quarta-feira, 14 de março de 2012

QUARTA MENSAGEM DE JERONIMO DE SOUZA MONTEIRO-1911 DEPARTAMENTO DE AGRICULTURA, TERRAS E OBRAS.




Prosseguem com regularidade os serviços deste departamento, por certo, um dos mais amplos da administração.
Num período de trabalho tão intenso, como o que se passa entre nós, é sobre o departamento de Agricultura, Terras e Obras, que recai e deve forçosamente recair o maior números de obrigações, reclamando atividade constante e diligências prontas e imediatas. A prática vai demonstrando que se torna preciso dar ao respectivo diretor, auxiliares que possam cuidar especialmente de cada uma das seções dos serviços que lhe estão afetos. Deste modo, poder-se-á conseguir facilmente metodizar mais os trabalhos e aperfeiçoar o pessoal pela especialização das funções.
Esta medida pode ser executada sem aumento da despesa, se para a nova organização forem aproveitadas as diversas cotas de fiscalização consignadas nos diferentes contratos firmados pelo Estado.
Trazendo aos srs. Deputados essa lembrança, só tenho em vista favorecer a boa marcha dos negócios públicos.
Procuro manter a mesma orientação traçada de princípio, sobre o serviço de agricultura. Na fazenda modelo Sapucaia, depois de várias experiências sobre a cultura do trigo, aveias, centeio, batatas, cereais em geral, e alfafa, colhendo em todas os melhores resultados, apesar de serem feitas em terras cansadas e muito baixas- a menor de dois metros acima do nível do mar – pudemos, este ano, iniciar com excelente e admirável sucesso a cultura do arroz em área de terreno, convenientemente preparado e com os precisos diques, canalizando para ele a água suficiente, com o fim de proceder a irrigação por inundação.
Os resultados obtidos não poderiam ser melhores, quem em qualidade, quer em quantidade. Mais do que qualquer informações poderão atestar o bom êxito desses trabalhos os quadros que consigno a seguir:
ESPECIFICAÇÃO
Área cultivada – 4,84 hectares. Quantidade de sementes- 222 litros. Levantamento de diques e nivelamento do terreno - 2:253$244. Plantio, cuidados durante a vegetação, colheita, ensacamento e despesas de embarque - 730$671. Produção total - 336 sacas. Renda bruta do produto - 3:363$000. Nota – o arroz foi vendido em casca a 10$000 por saco.
Não tem sido indiferentes a esses trabalhosos nosso lavradores que visitam frequentemente a fazenda Sapucaia, utilizando-se para este fim, dos passes que lhe fornece o governo nas estradas de ferro.
Nessas visitas ordinariamente os lavradores verificam a simplicidade dos aparelhos agrários, a facilidade e grandes vantagens do seu uso e os adquirem para aplicá-los nas suas lavouras.
Essa aquisição é feita em condições especiais. São vendidos os instrumentos pelo custo, e, aos lavradores, que não querem ou não podem paga-los no momento da compra, é concedido um prazo para esse efeito.
Até o presente, tem visitado a fazenda Sapucaia 313 pessoas, sendo destas 209 lavradores. O Governo tem fornecido já 44 instrumentos agrários até o momento.
Sempre que há solicitação da presença do mestre de cultura em alguma propriedade particular para dar instrução sobre agricultura, tem sido com solicitude atendida, e assim já foram satisfeitos diversos lavradores.
A pedido do Sr. Dr. Inspetor agrícola, neste Estado, fiz seguir para Cachoeiro de Itapemirim, em dias do mês de agosto último, um dos mestre da cultura da fazenda Sapucaia, afim de, em um dos bairros daquela cidade, fundar um campo de experiência, onde os lavradores do sul do Estado, possam mais facilmente obterem conhecimentos práticos de lavrar a terra, pelo sistema moderno e econômico.
Ainda no intuito de servir aos lavradores, mantenho no jornal oficial a seção especial destinada à publicação de assuntos agrícolas e de informações e dados, que possam ser úteis.
