Áustria
O copo de água gratuito dos cafés de Viena corre o risco de passar a ser pago
24.07.2012 - 12:53 Por Maria João Guimarães
Bandeja, café e copo de água, a tradição de Viena (DR)
Bandeja, café e copo de água, a tradição de Viena (DR)
Em Viena, há várias coisas que são tradicionais na cultura do café. Este chega numa pequena bandeja prateada, acompanhado de um copo com água que traz uma colher em equilíbrio precário. Os clientes podem ficar sentados a tarde toda, a ler os jornais ou a conversar. E o copo de água é gratuito. Mas uma campanha para chamar a atenção para a falta de água na Serra Leoa está a ser vista por muitos como um modo de quebrar a tradição do copo de água gratuito, e de este começar a ter um preço.
Para já, o pagamento do copo de água é voluntário, com 11 cafetarias a fazerem parte da iniciativa que pretende obter verbas para a Serra Leoa. Mas os estabelecimentos comerciais ficam, eles próprios, com metade da quantia cobrada pela água (2 euros por litro), e, ao mesmo tempo, um grupo de importantes empresários da restauração começou uma campanha de lobbying por um preço obrigatório para os copos de água da torneira servidos nos cafés.
Estes dizem que esta campanha não está de modo algum relacionada com a campanha para a Serra Leoa. Mas poucos vienenses acreditam que se trate de uma coincidência.
A questão levou já à intervenção do responsável pelo turismo, que pediu o fim da campanha pela Serra Leoa, não hesitando em a descrever como "uma tentativa de algumas pessoas reduzirem o serviço, usando a desculpa de uma acção de caridade". Mais: "A boa reputação do "destino Viena" está comprometida", disse ainda, descrevendo o copo de água grátis como "um serviço tradicional na gastronomia" da capital. A capital ganha 16 mil milhões de euros anuais com o turismo.
Mas Brent Quernfeld, que gere vários cafés vienenses, diz que as tradições não deviam ser imutáveis porque as circunstâncias também mudam. "As pessoas costumavam beber quatro canecas de cerveja. Hoje bebem três e um copo de água", queixou-se. "A água é grátis, mas não sei se continuará a sê-lo durante muito tempo."
Quernfeld diz ainda que há um custo do material e trabalho envolvido no copo de água, de que os clientes não se apercebem. Numa sondagem recente do diário austríaco Kurier, cerca de dois terços dos inquiridos disseram ser contra o fim do copo de água gratuito.
Em poucos países da União Europeia se cobra o copo de água que se pede nos cafés ou restaurantes. Em Portugal, a notícia de que um café de Faro estava a cobrar 50 cêntimos por um copo de água da torneira causou polémica. A acção é legal, desde que o preço a cobrar esteja afixado no estabelecimento.
A cultura dos cafés em Viena, que vem do século XVII depois dos turcos terem feito chegar o café à cidade, implica "mesa de mármore, candeeiros, espelhos, painéis de madeira, montra, um relógio que tem de estar visível de todas as partes do café, e o café tem de ser servido numa pequena bandeja com um copo de água". Mais: "A colher está em cima do copo", diz Maximilian Platzer, dono e gerente de outro café vienense. "E é assim que tem de ser num café de Viena". Isso, e o saber que se é bem-vindo para passar lá o tempo que se quiser.
O fim do copo de água gratuito, da água que vem das nascentes dos Alpes, sem ajuda de motores eléctricos, até à cidade, seria o fim de algo essencial para os vienenses. Quando a UNESCO incluiu, no final de 2011, a cultura dos cafés de Viena na lista de património imaterial mundial, descreveu os cafés da capital austríaca como locais "onde o tempo e o espaço são consumidos, mas apenas o café está na conta".
Estes dizem que esta campanha não está de modo algum relacionada com a campanha para a Serra Leoa. Mas poucos vienenses acreditam que se trate de uma coincidência.
A questão levou já à intervenção do responsável pelo turismo, que pediu o fim da campanha pela Serra Leoa, não hesitando em a descrever como "uma tentativa de algumas pessoas reduzirem o serviço, usando a desculpa de uma acção de caridade". Mais: "A boa reputação do "destino Viena" está comprometida", disse ainda, descrevendo o copo de água grátis como "um serviço tradicional na gastronomia" da capital. A capital ganha 16 mil milhões de euros anuais com o turismo.
Mas Brent Quernfeld, que gere vários cafés vienenses, diz que as tradições não deviam ser imutáveis porque as circunstâncias também mudam. "As pessoas costumavam beber quatro canecas de cerveja. Hoje bebem três e um copo de água", queixou-se. "A água é grátis, mas não sei se continuará a sê-lo durante muito tempo."
Quernfeld diz ainda que há um custo do material e trabalho envolvido no copo de água, de que os clientes não se apercebem. Numa sondagem recente do diário austríaco Kurier, cerca de dois terços dos inquiridos disseram ser contra o fim do copo de água gratuito.
Em poucos países da União Europeia se cobra o copo de água que se pede nos cafés ou restaurantes. Em Portugal, a notícia de que um café de Faro estava a cobrar 50 cêntimos por um copo de água da torneira causou polémica. A acção é legal, desde que o preço a cobrar esteja afixado no estabelecimento.
A cultura dos cafés em Viena, que vem do século XVII depois dos turcos terem feito chegar o café à cidade, implica "mesa de mármore, candeeiros, espelhos, painéis de madeira, montra, um relógio que tem de estar visível de todas as partes do café, e o café tem de ser servido numa pequena bandeja com um copo de água". Mais: "A colher está em cima do copo", diz Maximilian Platzer, dono e gerente de outro café vienense. "E é assim que tem de ser num café de Viena". Isso, e o saber que se é bem-vindo para passar lá o tempo que se quiser.
O fim do copo de água gratuito, da água que vem das nascentes dos Alpes, sem ajuda de motores eléctricos, até à cidade, seria o fim de algo essencial para os vienenses. Quando a UNESCO incluiu, no final de 2011, a cultura dos cafés de Viena na lista de património imaterial mundial, descreveu os cafés da capital austríaca como locais "onde o tempo e o espaço são consumidos, mas apenas o café está na conta".
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