terça-feira, 25 de setembro de 2012

Cafeterias cobram 13 vezes mais do que gastam com a matéria-prima



Apesar dos preços, o consumo de café é alto
Febre nos shoppings de Salvador, as cafeterias aproveitam a moda para superfaturar no valor dos cafés, chegando a arrecadar 13 vezes mais do que o valor de custo do quilo da matéria-prima.

Os grãos oferecidos no café gourmet, considerados top de linha, saem das distribuidoras a cerca de R$ 40 o quilo, que corresponde a aproximadamente 110 xícaras.
Vendidos em média ao consumidor final a R$ 5, o lucro dessas boutiques chega a porcentagens exorbitantes. Com o investimento em um quilo de café especial, as lojas especializadas arrecadam por volta de R$ 550. Mesmo com as distorções nos preços o consumo da bebida é alto, responsável pelo crescimento das cafeterias na cidade, com clientela garantida.

O produto utilizado no preparo da média oferecida nas cafeterias é diferente do material vendido nos grandes supermercados, principalmente nos fatores pureza, preço e sabor. O preço do produto top de linha chega a custar dez vezes mais do que o café comum, mas ainda assim, a diferença de valores cobrados nos cafés gourmet não justifica a distorção de preços. De acordo com Fernando Oliveira, gerente comercial da Agricafé, empresa que trabalha com comercialização, exportação e consultoria de café, um quilo do produto de grãos diferenciados custa de R$ 25 a 35 os mais comuns, R$ 55 o orgânico e em média R$ 40 aqueles que apresentam certificados de origem.

Segundo Fernando, cada quilo de café chega a render de 100 a 110 xícaras de expresso. Com um cálculo simples é possível perceber a diferença entre o valor cobrado no produto final, a média, e o gasto tido pelas cafeterias com o material. Com a venda de 100 expressos a R$ 5, o que correspondente ao gasto de um quilo de café, o estabelecimento arrecada R$ 500, gastando em média R$ 50 com a matéria-prima.

Embora a diferença seja grande, o gerente comercial pondera que os gastos das cafeterias não se resumem à compra do café. “Geralmente estes estabelecimentos ficam localizados em lugares de alto padrão, então há muito gasto com pessoal, aluguel, sem contar os outros o ingredientes necessários no preparo do produto”, lembrou Fernando. Essa foi a justificativa do maitre do Pereira Café, localizado na Alameda das grifes do shopping Iguatemi, para explicar a cobrança de R$ 5,40 pela xícara média de café expresso no local. “Nossa folha de pagamento é muito alta com o aluguel de espaço e a contratação de pessoas preparadas”, afirmou o maitre.

No Lucca cafés especiais, cafeteria instalada no Salvador Shopping, o valor da xícara pequena de café expresso chega a custar R$ 9,90, a depender da origem do produto. A gerente e barista do estabelecimento, Alessandra Portela, assume que o valor é o mais alto do shopping, mas garante que o material utilizado no preparo das bebidas é diferenciado. “Aqui o cliente pode optar por alguma das 27 opções de drinks preparados com café, além de escolher o tipo e a origem do grão”, informou Alessandra.
Segundo ela, o Lucca trabalha com sete tipos de grãos que se diferenciam pelo aroma, sabor, forma de plantio, colheita e origem. A gerente admite que os valores também são cobrados baseados no público de cafeterias, que geralmente pertence a classe A.


O fenômeno "efeito renda"
Para o economista Paulo Dantas da Costa, membro do Conselho Federal de Economia, o alto valor dos cafezinhos expressos é resultado de um fenômeno chamado pelos especialistas de “efeito renda”. Segundo ele, o valor exorbitante do cafezinho não é resultado apenas dos gastos dos estabelecimentos ou com o preço do produto bruto.

Para ele, os vendedores superdimensionam o valor por que tem a garantia de saída. “Isso acontece muito com produtos especiais. As pessoas acham que porque estão consumindo um produto diferenciado devem pagar mais caro e até procuram. O estabelecimento, por sua vez, tem a garantia de saída por vender para o público que tem potencial de compra.”, explicou.
“Um fenômeno parecido acontece com as cervejas especiais. Existem marcas que chegam a custar R$ 500, mas o gasto da produção é mínimo”, continuou o economista.

Seja qual for o motivo da supervalorização dos cafezinhos, uma saída para os amantes da bebida é adquirir o quilo dos grãos ou já torrado. Em Salvador, algumas cafeterias revendem o produto bruto ao público. O médico Rafael Campos Hermida, consumidor de café e assíduo frequentador dos pontos especializados de venda do produto, acredita que o atendimento e a variedade encontrada nas cafeterias tradicionais justificam o preço elevado dos itens. “Pelo menos duas vezes por semana encontro amigos numa cafeteria. Geralmente são lugares tranquilos, sem muita gente, atendimento rápido e ainda encontro café de qualidade”. 
Tribuna da Bahia

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