome, os geysers del Tatio, o Salar do Atacama por estradas alternativas, a lagoa de Chaxar, os povoados de Machuca, Toconao, Socaire, Guatin, Rio Grande e outros tantos lugares.
Quem tem fôlego de esportista profissional e não sofre – como eu – de mal da montanha (falta de ar, enxaquecas terríveis e vômitos), pode alugar uma bicicleta e conhecer a região pedalando. A pé e ‘haciendo dedo‘, conhecemos Pukará de Quitor, um sítio arqueológico pré colombiano construído por atacamenhos que fica a 3 quilômetros do vilarejo de San Pedro.
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