Entrevista com o italiano Roberto Tessari, inspirador do Agroturismo capixaba pela jornalista Linda Kogure, Jornal A Gazeta de 02-02-1994.
- O
que o senhor está achando do agroturismo capixaba?
-
A
essência já existe e a semente foi plantada. Talvez não se tenha ainda
consciência do trabalho que está sendo feito. Ë muito importante a união
comunitária que existe em Venda Nova do Imigrante e a preservação das suas
raízes culturais. Isso é fundamental para o agroturismo.
-
- O que falta para incrementar ainda mais?
-
Falta a
capacidade de planejar o que pode ser feito. Talvez a percepção do que pode ser
o agroturismo tenha sido limitada. Passaram a produzir produtos típicos e vendê-los. O agroturismo também é isso, mas
não só. Tem que ir além. E dar hospedagem, alimentação o, sobretudo, oferecer
atrações que explorem o ambiente, como passeios a cavalo. É valorizar a vida
rural, que se torna a principal atração do turista. No Espírito Santo falta
fazer um cadastramento de todos aqueles que, conscientemente ou
inconscientemente, estão fazendo agroturismo. E isso é válido para todo Brasil,
porque o cliente do agroturismo é muito móvel, Na Itália, por exemplo, o
turista que conhece uma fazenda, acaba gostando e percorrendo várias regiões. O
segredo do agroturismo é que um produtor é diferente do outro. Não existe um
modelo. É como os salgadinhos. Você
começa comendo um e quer provar os outros. No agroturismo, a união entre os
produtores fortalece o setor.
-
Como pode um produtor se aperfeiçoar no agroturismo?
-
É
preciso continuar sendo agricultor, mas com outra ótica. Não é só abastecer o
mercado. É preciso valorizar a propriedade, cuidar do meio ambiente. O cliente
vem na minha terra para poder descansar, comer os produtos típicos, ter os
serviços ambientais. Mas é necessário oferecer bens e serviços imateriais: a
história da gente, a sabedoria, a relação humana do campo. É preciso que as lideranças do Agrotur
estimulem os produtores a repassarem aos visitantes, os valores. O agroturismo
pode ser feito de maneiras diferentes. O importante é pensar que o objetivo é
manter a relação direta com o cliente e, o fundamental, é que o cliente vá até
a propriedade.
-
E se os produtores não conseguirem dar
hospedagem?
-
Faz massas
e biscoitos, então, pode-se promover a degustação destes produtos na
propriedade. O meu medo é que as pessoas especializem nos produtos típicos,
percam a visão do agroturismo e se tornem produtores artesanais. Isso é bom,
porém, não é agroturismo. Porque a filosofia pode-se perder. As pessoas sempre
tendem a gostar mais dos produtos que não são anônimos, que tem um rosto por
trás.
-
Qual a diferença entre agroturismo e turismo
rural?
-
O
suporte do agroturismo é a propriedade, a terra. O turismo rural funcional
através de uma empresa (operadora), que organiza os serviços de hospedagem,
alimentação e ambiente. Não existe a ligação direta com o produtor. Fazer
agroturismo significa fazer agricultura.
A diferença da agricultura tradicional é que o agricultor organiza
terra, capital e trabalho, os fatores de produção, para produzir para um
mercado. O agroturismo também utiliza capital, terra e trabalho, mas o mercado
vem até ele. Assim, o agricultor vai se organizando como empresa, sem
intermediários, se relacionando direto com o cliente.
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