Com células de coração de rato e um pouco de silicone, cientistas criam organismo muito semelhante a uma água-viva
Por Daniela Frabasile
Um grupo de cientistas norte-americanos anunciou nesta segunda-feira ter criado algo que pareceria fantástico, há poucos anos: uma água-viva artificial, “construída” a partir de células do coração de um rato e de um pouco de borracha de silicone. A “máquina”, nomeada medusóide, imita o modo com que uma água-viva bebê nada, contraindo seu corpo sintético e gerando impulso. Está sendo chamada, por alguns, de o primeiro ciborgue – um organismo cibernético [cybernetic organism], que combina partes biológicas e robóticas, e foi previsto pela ficção científica em 1960.
Mas os pesquisadores, do California Institute of Technology e da Harvard University, não fizeram esse experimento apenas por curiosidade ou para demonstrar os poderes da ciência. A partir dos conhecimentos adquiridos para “produzir” um organismo simples de bombeamento de fluidos – como uma água-viva – eles querem avançar para mecanismos muito mais complexos, como o coração humano.
Segundo Kevin Kit Parker, bioengenheiro da Universidade de Harvard, em entrevista a LiveScience, “A ideia é olhar para uma bomba muscular diferente do coração ou outro órgão muscular para ver se existem similaridades fundamentais, ou princípios de funcionamento, que se repetem”.
Para imitar o movimento da água-viva, foi necessário fazer um mapeamento das células. Ele revelou que o organismo é formado por uma única camada de músculos, com fibras alinhadas ao redor de um anel central e com oito raios, estruturas como braços.
Seu movimento realiza-se por impulsos elétricos, que se espalham pelo músculo como uma onda. “É exatamente o que vemos no coração. Minha aposta é que, para conseguir uma bomba muscular, a atividade elétrica tem que se espalhar como uma onda”, continua Parker. Então os cientistas copiaram a forma da água-viva, com borracha de silicone, e revestiram um dos lados dessa estrutura com células vivas retiradas de coração de ratos.
Para fazer o medusóide nadar, colocaram-no em um composto condutor de eletricidade e pulsaram uma corrente elétrica. As células cardíacas do rato contraíram-se e relaxaram. Cada contração impulsiona o minúsculo aparato para frente. Quando as células cardíacas relaxam, o corpo de silicone volta a seu formato original.
Foram quatro anos para construir o medusóide, uma estrutura muito simples. Os cientistas já trabalham para criar uma criatura marinha artificial mais complexa que a água-viva. Agora, a equipe planeja construir um medusóide com células cardíacas humanas. Segundo Parker, um de seus usos mais imediatos é o de plataforma para testes de medicamentos, na qual será possível analisar, sem riscos, se novas drogas melhoram o bombeamento de sangue pelo coração.
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