segunda-feira, 17 de setembro de 2012

AGROTURISMO - A VIDA RURAL COMO ATRAÇÃO


 Entrevista com o italiano Roberto Tessari, inspirador do  Agroturismo capixaba pela jornalista Linda Kogure, Jornal A Gazeta de 02-02-1994.

- O que o senhor está achando do agroturismo capixaba?
-               A essência já existe e a semente foi plantada. Talvez não se tenha ainda consciência do trabalho que está sendo feito. Ë muito importante a união comunitária que existe em Venda Nova do Imigrante e a preservação das suas raízes culturais. Isso é fundamental para o agroturismo.
-               - O que falta para incrementar ainda mais?
-               Falta a capacidade de planejar o que pode ser feito. Talvez a percepção do que pode ser o agroturismo tenha sido limitada. Passaram a produzir produtos típicos  e vendê-los. O agroturismo também é isso, mas não só. Tem que ir além. E dar hospedagem, alimentação o, sobretudo, oferecer atrações que explorem o ambiente, como passeios a cavalo. É valorizar a vida rural, que se torna a principal atração do turista. No Espírito Santo falta fazer um cadastramento de todos aqueles que, conscientemente ou inconscientemente, estão fazendo agroturismo. E isso é válido para todo Brasil, porque o cliente do agroturismo é muito móvel, Na Itália, por exemplo, o turista que conhece uma fazenda, acaba gostando e percorrendo várias regiões. O segredo do agroturismo é que um produtor é diferente do outro. Não existe um modelo.  É como os salgadinhos. Você começa comendo um e quer provar os outros. No agroturismo, a união entre os produtores fortalece o setor.
-               Como pode um produtor se aperfeiçoar no agroturismo?
-               É preciso continuar sendo agricultor, mas com outra ótica. Não é só abastecer o mercado. É preciso valorizar a propriedade, cuidar do meio ambiente. O cliente vem na minha terra para poder descansar, comer os produtos típicos, ter os serviços ambientais. Mas é necessário oferecer bens e serviços imateriais: a história da gente, a sabedoria, a relação humana do campo.  É preciso que as lideranças do Agrotur estimulem os produtores a repassarem aos visitantes, os valores. O agroturismo pode ser feito de maneiras diferentes. O importante é pensar que o objetivo é manter a relação direta com o cliente e, o fundamental, é que o cliente vá até a propriedade.
-               E se os produtores não conseguirem dar hospedagem?
-               Faz massas e biscoitos, então, pode-se promover a degustação destes produtos na propriedade. O meu medo é que as pessoas especializem nos produtos típicos, percam a visão do agroturismo e se tornem produtores artesanais. Isso é bom, porém, não é agroturismo. Porque a filosofia pode-se perder. As pessoas sempre tendem a gostar mais dos produtos que não são anônimos, que tem um rosto por trás.
-               Qual a diferença entre agroturismo e turismo rural?
-               O suporte do agroturismo é a propriedade, a terra. O turismo rural funcional através de uma empresa (operadora), que organiza os serviços de hospedagem, alimentação e ambiente. Não existe a ligação direta com o produtor. Fazer agroturismo significa fazer agricultura.  A diferença da agricultura tradicional é que o agricultor organiza terra, capital e trabalho, os fatores de produção, para produzir para um mercado. O agroturismo também utiliza capital, terra e trabalho, mas o mercado vem até ele. Assim, o agricultor vai se organizando como empresa, sem intermediários, se relacionando direto com o cliente.

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