Excuto com pontualidade as disposições da lei 580, de 7 de dezembro de 1908 e até está data tem sido conferidos e distribuídos 23 prêmios, sendo 16 em dinheiro, no valor de 14:800$000, e 7 em animais reprodutores. Devo acrescentar que tenha grande facilidade em conceder prêmios, por motivos de trabalhos agrícolas. Desde que o pretendente, de boa fé, satisfazendo os requisitos substanciais da lei, dá prova do seu esforço, da sua dedicação ao trabalho; dá mostras de sua iniciativa e de que procura introduzir os modernos de produzir o máximo com o mínimo de dispêndio, confiro-lhe o premio, ainda que não tenha atingido precisamente ao limite determinado pela lei para a produção e exportação. Assim procedo, porque estou convencido de que o espírito do legislador, instituindo prêmio em benefício dos lavradores, foi exatamente acoroçoar, estimular, animar a iniciativa particular e despertar, nessa grande classe, o interesse pelo uso de processos fáceis, cômodos e rendosos, de arar e cultivar a terra.
Para atender aos pedidos de prêmios  de animais e para iniciar a industria pecuária, mandei vir para a fazenda modelo Sapucaia 23 animais de raça, dos já aclimatados em nosso país. Destes, ali ainda existem 16, que destino a indústria da pecuária. Acredito que na mesma fazenda Sapucaia poderemos manter aliados os dois serviços, da agricultura e da pecuária, sem as despesas extraordinárias de instalações e custeio especiais.
Para esse fim já estão construídos os estábulos e preparados os pastos, e, dentro em breve, estará também levantado o silo para a conservação das forragens.
A introdução de reprodutores no Estado, tenho insistentemente preferido animais já aclimatados no País, para evitar os prejuízos enormes que resultam da importação de animais acostumados a climas muito diferentes e a tratamento que nossos criadores ainda não poder dar. Devemos, em todas as fases do nosso desenvolvimento, procurar acompanhar a ordem natural das coisas, pois que a experiência bem nos ensina que a investigação dessa é sempre de conseqüência fatal.
Depois que os nossos criadores se tiverem aparelhado para receber os reprodutores de climas diferentes e dar-lhes tratamento e clima igual ou aproximado ao que tinham, sem risco de perdê-los, deve o governo promover a importação destes e distribuir pelos que solicitarem.
O aprendizado agrícola a ser fundado na fazenda Sapucaia não está ainda definitivamente instalado, apesar de já construída a casa para esse fim e nela se acharem dez aprendizes. Espero que os srs. Deputados consignem para o mesmo a necessária verba, e autorizem o executivo a fundar o instituto.
As despesas feitas com a fazenda modelo Sapucaia desde sua fundação até o presente não excedem de 134:721$233. 
Continua sob a administração direta do governo a fazenda Santo Antonio, cuja administração dificulta qualquer trabalho que se pretenda ali desenvolver. Com mais demora, depois facilitados os meios de comunicação, poderá ter ela aplicação para culturas diversas e para criação.
A venda e a legitimação das terras continuam a ser feitas com regularidade.
Devido a antigas invasões a terras particulares do Sr. José Beiriz, foi o governo do meu venerando antecessor obrigado a adquirir grande área, no município de Piuma.
O mesmo fato se verificou com o governo atual, que se viu forçado a adquirir do Sr. Coronel Francisco Pinheiro da Silva17 1-2 alqueires e do Sr. Conselheiro Coelho Rodrigues duas sesmarias de terras invadidas por particulares. As simples invasões não forçariam a aquisição, se os engenheiros, chefes dos respectivos distritos, recusassem processar todos os papeis que tivessem referencia a terras dos particulares. Entretanto, verifica-se exatamente o contrário. Os requerimentos dos invasores são processados, vem com pareceres favoráveis dos engenheiros dos distritos e o governo, baseando-se nesses documentos fornecidos por seus delegados, nos quais confia, faz expedir os títulos definitivos de terras que lhes não pertencem.
Em tais circunstancias, parece que não cabe ao governo outro procedimento senão sustentar o seu ato, fazendo válido o título expedido, o que só é possível pela compra das terras. Estes fatos vêm se reproduzindo desde longa data. Entre as concessões de terras particulares há muitas feitas em 1892, 1893 e 1896.

Nenhum comentário:

Postar um comentário