O inimigo interno, cuja derrota foi crucial para a realização da atual economia capitalista mundial, não era outro senão o trabalho organizado.
Cristina Portella
Cristina Portella
“Intelectuais orgânicos”
Esta forma de encarar a ideologia neoliberal e os seus ideólogos faz parte de uma nova linha de investigação inspirada pelas palestras de Foucault no Collège de France durante 1978-1979.
Para recordar, Mont Pelerin Society é o nome da organização internacional fundada em 1947 por expoentes do liberalismo econômico, então na defensiva diante do projeto de reconstrução da Europa no pós-Segunda Guerra Mundial, do qual surgiria o tão combatido – pelos neoliberais - “estado social”.
Quem é o “inimigo interno”
Para implementar o seu “ambicioso projeto de engenharia social” os neoliberais teriam de derrotar previamente o tal “inimigo interno”, numa expressão cunhada pela ex-primeira-ministra britânica Margaret Thatcher, nada mais nada menos do que a classe trabalhadora de cada país. Particularmente o seu setor mais avançado.
“O 'inimigo interno', cuja derrota foi estrategicamente crucial para a realização da atual economia capitalista mundial, não era outro senão o trabalho organizado e a sua capacidade para se opor à reestruturação capitalista e ao aumento da exploração, atuando como um elemento rígido contra um padrão cada vez mais flexível de acumulação de capital”, sintetizou Noronha.
A luta dos mineiros
No caso de Thatcher, os inimigos eram os mineiros, uma classe profissional que já infernizara a vida de dois ex-primeiros-ministros, o conservador Edward Heath e o trabalhista James Callaghan. Com a sua grande capacidade de mobilização e uma tática até então infalível de piquetes de greve que iam num crescendo até paralisar toda a categoria, os mineiros britânicos conseguiram impedir, nos anos 1970, a aplicação de um plano de redução salarial e cortes nos gastos públicos.
O braço de ferro entre Thatcher e os mineiros durou um ano. Entre 1984 e 1985, os mineiros cruzaram os braços, enfrentaram uma repressão policial que levou 11 mil grevistas para a cadeia, mas acabaram por perder a batalha. A partir daí, ao derrotar o setor mais organizado e forte da classe trabalhadora inglesa, o governo conservador conseguira o sinal verde para implementar a desregulamentação das relações laborais, reduzir direitos e rebaixar salários.
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